As tragédias mediatizadas despertam nas pessoas normais uma anormal sofreguidão pelo consumo de imagens a baixar o nível para perto de tenebroso. Tremores de terra, inundações, maremotos, incêndios ou "simples" surtos de doenças infecciosas, tudo é perfeito para nos encher os minutos mais vazios. Guerra, morte eminente, desgraça! Tudo isto é tão incómodamente perfeito e cabe tão bem nos écrãs de televisão que nós, cidadãos-consumidores do mundo Ocidental, habituámo-nos a conviver com as imagens mais escabrosas com absoluta tranquilidade.
O que está a acontecer no Haiti? O Iraque continua a ferro e fogo, não continua? Entretanto outras calamidades passaram para a ordem do dia. O Haiti cansou rapidamente, o Iraque já chateia pois o guião dos atentados-suicidas com carros-bomba já se banalizou ao ponto de não vender jornais nem preencher espaços informativos na TV entre blocos publicitários. 100 mortos num atentado? Pois sim, que tédio. O povão da aldeia global está sedento de novas emoções (ou então emoções velhas vestidas com novas roupagens mediáticas) e não se cansa de ver e rever a desgraça alheia. Estaremos a ficar insensíveis?
Todos os dias novas imagens assustadoras e situações de uma barbaridade inaudita inundam os nossos cérebros, preenchem-nos cada recanto da memória com coisas que não deveríamos sequer imaginar. Mas a desgraça vende muito mais que a felicidade. A desgraça é o verdadeiro motor da imaginação globalizada. Talvez seja uma forma de nos fazer aceitar mais facilmente o nosso quotidiano delirante e algo bolorento.
É a formatação mediática da dor e do desespero que nos desperta suaves sensações de felicidade mórbida. Nada de especial.
4 comentários:
Tipo yoga do riso?
Rapaz,a imagem causa vergonha. Tenho vergonha do que somos.
Também sou contra sensacionalismo, mas não podemos ser Polianas e virarmos os rostos às mazelas, se elas existem.
O problema é mesmo a banalização de tudo.
Não consigo olhar essa imagem do post, sem sentir náuseas.
Jorge, não há posição confortável!
Beto, não se envergonhe por aquilo que você não é. Não vale a pena.
Lina, não se trata de virar o rosto. Apenas olhar de frente quando isso é necessário.
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