domingo, março 01, 2009

A Árvore de Courbet


Pessoalmente, sempre relacionei o título de "A Origem do Mundo" com a semelhança que a meus olhos existe entre aquela imagem do sexo feminino e uma árvore.

Isto leva a que, no meu rebuscado imaginário, tingido por uma educação católica, apostólica e romana, a Árvore do Conhecimento, cenário do Pecado Original, se irmane de súbito com a inquietante visão daquele sexo feminino, tão exuberantemente enquadrado na tela de Courbet. Como se o pintor quisesse sugerir que a origem deste mundo tivera no Pecado Original o seu acto fundador.

Sendo um adepto fervoroso do Realismo, Courbet não era particularmente dado a especulações transcendentais. Terá afirmado que nunca pintara um anjo por nunca ter visto um "Mostrem-me um anjo e eu pintá-lo-ei."

Mas, mesmo assim, e apesar de tudo o que nos últimos dias se disse acerca da pintura de Courbet continuo a ver ali uma árvore. Um símbolo oferecido a uma sociedade machista, o Fruto Proíbido, na abstrusa concepção católica que olha o corpo da mulher como uma fonte inesgotável de luxúria e pecados mortais, capaz de lançar o maior dos santos nas profundezas do Inferno caso ceda à tentação de o provar.

Talvez esta minha leitura de "A Origem do Mundo" tenha algo de púdico por me poupar a olhar para a tela e ver ali apenas uma simples vagina. Reminiscências de uma infância católica? Talvez. Mas é essa leitura que me permite afastar a ideia de que esta tela é, simplesmente, uma imagem pornográfica. Para mim continua a ser "A Árvore de Courbet".

10 comentários:

Anónimo disse...

Silvares,

tudo bem, mas discordo quando relaciona uma imagem de vagina à pornografia! Essa seria uma outra atitude puritana e antiquada!Pornografia é outra coisa, e esta muito ligada a atitudes e informação cultural de quem observa! Por exemplo: o sensual é o pornográfico quando tratado com bom gosto! Mas o que é "BOM GOSTO?". E por aí vamos...
O melhor é ir a praia! Lá estão muitas "ORIGEM DO MUNDO" ao sol!srsrs

Silvares disse...

Eduardo, Courbet pintou esta tela para um coleccionador que apreciava muito cenas deste género. Terá o seu quê de pornográfico, se olhada de uma certa perspectiva. Muitos textos têm explorado essa vertente, daí que eu tenha feito aqui esta espécie de confissão: eu vejo uma árvore... que raio!
:-)

Ví Leardi disse...

Silvares..sua ótimas postagens ..rendem e muito...Lá... também
:-}

conduarte disse...

Silvares, obrigada pela visita.
Isto já deu tanto o que fala, não é?

E ainda sobram penas...

Mas o legal, é que houve a discussão, a analise, e ainda haverá muito tempo. Aqui vc entra na sua interpretação sobre como vê esta manifestação de Coubert.

Assim como o P.L, não vejo de maneira ruim, mas como tudo naquele tempo as coisas haviam mais de um sentido... Vc pode até ter razão. Para mim, significa puramente a maneira pela qual estamos todos aqui! Uma mulher que ao se dar a um homem, engravida e é capaz e parir um filho! Daí...Estamos todos aqui, vindos do mesmo lugar! Parece simples, mas ... Morreremos sem saber.

Obrigada mais uma vez e pode ter certeza que virei aqui mais vezes.

Fiz o post, por acreditar que as pessoas podem interpretar tudo de modo diferente daquilo de acordo, com o que existe dentro da cabeça de cada um. E indignada, claro com o que aconteceu , ainda que alguns digam que foi um mal-entendido...

O museu em que ela está pendurada, digamos assim, é da melhor referência possível... Mas já passou!

Valeu pelo debate de todos nós.

Felicidades, sempre!

Bjos CON DUARTE

Jorge Pinheiro disse...

Acho este um quadro como qq outro. Francamente não percebo a excitação. A mim não me dá nenhuma!

peri s.c. disse...

Sigmund, o Freud, autor da lapidar frase : " Às vezes um charuto é apenas um charuto " se convidado a participar desse debate talvez dissesse, acariciando distraídamente seu charuto, que " às vezes uma xoxota é apenas uma xoxota ".
E, mais atualizado com as preferências estéticas de nosso tempo, completaria que esta poderia ser um pouquinho mais depilada.

roserouge disse...

Eu também só vejo ali uma xoxota, como dizem os brasileiros. Por cá também se diz paxaxa. E para mim, também não passa disso mesmo. E tem pêlos a mais, pois tem. E continuo a dizer que como capa dum livro, é de profundo mau gosto.

Silvares disse...

Vi, a questão que coloca "lá" é muito pertinente. Irei retomá-la do lado de "cá".
:-)

Conceição, valeu, também, pelas visitas.
:-D

Jorge, folgo em sabê-lo.
:-}

Peri, o velho Sigmund era mesmo um sabido. Ele percebeu que alguns de nós olham um charuto e vêem o marido da xoxota. Passou o resto do tempo que viveu a brincar com isso!
:-)

Rose, a questão da pilosidade é como o outro... parece-me que a discussão se deve situar um pouco mais acima, não, não estou a falar dos seios (mamas, mamocas?), estou a falar da liberdade de, neste caso, vender uns livritos na rua sem levar com uma mão-cjeia de PSPs em cima.
:-(

GUGA ALAYON disse...

achei o post mais do que pornográfico. Uma afronta. Onde se viu mostrar uma barba tão malfeita assim?

Claire-Françoise Fressynet disse...

Lacan escondeu a, de olhares cruéis