domingo, dezembro 09, 2007
Sem título (e sem imagem)
Às vezes até parece que o artista se esforça por limpar a sua obra ao ponto de a deixar toda polidinha, sem sombra de humanidade, sem pingo de moralismo, apenas uma (muito) vaga sombra de narrativa. Narrativa preferencialmente hermética e profundamente pessoal. Individual. Tão pessoal e tão individual que pode apenas ser única. Sendo única será tremendamente original. O artista, esse, paira sobre o mundo aborrecido, ligeiramente entusiasmado quando alguém ou alguma coisa parece ter compreendido algo daquilo que fez ou pensou que queria dizer mas... o mundo é tão "boring"! Não há nada que possa preencher este vazio imenso que esburaca o peito do nosso artista. Um génio incompreendido que nunca percebeu que o Romantismo não é sinónimo de oferecer flores a alguém ou declarar amor a uma lua mais cheia que vazia. Esqueceu-se de estudar a História da Arte por ser tão, tão tremendamente "boring". O que interessa aquilo que aconteceu antes se o futuro está todinho por inventar? O que interessa o que fizeram uns chatos há mais de 100 anos atrás se o génio está todo ali, embalado naquele corpinho, empacotado dentro daquele cérebro de foca tropical? Na hora de dar um nome ou escolher designação para o resultado do seu trabalho, o artista genial saca do seu mais estonteante trunfo, a sua cartada genial e declara: SEM TÍTULO!!!! Nem outra coisa poderia ser. Sem título nem nada que se aproveite. A não ser o génio do autor, claro está. O artista genial... o tal... estás a compreender-me leitor, não é verdade? É que eu sou um artista, e este post não tem título. Ou melhor é sem título. Quer dizer, afinal de contas, "sem título" é um título. O mais vulgar de todos.
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5 comentários:
Silvares,
por usar muito "esse título" vou levar sua crónica para o Varal. Adorei!
Abçs
Fui apresentado a você, caro Silvares, no Varal pelo gentil amigo Eduardo.
Fiz este comentário no VARAL que reproduzo aqui:
Na verdade Eduardo, o verdadeiro artista faz sua obra exclusivamente para si mesmo.
É a humanidade que se apossa dela e quer lhe dar título, traduzí-la à luz da mediocridade de cada observador e interpretá-la segundo as idissincrasias pessoais (pleonasmo para reforçar)!
O artista quer que os mamiferos se lixem!
Abraço e colocarei seu endereço em meu blog BOA LEITURA
Eduardo, esse "sem título" é um tema que me interessa e sobre o qual reflicto de vez em quando. Daí este post.
Luiz,não creio que haja verdadeiros ou falsos artistas. O "artista" é uma personagem que se vai moldando às condições do tempo e do lugar em que pratica a sua arte. Alguns lixam-se para os mamíferos, outros nem por isso. Lembram-se de terem mamado quando ainda não sabiam ser artistas!
:-)
Um abraço.
O título também poderia ser:" com título". Ainda mais inteligente.
Eheheheh...
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