Um vulcão com um nome impossível de pronunciar acaba de protagonizar uma autêntica acção terrorista com prejuízos avultados para as economias europeias em geral e para as companhias de aviação em particular.
Foi no sul da Islândia (que é como quem diz: no extremo norte da mítica Europa) que o planeta voltou a vomitar. Desta vez uma tremendíssima nuvem de cinza que ensombra o Velho Continente, a fazer lembrar um espectro de outras épocas, esse despertado pela ira das classes trabalhadoras perante a emergente gula do monstro capitalista... mas isso é outra história pois vem nas páginas dos livros de História. Não foi fenómeno natural apesar de ter sido resultado de um muito compreensível reflexo animal.
Ainda aqui há uns meses atrás a Islândia tinha deixado o mundo de queixo caído por termos visto a sua Economia, essa adulada deusa contemporânea, a mostrar um corpo disforme e frágil, repleto de chagas e pústulas fedorentas, quando as célebres agências de rating nos asseguravam tratar-se de uma moçoila formosa, de rijas tranças loiras e rosadas carnes firmes fosse nos pés ou fosse na cabeça. Uma coisa boa e confiável. Mera ilusão de óptica e cegueira capitalista, como se veio a perceber.
Desta vez a gelada Islândia vomitou com desprezo para os céus uma muito compreensível nuvem de indignação, a mostrar que o planeta se está a cagar para os bichitos saltitantes que puluam no seu dorso. A cinza cuspida pelo Eiafialaiocul (a grafia é minha para tentar uma coisa que se leia) faz temer prejuízos mais avultados para as companhias aéreas do que os provocados pelo famigerado atentado de 11 de Setembro contra as torres gémeas de Nova Iorque. As imagens que mostram milhares de pessoas espalhadas pelos aeroportos de todo o mundo, reféns da cinza voadora, lembram-nos como é frágil a organização cronometrada da economia mundial.
Fala-se do célebre Efeito Borboleta, embora neste caso se trate de um Efeito Vulcão, e de como um acontecimento localizado pode provocar ondas de choque tremendas um pouco por todo o lado.
Ninguém escapa aos reflexos do fenómeno natural. Seja o turista acidental ou o chefe de estado em passeio oficial, todos são afectados e, de súbito, vêem-se obrigados a pôr os pés no chão já que os céus ficaram intransitáveis. Regressamos a um mundo mais terra-a-terra, literalmente, e aquela doce vertigem da deslocação em velocidade sobre-humana que os aviões nos oferecem a preços de saldo, foi reduzida a uma marcha lenta nos costados terrestres do planeta em automóvel ou comboio, muito mais dispendiosa e limitativa.
Aqui há uns anos valentes Stanislaw Lem imaginou um mundo em que todos os computadores tinham crashado definitivamente, atirando a humanidade de regresso a um estado pré-histórico que provocaria, em última análise, a sua própria extinção e escreveu um contozinho (de que não recordo o título) a ilustrar tão apocalíptica visão.
Esta vulcânica situação, provocado por uma acção de terrorismo natural, mostra-nos como é etéreo e perecível o nosso modo de vida, como ainda estamos longe de conseguir dominar e orientar os destinos da Natureza em proveito próprio. Não estamos longe, é absolutamente impossível!
Na verdade, a realidade contemporânea e pós-moderna não passa de uma ilusão.
10 comentários:
Rui,
tentei enviar, ontem, um e-mail, que voltou, por ERRO no endereço! Será que mudou seu endereço? Queria tratar, no canal adequado, do assunto que você se disse "magoado". Para mim, o lugar de se comentar, e responder comentários, é lá mesmo, mormente, no caso em questão, onde o post tem como título e assunto: COMENTÁRIOS! Quem não deve não teme, e quem provoca, que agüente as conseqüências!
Com relação ao seu texto deste post, fica mais uma vez evidente a fragilidade e insignificância do HOMEM, e seus inventos e equipamentos, diante da NATUREZA.
Quem anda INDIGNADA é a Natureza, e com muita razão!
Bom post,
Forte abraço
Com relação
Oi Silvares, muito bom este texto. A Mãe Natureza anda mesmo indignada, mostrando a sua força por várias partes neste últimos tempos...
Abraço,
Lais.
Pois é Silvares, estar consciente do que se passa ( com a gente mesmo, com o outro, ao nosso redor, enfim o mundo) é pra poucos. O que dirá então o meio ambiente?
Outro dia mesmo li isso: ´´Todo mundo pensando em deixar um planeta melhor para nossos filhos. Quando é que pensarão em deixar filhos melhores para o nosso planeta?´´ (não sei quem escreveu!)
Parece uma mentira tão grande que faz a verdade ficar absurda né?
um abraço Silvares
madoka
E era uma borbulha!!!
A relatividade das coisas : para o grande e efervescente caldeirão de magma do centro do planetinha, este impronunciável vulcão não passa de uma mera fumarola .
É o que acho.
Os astrônomos teriam pesquisado demais o universo enquanto os geólogos de menos nosso planetinha?
Onde há fumaça ha o fim do mundo? hehehe...
acho que, de certa forma, este vídeo tem uma relação com o post e os comentários aqui feitos:
http://www.youtube.com/watch?v=eScDfYzMEEw
há um outro (ainda tenho de encontrar) em que George Carlin apresenta também uma visão apocalíptica, caso o mundo ficasse sem electricidade. É Genial.
http://www.youtube.com/watch?v=X_Di4Hh7rK0
o mesmo vídeo, numa versão com legendas em português.
Há nos céus da Europa mais fumaça do que aviões! Sinal dos tempos!
Eduardo, quem diria que até a Natureza pode se indignar!
:-) Quanto aos céus da Europa... eles aguentam com muita merda, mesmo.
Lais, é, a Natureza é uma mãe algo castigadora. Mas aqui a criançada não se tem portado lá muito bem.
Madoka, essa questão é pertinente. Imaginámos um mundo novo, construído por um Homem (peço desculpa pelo machismo da expressão) assim, com "H" grande. O Homem tarda em surgir e o tal novo mundo vai sendo desenrascado pelo velho homem, com "h" pequeno. Está aí, à vista de todos.
Jorge, imagine uma ferida aberta!
Peri, a estrutura é frágil de mais. Não sei se o edifício aguenta.
Lina, questão de prioridades de investimento?
Tiago, nem de propósito. Tinha acabado de escrever o post acima quando vim deixar comentários aos comentários e fui ver o vídeo que indicas.
:-)
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