Eu sou um gajo que assa mal ao sol. Por muito que tente (e não tento) nunca fico bem passado. Deus não me contemplou com o dom da morenice. Rapidamente ganho aquele tom alagostado se me descuido, ficando na praia para lá do tempo certo. Memórias de uma pele incómoda obrigam-me a evitar excessos. Há os cremes protectores, os guarda-sóis, as t-shirts, as esplanadas, uma vasta gama de subterfúgios capazes de manter a minha pele razoavelmente saudável e protegida da inclemência de Ra. Daí que, sempre que vejo uma pessoa cor-de-rosa como um pedaço de carne de porco antes de cozinhar, sinta uma suave perplexidade.
Pronto, eu sei, para ficarem daquela cor terão de reunir várias qualidades:
1) Não devem fazer ideia do que é sentir a pele apertada sobre os ossos com um calor permanente, como se o corpo suasse para dentro, incapaz de suportar o mais leve toque que não seja o de uma brisa milagrosa que de nós se condoa;
2) Vêm de lá detrás do sol nascente por alguns dias. Vêm precisamente à procura das praias e do sol. Os poucos dias de que dispõem nesta espécie de paraíso quase tropical agarrado ao queixo da Europa embota-lhes o espírito ao ponto de os levar a colocarem-se directamente debaixo do astro-rei mais tempo do que a conta;
3) São simplesmente estúpidos ou ignorantes como um burro ansios perante um caixote de cenouras colocado à beira de um precipício;
4) Podem ainda configurar uma personagem que não se enquadre em nenhuma das descrições anteriores e terem, apenas, azar.
Seja como for, fico sempre algo espantado perante aqueles corpos rosados, debaixo de cabelos claros e, quase sempre, demasiado longe dos pés, lá nas alturas. Loiros e rosados, ainda assim continuam debaixo do sol. Imagino que muitos deles derretam, escorrendo simplesmente para o bueiro na valeta. Imagino que serão fruto da minha imaginação, que ninguém expõe daquela forma a fragilidade da sua pele à inclemência de uma eterna divindade egípcia que, como todas as divindades, se está bem a cagar para as dores e os problemas dos seres a que chamamos humanos.
9 comentários:
hehehe... eu adoro sol na praia para correr procurando uma sombra.
Os contrastes dão mais entusiasmo à vida.
:-)
...ai que dor...a foto diz tudo...me lembrei do ótimo filme "Two for The Road" com Audrey Hepburn e Albert Finney..os dois loucos para namorar e vermelhos como camarões assados não podiam se tocar...Delícia.
Para chegar à morenice é necessário passar pelo flagelo da vermelhice.
Ou legá-la às gerações futuras através da miscigenação com uma escultural e efervescente mulata. Ziriguidum, ôba.
as japonesas da ´velha´guarda não gostam de serem tostadas pelo verão escaldante. Se escondem usando chapéus, luva pro braço, não sei o nome daquilo, enfim, vão a praia de camiseta comprida. Se bem que a nova geração querem cor.
O padrão tradicional da mulher japonesa, é ter a pele branquinha, sem manchas, como as gueixas tinham, eu acho um luxo.
abs
madoka
Que bom manter o humor, mesmo assim tostado, Silvares.
Aliás, acho que você "passou do ponto" e não está "mal passado".
Ái que susto!
Ví, não me lembro de ter visto esse filme mas conheço a sensação que descreve.
Peri, tens toda a razão... ziribidão!
Madoka, padrões de beleza são assim mesmo. Os jovens querem ser morenos.... e nós que os chamamos de "amarelos"!
Lina, aquele na foto não sou eu! Ahahahah, foi uma imagem que encontrei algures para ilustrar a ideia.
Caçador, podes crer. Assustador...
pois é, essa coisa de amarelos, onde já se viu? onde que minha pele é amarela? são os colegas geógrafos, não concordo.
madoka
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