sexta-feira, agosto 14, 2009

Inimigos


Hoje fui ver o Johnny Depp em Inimigos Públicos. Um belo filme, sem sombra para dúvidas. Sobretudo teve o condâo de me deixar sossegado quanto às qualidades do actor. De há uns tempos para cá que andava desconfiado de que a minha admiração por Depp se devia mais a Tim Burton do que ao rapaz. Começava a vê-lo como um construtor de personagens que pouco mais seriam do que bonecos magnificamente enquadrados pela câmara de filmar de Burton. Em Inimigos Públicos o Johnny Boy mostra qualidades suficientes para espantar as dúvidas. Vai muito bem sem fazer qualquer tipo de esgar ou palhaçada.

A trama do filme, situada na Grande Depressão, gira em volta da personagem de John Dillinger, o assaltante de bancos. Numa época como aquela que vivemos, onde os bancos voltam a ser os maus da fita (alguma vez deixaram de o ser?), a simpatia pelo bandido ultrapassa de longe a que pudessemos desenvolver por Melvin Purvis, o bófia interpretado por um Christian Bale cada vez mais fechado numa concha empedernida.

Aquela Depressão durou anos. A nossa, ao que nos querem fazer crer, está já a ser ultrapassada. Um anito apenas e as economias parecem querer voltar a crescer, ainda que apenas gatinhem e estejam a aprender a andar outra vez.

Passados estes anos todos, os capitalistas aprenderam que, para poderem viver no luxo, têm de ter alguma calma. Sem consumidores não há sistema económico que se aguente. Assim, estão a redistribuir as migalhas necessárias para que as célebres classes médias possam regressar aos seus hábitos de consumo que lhes enchem os bolsos.

O caso da Gripe A é paradigmático. Andavam dodinhos para encontrarem uma Pandemia que atacasse os países capitalistas. Reparem como há grandes laboratórios a trabalhar dia e noite para produzirem em larguíssima escala uma vacina que se VENDA como se fosse oxigénio na Lua. Alguém vai ficar podre de rico à custa de uma doença que não é tão agressiva como a pintam. Enquanto isso, em África, continua a morrer-se de desinteria ou malária. Quem se incomoda com isso?

Voltando a Inimigos Públicos, termino dizendo que Dillinger, nos nossos dias, seria uma personagem impossível. É de um passado distante que nos fala o filme, apesar de nos parecer próximo. Os inimigos são semelhantes, mas os métodos que utilizam não têm nada a ver. O H1N1, por exemplo, é um estranho aliado dos grandes capitalistas e não há Dillinger que o passe a tiro de metralhadora.

10 comentários:

Anónimo disse...

mais uma vez um tiro certeiro o seu, a partir da análise desse filme, e o paralelo que vc faz da gripe H1N1. Por isso vale, todos os dias vir aqui e poder ler das suas reflexões. Lá no Brasil, leio que até as aulas foram suspensas por causa da gripe, e que mataram 300. A imprensa toda, ajuda a disseminar o alarde todo em torno da gripe.
Sou fã do Johnny Depp, fiquei na curiosidade de ver o filme que vc indica. Agora desculpa a ignorância, não entendi da crítica ao C. Bale.
Ah, vc viu o filme do Fernando Meirelles, O jardineiro infiel, ops fiel, gostou? rs.
abs
madoka

Unknown disse...

Bela observação ao final do texto!!
Visite o nosso blog!!
Um abraço!!

Gustavo disse...

Oi,

A fama da gripe do porquinho vai ser esquecida assim que a imprensa quiser. Eu disse ESQUECIDA e não extinguida... ou não.

abs,

Gustavo

Anónimo disse...

Ola!

Estava de passagem mas não pude deixar de comentar..
Um grande filme, dos últimos que vi único que valeu o preço alto que hoje em dia se dá por um bilhete de cinema.
Será mesmo que os países capitalistas precisam de ser atacados?! Acho que mais cedo ou mais tarde acabam por cair por si..

abraços,
HS

Jorge Pinheiro disse...

MUITO LÚCIDA OBSERVAÇÃO.

Li Ferreira Nhan disse...

... e a nossa a "macambúzia" face.

Anónimo disse...

Silvares,

suas resenhas cinematográficas dominicais recheadas de criticas econômico/sociais vai agradando em cheio. Aqui li comentários do Japão, Argentina, Portugal, Brasil, o que prova que o mundo e suas pandemias, sonhos e mazelas é uno e instantâneo!

Silvares disse...

Madoka, parece que temos pela frente um monstro que, afinal, será fofinho. O verdadeiro monstro é a ganância de quem está a preprar-se para nos sacar mais um dinheirito. Quanto ao Mr. Bale, que é um actor muito presente, tenho a sensação de que constrói personganes muito herméticas e torturadas. Será apenas o guião que o leva a isso? O Fiel Jardineiro merece reprise urgente por todo o mundo, foi bem lembrado.

Trabalhador Mineiro, grato pelo comentário. Visita retribuída.

Gustavo, a gripe do porquinho irá fazer companhia à gripe da galinha e ao surto de meningite e ao cancro do colo do útero. Não sei se o alarme com estas "epidemias" chegou a todo o lado. Aqui em Portugal, de vez em quando, há um alarme social, esgotam as vacinas e os medicamentos e depois... como você diz, é o esquecimento.

Jorge, Li, grato pela visita.

Eduardo, é, parece que há uma pandemia de informação. ou uma pandemia de humanização. Essa é uma pandemia que temos de tentar fazer rebentar a todo o custo!
:-)

Ví Leardi disse...

Caro Silvares..mais um texto para "guardar"....tomei a liberdade de te 'levar'como referência..Parabéns!
:-))

Unknown disse...

Bom texto!