terça-feira, julho 27, 2010
Condicionado
Férias são férias, caramba, hoje fui outra vez ao cinema!
Está um calor de rachar e não há local mais apropriado para um ser humano que um espaço fechado alimentado a ar condicionado. Quando entrei no centro comercial onde se acomodam as salinhas de cinema senti logo aquela lambidela fresca e seca do ar condicionado. O espaço imenso do Palácio do Gelo (nome redentor, nos dias que passam), em Viseu, não tem uma atmosfera verdadeira, nem pode. É em lugares como este que penso no esforço de produção e desperdício de energia necessários para manter a nossa sociedade a funcionar nos parâmetros que consideramos minimamente aceitáveis. Conforto, é a palavra de ordem. O calor lá fora não parece real, quando estamos cá dentro. A verdade e a realidade à cabeçada, como de costume.
Visto que o ar condicionado é um factor importante na decisão de ir até uma sala de cinema, resta dizer que o filme que fui ver foi a nova versão de Robin Hood, realizada por Ridley Scott. Não havia muito por onde escolher. É certo e sabido que escolha tem a ver com a oferta. É a essência do nosso modo de vida. E a ZON Lusomundo abafa por completo a oferta cinematográfica por este país fora. Os mesmos filmes em todo o lado, como se fosse uma empresa de fast food. Podemos estar em locais afastados geográficamente mas aquilo que temos à nossa disposição é igualzinho. A qualidade é uma miragem, nestes dias de calor abrasador. Nos restantes dias do ano é a mesma coisa.
Este novo Robin do Capuz faz uma releitura radical da história clássica do herói e das suas relações com Lady Marion, o Rei Ricardo Coração de Leão, o Princípe/Rei João, o Xerife de Nottingham, João Pequeno, Will Scarlett, etc. e tal. É um filme algo maçador, pesadão, chato mesmo, em algumas passagens. Mas acaba por prender o espectador mais familiarizado com as personagens. Sempre se quer ver até onde vai a inovação desta versão.
E vai longe. Talvez até vá longe de mais. Comprido e chato, como a espada do Rei Ricardo. Se não vires isto, caro leitor, não saberás o que perdes. Se vires, talvez não chegues a saber o que ganhas. É uma questão de ar condiconado.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Como não estou por Viseu, não vou de certeza ver o "Robim dos Bosques". Posso estar lendo no café do prédio que tem o tal ar que é condicionado, neste caso ao consumo de um café e uma água, ou uma "bejeca" com ou sem caracóis.
Mas já entrevi o tal de "Inception" que em português se chama "Origem", que me desafiaste a espreitar. É o Freud revisitado (a psicanálise é evidente, embora se procure disfarçá-la um tanto) em filme de acção, tratado com as recentes teorias da linguagem. O tema é muito interessante, esse de "plantar" ideias noutros, esperando que esses outros as adoptem como suas, até ao ponto da mistura das memórias. É o sonho da propaganda e do "Admirável Mundo Novo" e parece-me coerentemente desenvolvido, esticando as possibilidades ao limite. se bem que a velocidade da narrativa me tenha feito distrair de algumas coisas do conteúdo. É assim, um filme com interesse só se deixa ver a partir do 2º bilhete e este vale-o.
Já o Polanski, fez mais um "remake" de "O Enviado da Manchúria", filme de Frankenheimer de 1962. Apesar da matriz (que tratava da guerra fria) é uma revisitação interessante e importante (e sarcástica a meu gosto) da política internacional da última década. É uma delícia ver o "visionário" Tony Blair (fundido com o Clinton) sendo tratado como um agente indirecto da CIA do bronco Bush, mais o que rodeia essa trama.
Não fiques muito encalorado lendo o texto. Deixa para a noite e lê um parágrafo por dia.
Então como é mesmo o título de Palmela?
É o Robin do Capuz (hood=capuz, para ser "dos Bosques" teria que ser "wood" e, ainda assim...)
Quanto aos filmes que interessam, sim: Inception merece, pelo menos, um segundo mergulho e O Escritor Fantasma permite ao espectador de cinema desencantado reencontrar algum conforto na sala de cinema.
O próximo filme que vou ver (este com expectativas elevadíssimas) é o novo Toy Story. Aí o cinema atinge um nível a que não estamos habituados. É trabalho da Pixar, um dos estúdios onde a ideia de cinema clássico continua a manter os cineastas mais vivos que moribundos.
:-)
Enviar um comentário