Terá dito Leonardo de Vinci que "a pintura é uma coisa mental". Mais isto menos aquilo, consideremos que sim, que o mestre terá dito que a pintura é uma coisa mental.
Conta-se que a frase lhe terá saído após uma queixa dos monges do convento de Santa Maria delle Grazie que reclamavam do facto de ele passar mais tempo embasbacado a olhar para a parede do que a mexer em pincéis e tintas. Será uma das muitas anedotas que se contam sobre pintores e pintura mas deixou uma marca muito profunda no modo como imaginamos que a produção artística se movimenta numa espécie de fronteira entre este mundo e um outro, no qual as formas se encontrarão em estado puro.
Esta manhã ia caminhando pelo parque quando me veio à cabeça esta frase e, por arrasto, a questão que ela encerra. Especado perante uma árvore tentando captar-lhe a forma, as subtis diferenças de cor e de tom que a luz matinal proporcionava ao meu olhar, pensei na famosa questão: estaria eu, naquele momento, a pintar?
Entre aquilo que imaginamos e aquilo que pintamos está o nosso corpo. Nem sempre a ideia encontra correspondência na forma, as nossas limitações impedem que a coisa seja tão perfeita quanto a imaginamos. Quando pintamos perseguimos uma ideia, uma espécie de sonho, que se nos adianta sempre, que raramente conseguimos alcançar. Pintar é mais ou menos como pretender atingir a linha do horizonte numa paisagem interminável: dirigimo-nos para ela mas nunca a alcançamos; é o horizonte, caraças!
Desci a rua em direcção a casa e pensei que, na verdade, tudo é uma coisa mental. Até a vida. Mas... e a morte?
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