sexta-feira, março 25, 2022

O apocalipse segundo São Merdoso

     E se as bombas voarem, quais aves migratórias, doidas, em todas as direcções? 

    Bombas que se cruzam nos céus da Europa como autocarros em hora de ponta na baixa da cidade. Bombas como formigas nos seus incansáveis carreiros. Bombas que, depois de caírem, cumprindo finalmente o tenebroso destino, serão como pontos finais semeados de forma cirúrgica sobre uma página agora negra, rendilhada com a forma da Europa.

    O déspota terá acreditado cumprir a missão que Deus lhe confiou no exacto momento em que a bomba (a sua bomba particular, a bomba com o seu nome inscrito, aquela bomba estupidamente vingadora), a bomba rebentar pulverizando-o em incontáveis átomos que irão misturar-se na poeira cósmica do mais completo esquecimento. Adeuuuuusssss...

    E o planeta, momentaneamente moribundo, acredita numa lenta recuperação, agora que está menos exposto à cegueira do homem, do homem branco pelo menos, esse que se varre a si próprio da crosta terrestre; Deus Pai vencido pela Mãe Natureza. O Grande Deus Branco enfiado no buraco por aqueles que O inventaram.

    Os velhos deuses irão regressar um pouco por todo o Mundo, livres da sombra pesada e negra do Deus opressor, o Deus único e absoluto, morto e enterrado com as suas bolsas de valores e iates de luxo, as suas catedrais de consumo e os seus papas dourados, o Deus da opulência desmesurada que matou e destruiu milhões de seres humanos de todas as cores, formas e feitios, a brutalidade gananciosa do monstro enfim derrotada e pronta a ser esquecida na imensidão do Cosmos. 

    Aleluia!

    (espero sinceramente que as bombas não voem mas adorava assistir à queda do déspota e do seu Deus: o Deus da Fúria, o Deus da Guerra, o Deus da Ganância)

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