segunda-feira, dezembro 10, 2007

O amigo Kadhafi (e outros seres vivos)

"A Cimeira UE-África provou que os conceitos de ditador e de corrupto são relativos, de geometria variável: isto é, há ditadores bons, como haverá corruptos sérios."
João Paulo Guerra, "Diário Económico", 10-12-2007

Afinal o que é mais importante nas relações entre a Europa e a África? Ou então: quantas europas há? E quantas áfricas? Ou ainda: um ditador pode ser eleito democráticamente? E por aí adiante.
A célebre cimeira que ontem terminou, afinal, pariu um rato. Quando muito pariu uma ratazana. Sócrates e Barroso esforçam-se por considerar a dita cuja como tendo sido uma página dos livros de História acabadinha de ser escrita. Uma página brilhante, a ser lida com admiração e devoção pelas gerações futuras, os seus nomes recordados como sinónimos de grandes estadistas, homens capazes de ombrear com os gigantes políticos do passado, capazes de fazerem sombra aos gigantes políticos do futuro.
Na verdade não parece ter saído dali nada de substantivo. Uma nova postura entre os dirigentes dos dois continentes vizinhos, possibilidades de entendimento no futuro, negócios meio encobertos por divergências difíceis de ultrapassar, um leve agitar de fantasmas do passado.
Mas nada garante que esta cimeira seja recordada tal como poderá não ser esquecida tão depressa. O que ficou foi um conjunto de imagens que juntam alguns déspotas mais ou menos sanguinários com políticos ambiciosos e ávidos de protagonismo que, para posarem juntos na fotografia, evitaram falar de assuntos melindrosos e substituiram dentes cerrados por sorrisos luminosos.
Kadhafi é, afinal, um amigo. Um gajo porreiro. Um líder africano amado e admirado deste lado do Mar Mediterrâneo. Ou não é? Ficou a imagem de uma espécie de zombie a flanar por aí, com ar de estar a drunfar duas caixas de Valium 10 em cada hemisfério cerebral. Sócrates apertou-lhe a mão, fez-lhe alguns elogios mais ou menos velados, indicou-lhe o caminho, sorriu-lhe, fez tudo o que podia para não melindrar o amigo Kadhafi. Em nome de quê? Negócios. Dinheirinho. É a Economia a ditar a amizade entre os povos. Essa deusa universal, capaz de fazer esquecer as diferenças e aproximar os opostos. Essa deusa da amizade.
Foi bonito de ver os amiguinhos a apertarem as mãos em vez de apertarem as respectivas gargantas.

5 comentários:

Anónimo disse...

Ham, bom!!!
Entendi!

Jo-zéi F. disse...

O carapau S. e a MUMIA congelaram. Momentaneamente.
O Kadhafi brinca(goza) com esta maltinha toda. Trouxe-nos o petróleo e o cimento( só dá vontade de rir...).Ah pois, e a sua tendinha de 5 estrelas.

Silvares disse...

Pois é Eduardo, em nome da Santinha (a Economia) muita gente faz das tripas coração e esquece a Ética. O negócio aparece sempre à frente de tudo o resto!

Fonseca, a coisa está quase a descongelar. Tenho andado muito ocupado a gastar petróleo e cimento na minha tendinha...

Jo-zéi F. disse...

já compreendi, é muito escopro e martelo...mais as avaliações...está justificada a falta

Silvares disse...

Hei-de pôr no Carapau as minhas últimas obras. Tu vais ver!