domingo, março 14, 2010

Grandiosidade e vulgaridade


É a comunhão proporcionada por uma narrativa comum a um grande grupo de pessoas que nos permite sentir como fazendo parte de um todo. Seja num concerto de rock, num jogo de futebol, numa manifestação de rua ou na missa de Domingo. Quando a multidão se unifica, quando a voz do indivíduo se mistura com as vozes de todos os outros e se eleva em coro, ele sente o corpo a expandir-se, a alma a crescer, ele faz parte de algo muito maior, uma coisa grande e grandiosa. Está-se próximo do extâse.

Ele é igual a mim e igual a ti. Nós somos ele e somos uma coisa única, capaz de vencer tudo ou sermos derrotados juntos. Aí reside a beleza da coisa. A sensação de pertencer a algo maior que o próprio mundo sem deixarmos de ser quem somos. Podermos perceber que há muitos mais indivíduos que pensam e agem de maneira semelhante à nossa.

Esta ideia aplica-se também ao discurso artístico, à criação de obras capazes de comunicar com um grande grupo de pessoas, obras que não se esgotam numa complexidade exasperante, tão característica de certas criações contemporâneas. A obra de arte, para o ser, terá de proporcionar ao indivíduo a possibilidade de romper a cortina de significados que a cobre, terá de permitir que o indivíduo a complete através do exercício da sua capacidade de leitura.

Uma grande obra de arte oferece-se a um grande número de indivíduos, permitindo a comunhão do grupo no mar dos seus significados. Uma grande obra de arte transporta consigo uma narrativa comum.

Quando uma obra é hermética e deixa o observador eternamente de fora, a rondá-la, perplexo perante a incapacidade de a compreender, falha o que deveria ser o seu objectivo primordial: comunicação. É uma vulgar obra de arte e nunca uma grande obra.

6 comentários:

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o exposto. No meu trabalho, humildemente luto para que tenha esse entendimento direto e simples! Mas ele não é tão fácil de ser alcançado, e daí a importância dos artistas que o conseguem, como os exemplos citados ( imagens).
Parabéns pelo post!

Anónimo disse...

A arte humaniza.
Abração
madoka

Joana Aguiar disse...

Bom dia.
Como não encontrei o seu email, contacto-o através deste post.
O meu nome Joana Aguiar e sou aluna de Doutoramento em Sociolinguística na Universidade do Minho. A minha tese intitula-se: "Mecanismos de conexão frásica: a importância dos factores externos" e visa observar de que forma os factores idade, escolaridade e género influenciam a utilização de estruturas de coordenação e subordinação em textos escritos. Para tal, estou a recolher alguns textos da blogosfera e preciso da sua autorização para utilizar os seguintes textos:
o alecrim e manjerona
uma merda
o filme que balança
O objectivo é codificar cada oração para, em conjunto com outros textos, fazer uma análise sociolinguística, não é analisar a capacidade de escrita, nem o conteúdo. Os textos foram escolhidos pela sua extensão. No caso de permitir a sua utilização, pedia-lhe, também, que me confirmassem os seguintes dados:
Intervalo etário: 20- 45 anos/ > 45 anos
Habilitações literárias: Ensino básico / Secundário/ Superior
Muito obrigada e parabéns pelo blogue,
Joana Aguiar

Silvares disse...

Eduardo, a simplicidade é uma arte complexa.
:-)

Beto, perfeito? Faz-me corar. Espero que suficientemente simples, isso já me deixaria satisfeito.

Madoka, perfeitamente de acordo.
:-D

Joana, esteja à vontade para utilizar os textos que referiu. Será um prazer e motivo de (algum) orgulho para a minha pessoa.

Joana Aguiar disse...

Obrigada por disponibilizar os seus textos.

the dear Zé disse...

Isto tem 2 partes.
À 2ª, da arte e comunicação digo, pois mas, também há aqueles best sellers, tão consensuais, tão globalmente elogiados e que são, literalmente, uma merda.
Quanto à 1ª, do êxtase da orgia colectiva, lembro o uma obra um pouco esquecida: "Psicologia de Massas do Fascismo".

Passe bem.