segunda-feira, março 01, 2010

Enterrados


A satisfação dos portugueses com a democracia bateu no fundo. Eles que são tendencialmente de esquerda e não gostam de maiorias absolutas de um só partido. Têm reservas ao monopólio dos partidos e gostariam de participar mais. Em menos de 40 palavras é o que se pode concluir do estudo "Representação política - O caso português em perspectiva comparada", organizado pelos politólogos André Freire e José Manuel Leite Viegas, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE. (ler mais aqui)

Só quem anda a dormir não seria capaz de perceber esta onda de insatisfação. O nosso sistema político benificia os poderosos e arrasta na lama as ilusões de uma sociedade mais equilibrada e igualitária. O Zé Povinho já não usará o chapelito que Bordalo Pinheiro lhe deu nem terá aquele jeito especial para o manguito, mas continua a ser comido e cagado com o mesmo desprezo de sempre. E isso não pode ser agradável, muito menos ser aceite com indiferença.

A partidocracia estabelecida é uma choldra. Somos governados pela escória da sociedade que os jornais continuam a apelidar de "elite". Mas qual elite, qual cara... puça! Basta olhar para a cáfila ministerial ou para as hienas nos cargos mais altos da Função Púb(l)ica para perceber que, com esta gentalha no comando dos destinos da nação, não há fundo no poço em caímos.

Sinto-me desorientado. É evidente que o sistema político se esgotou numa teia de interesses mesquinhos e saloios. Que somos enganados e esgadanhados por uma cambada de moleques mal jeitosos, saídinhos das clientelas partidárias. Uns putos de merda, incapazes de olhar para lá dos seus compridos narizes de Pinóquio. Mas o mais grave é que, no actual estado de coisas, eles são a alternativa a si próprios. Ou seja, podemos saltar da firgideira mas iremos caír, inevitavelmente, no fogo deste inferno mole que se desfaz um pouco mais a cada dia que passa.

Não estou a ver solução nenhuma que prometa um mínimo de ilusão benfazeja. Cada vez menos acredito que possamos saír deste atoleiro em que estamos enterrados até ao pescoço. É só lama por todos os lados (ir aqui para ter uma imagem mais completa).

5 comentários:

Beto Canales disse...

E a lama acabará ficando por cima tbm... só assim mesmo

Tiago Alves disse...

E o que podemos nós fazer ?

Os que mandam são donos do país. BCP, BPN, PT, Caixa Geral de Depósitos acabam por ser geridas pelo mesmo circulo de pessoas. O que nos resta ? Um novo Abril ? E depois ?

Quem entra para a política, desde logo sofre uma lavagem cerebral partidária e, o resultado, é como disse vivermos numa partidocracia. Onde é mais importante a guerra partidária que a discussão de ideias.

Isto anda mesmo mau.

Rui Sousa disse...

Rui, compreenda o desabafo, e não é que me apeteça fazer muito de advogado do diabo, mas verdadeiramente quando olho para o estado de Portugal não sinto, de todo, que tenhamos uma classe politica assim tão diferente do povo que somos. Sinceramente não consigo olhar para o país e ver que a mediocridade ou a excelência estejam ligadas às classes ou profissões. O que eu acho é que estamos com um deficit brutal de educação ( e não estou a referir-me à educação das escolas que agora anda tanto na moda ). O país está estruturalmente mal educado porque só temos a noção dos direitos ( e aqui a culpa é de todos ). Está sempre tudo bem enquanto as pessoas não são chamadas às suas obrigações, aos seus deveres. Nós habituamo-nos a exigir dos outros e não damos nada em troca, nadinha. Podia contar-te inúmeras histórias, por exemplo, do condomínio do prédio onde vivo, que espelham o que estou a dizer ( eu tenho sempre esta mania de achar que um prédio é um país em miniatura ). Não vou contar para não ser chato, mas digo-te que num prédio com 60 condóminos aparecem às reuniões apenas 10…..sistematicamente, e eu sei que não é só aqui. Mas isto é apenas um pequeno exemplo. Sinceramente acho que o problema tem a ver basicamente com responsabilidade. Eu não acho, sequer, que o povo queira participar mais na politica do país. O que nós gostamos é de uma boa retórica mas participar é também fazer e nessa altura ninguém avança. A incompetência não está só num sitio ou numa classe, está nas pessoas e infelizmente ( e mais uma vez por culpa de todos ) temos um sistema que defende os incompetentes e que dificulta a sua remoção. Depois temos esta coisa incrível que parece que quando temos pouco dinheiro já não sabemos curtir a vida. As melhores coisas da vida continuam a não custar nada, é só ter um pouco de imaginação e dar corda aos sapatos ( ou às mãos ). Eu sei que há casos graves ( desemprego, doença ) em muitas pessoas, mas não é desses, como é óbvio, que eu estou a falar.

Rui Sousa disse...

Era para dizer " compreendo o desabafo " e não " compreenda o desabafo ", embora o erro também acabe por funcionar com outra leitura...

Silvares disse...

Beto, tem sido um Inverno muito chuvoso...

Tiago, tenho a impressão que a ideia de Democracia não era bem isto.

Rui, concordo em absoluto. Num sistema como o nosso os governos são espelhos do povo.