terça-feira, fevereiro 02, 2010

Neoqualquercoisa


Nos comentários ao post anterior Madoka colocou uma questão: "Para onde vamos?" Pois quer-me parecer que já lá estamos a chegar e dali não iremos para muito mais longe.
Entre as "elites" "liberais" ou "conservadoras" ou "neoliberais" ou "neoconservadoras", (é estranho como estes dois conceitos, aparentemente antagónicos, começam a misturar-se como um peido se mistura com o fedor de um cadáver putrefacto até ser impossível discernir qual o incómodo causado por um e o pivete procedente do outro) vai ganhando forma a ideia de que o Estado deve ocupar-se de um número muito reduzido de campos de actuação na coisa pública. Defendem os mais visionários destes "neoqualquercoisa" que o Estado deve investir e tutelar apenas a Justiça e a Defesa. Ou seja, o dinheiro dos nossos impostos deverá ser investido exclusivamente nos tribunais, nas polícias e nos exércitos. Ah, e nos ordenados dos governantes, é evidente. As restantes áreas sociais deverão ser entregues à iniciativa privada por configurarem zonas de negócio mais do que apetecíveis. Educação, saúde, transportes, tudo o que que resta tem, segundo estes pensadores, um peso insuportável nas contas públicas. OK, compreendo. Os "neoqualquercoisa" pretendem um estado policial onde os poderosos controlem a criação e a aplicação das leis através dos parlamentos e dos tribunais, bem como a possibilidade de evitar qualquer gesto de revolta mais ou menos organizado mantendo o exército e a polícia em permanente prevenção. É tão simples que chega a ter a sua beleza.

Resumindo; pagamos impostos que nos são devolvidos em esquemas repressores dos nossos direitos (que se vão esbatendo no pano de fundo da História a cada dia que passa). Neste universo maravilhoso falta apenas estabelecer a nova Santa Aliança em que a relação privilegiada que o estado tinha com a igreja é substituída pelo concubinato com a Comunicação Social, como forma de amaciar as mentes mais cépticas. Perfeito não? Se os lobos fossem animais um pouco mais inteligentes haviam de investir na criação de carneiros em redis bem vigiados ali, ao pé da porta.

Como esta coisa monstruosa ainda é bébé e se vai contorcendo na sombra com dores de crescimento, ganhando forma a cada dia que passa, não estamos muito preocupados com ela. Por enquanto. Quando crescer mais um palmo e tiver dentes e apetite definido já será demasiado tarde. Irá cumprir o seu destino que é alimentar-se de nós próprios. Um bocadinho cada dia, um nadinha de cada vez.

7 comentários:

Anónimo disse...

Madoka, não pegunte para os mestres, que eles respondem!!! srsrs

Lina Faria disse...

Silvares, primorosa sua leitura sobre o bicho papão Estado.
Texto irônicamente genial!

Anónimo disse...

Putz Eduardo, cê tem razão rs. eles sabem e respondem tudo na lata. rs..
abraços
madoka

Olaio disse...

O que vale é que muitos de nós estão estragados, ou vão ficando estragados em virtude das virtuosas acções destes governantes e assim, muitas vezes, quando uma dessas "coisas" come um de nós, dá-lhe um trangolomango e pffff, vai desta para melhor.

MUMIA disse...

I FOUGHT THE LAW AND THE LAW WON!!!
The Clash
eles tinham as suas razões...

Silvares disse...

Eduardo, esta perspectiva pode parecer nebulosa mas parece-me perfeitamente plausível. Ainda por cima tinha estado a falar com duas colegas professoras naquela manhã expondo as ideias do post. Foi só passar à escrita.
:-)

Lina, a ironia é importante para manter uma certa alegria no dia-a-dia.

Madoka, eheheheh, foi você quem perguntou!
:-)

Olaio,é, há algumas maçãs podres no cesto. Contaminam as outras e fica tudo intragável!

MUMIA, na imagem (do Banksy) há um ligeiro desvio ao tema dos Clash... ironia!

MUMIA disse...

é verdade...manhoso!!