quarta-feira, maio 05, 2010

E se... talvez.


Pensando bem e olhando de relance para o mundo em que vivemos fica a dúvida sobre para que raio de merda serve afinal a escola. Não falo apenas do falhanço na transmissão de conhecimentos que referi no post anterior. Falo da escola em si, enquanto lugar de aprendizagem.

Num mundo tão avassaladoramente mediatizado como o nosso, essa transmissão de conhecimento está dispersa. A Wikipédia é uma espécie de escola e serve às mil maravilhas as aspirações de rápida resolução de problemas dos jovens, ansiosos por se libertarem dos enfadonhos deveres do trabalho escolar. Tão rápido e fácil quanto simples e superficial.

Talvez tenha sido sempre assim. Talvez tenhamos procurado durante séculos uma fórmula que permitisse o conhecimento instantâneo e o tivéssemos descoberto agora, com este mundo virtual onde nos encontramos. Resolvemos o problema mas a solução não parece particularmente elegante. Talvez a evolução social contemporânea implique esta espécie de boçalidade intelectual. Terá sido sempre assim? Não terei eu parecido um labrego selvagem aos olhos dos meus professores? Temo bem que assim tenha sido.

A escola está a tornar-se obsoleta? Os miúdos consideram-na um excelente local de socialização mas uma tremenda seca enquanto local de aprendizagem. Talvez tenham razão.

Criámos um mundo em que o divertimento e o lazer são as aspirações máximas dos seres humanos. Trabalhar árduamente para alcançar objectivos determinados está a perder glamour. Quem trabalha são os otários. Os cidadãos com maior sucesso são aqueles que levam uma vida despreocupada com volumosos rendimentos, não sendo muito importante a sua origem. A vigarice e a ladroagem são toleradas se tiverem sido cometidas por uma boa razão. O enriquecimento rápido e sem limites é, aos olhos da maioria, uma boa razão. Contra isso a escola não tem argumentos eficazes. A ética e a moral são coisas próprias de utopias modernistas. Este mundo é pós-moderno.

Aliás, como sabemos, o exemplo vem de cima. Somos diáriamente confrontados com o despudor dos poderosos e daqueles que nos governam. Os negócios fraudulentos, a ineficácia dos sistemas de justiça, tudo nos mostra que o problema não está na escola. Afinal esses ladrões que agora nos governam foram nossos colegas, frequentaram as mesmas escolas que nós, aprenderam pelos mesmos livros. E qual é o resultado? Este mundo de merda em que vivemos, incapazes de cumprir as tais utopias democráticas que ganharam forma de contorno em meados do século anterior.

Resumindo e concluindo: o problema principal reside na fraca qualidade dos materiais com que deus construiu o ser humano. O futuro só será prometedor se não for mais do que uma refinada mentira. Sobra o presente.

4 comentários:

Anónimo disse...

Texto com muitos aspectos para ser discutido, e muitas oportunidades para reflexões! Não sou pessimista quanto ao futuro, pelo contrário, acredito que todas essas transformações estão acontecendo para um futuro melhor! Será diferente, mas melhor! Mais superficial? Certamente! Com o número da população mundial crescendo, e o nível de escolaridade e padrão de vida, idem, é certo que a superficialidade será maior!
Mas essa é outra história!
Tive um amigo que certa vez me mandou um cartão postal de Paris dizendo:
" Só trabalha quem não sabe fazer nada melhor". Não sei por que seu texto me fez lembrar disso agora!

Silvares disse...

É, um blogue nem sempre permite discorrer sobre os assuntos com a profundidade que se pretenderia. Ficava muito chato, com posts demasiado compridões.
Pessoalmente confesso que não sei fazer mesmo nada que seja melhor do que trabalhar.
:-D

Tiago Alves disse...

Este post lembrou-me um outro:

http://www100cabecas.blogspot.com/2009/05/mudam-se-os-tempos-mantem-se-as.html

the dear Zé disse...

Vai trabalhar malandro!