Deve ser da idade. Clint Eastwood assina mais um filme de grande contenção narrativa e rigor de composição, aquilo a que, em tempos de um outro cinema, mais veloz e sincopado, costumamos chamar "um clássico".
Este "Gran Torino" possui as características que associamos aos "clássicos" (partindo do princípio que estamos a referir a arte produzida no período áureo da Antiguidade): equilíbrio, harmonia, simetria, enfim, a busca de uma forma plástica de contornos nítidos e bem definidos. Não há desvios nem elementos supérfluos. Não há movimentos de câmara desnecessários nem planos estranhamente enviesados. Não há personagens sem espessura nem cenas "para encher" o tempo ou o olhar do espectador. Ali tudo está ao serviço do objectivo principal: narrar uma história. Grande cinema, em grande estilo.
Como se tudo isto não bastasse, há ainda a presença magnética do realizador que é, cada vez mais, um gigante dentro da enormidade dos seus filmes. Ouvi dizer que Eastwood afirmou ter sido esta a sua última aparição no grande écrã, na qualidade de actor. Se foi, podemos dizer que tem uma despedida em grande estilo. Deitado de costas e em posição de Cristo, oferecido em sacrifício para redimir todos os pecados cinematográficos cometidos por gerações de realizadores menos atentos e menos capazes do que ele. Eastwood perdoa-lhes. Estão perdoados.
Um filme, absolutamente, a não perder.
10 comentários:
Ainda não vi, mas estou inteiramente de acordo com a apreciação de Clint: Cada vez melhor!
Parece que qto mais velho fica, melhor fica. Impressiona.
Já estreou? Quando?
Desde que reformou o orangotango que não parou de crescer para nos assombrar com a seu desmesurado talento.
É o nº 1 do meu top 10 e eu uma groupie despodurada.
Acho que só estreia para a semana.
Jorge, Ogre, vi o filme por vias menos ortodoxas. Chegou-me uma cópia às mãos que me deixou surpreendido pela (boa) qualidade. Uma coisa mais pirata que o Barba Ruiva! Quanto ao orangotango esteve aí para nos provar que não podemos ser perfeitos, todos temos os nossos momentos de macaquice.
Beto, o homem atingiu um nível de execução próximo da perfeição. Agora é "só" usar o "savoir faire".
Esse não vou perder!
E por falar em cinema, há dois dias atrás, estava em São Paulo, e convidado pela minha mulher pegamos o carro em direção a um cinema! No meio do caminho, depois de mais de quarenta minutos num trânsito paralizado e infernal, demos meia volta e fomos tomar um vinho... O cinema ficou para outra vez! Acho que fazem 5 a 6 anos que não entro numa sala! Só tenho vistos alguns pela TV, que definitivamente não se compara!
Ah...
Clint!
Eu não canso de nada que ele faz, principalmente do Gran Torino. Foi um filme realizado com amor a arte... Do jeito que ele sabe fazer.
É curiosa a carreira dele. nada indicava que fosse virar o grande dieretor e ator que é. Um artista admirável.
Eduardo, se não deu para ir é porque não tinha de ser! Confesso que, para mim, viver dessa forma iria ser complicado mas também acho que, se estivesse num sítio como aquele em que você vive, acabava por me habituar à ausência de salas de cinema!
:-)
Alice, realmente o velho Clint atingiu "aquele" ponto. Perto do máximo.
Peri, tens razão. Olhando para aqueles filmes mais atrás não dava para perceber. Um talento escondido, agora revelado.
:-)
imperdível 2!
(curiosidade2: Rindo da palavra de verificação ainda do peri no post acima, digo que a minha saiu agora MISSE)
abç
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