quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Imperceptível?


Sabemos que as revoluções, quando acontecem, são como que inflamações da alma, crises passageiras e violentas que transformam o modo de ver o mundo de um grupo mais ou menos alargado de pessoas. São fases críticas, durante as quais o universo dos sonhos entra em colisão com o mundo real, criando zonas de grande instabilidade, abrem-se fendas na realidade que deixam muita gente apreensiva.

Sabemos que, após o período revolucionário, o mundo real tende a retomar o seu aspecto granítico e inamovível, mas a verdade é que a sua superfície sai sempre arranhada, a revolução provoca ligeiras alterações que irão mudar o aspecto da coisa, por muito imperceptíveis que essas alterações nos possam surgir.

É preciso acreditar nas alterações provocadas por uma revolução. A revolução não resulta sem uma certa dose de ingenuidade social.

O que se está a passar no mundo árabe é notável. A invasão do Iraque não levou a nada. A força bruta das armas apenas provocou um maior fechamento das sociedades árabes à influência ocidental. Por outro lado, a informação globalizada e o desejo de mudança das populações está a produzir efeitos interessantes. As verdadeiras revoluções não se operam de fora para dentro, elas surgem no interior das sociedades humanas.

Poderemos pensar que nada de significativo se irá alterar. Que os pobres continuarão a vegetar na busca de uma vida um pouco menos madrasta, que os ricos continuarão a gozar de privilégios imensos, que os ditadores apenas mudam de farpela, etc. etc. Mas, na verdade, alguma coisa mudará e o futuro se encarregará de moldar essa mudança.

As coisas ainda estão quentes e informes. Quando arrefecerem o mundo vai estar diferente. Melhor? Pior? Impossível dizê-lo para já. O mundo estará seguramente diferente. Essa é a única certeza que poderemos ter. Nem que seja apenas um bocadinho...

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