quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Sofreguidão


As tragédias mediatizadas despertam nas pessoas normais uma anormal sofreguidão pelo consumo de imagens a baixar o nível para perto de tenebroso. Tremores de terra, inundações, maremotos, incêndios ou "simples" surtos de doenças infecciosas, tudo é perfeito para nos encher os minutos mais vazios. Guerra, morte eminente, desgraça! Tudo isto é tão incómodamente perfeito e cabe tão bem nos écrãs de televisão que nós, cidadãos-consumidores do mundo Ocidental, habituámo-nos a conviver com as imagens mais escabrosas com absoluta tranquilidade.

O que está a acontecer no Haiti? O Iraque continua a ferro e fogo, não continua? Entretanto outras calamidades passaram para a ordem do dia. O Haiti cansou rapidamente, o Iraque já chateia pois o guião dos atentados-suicidas com carros-bomba já se banalizou ao ponto de não vender jornais nem preencher espaços informativos na TV entre blocos publicitários. 100 mortos num atentado? Pois sim, que tédio. O povão da aldeia global está sedento de novas emoções (ou então emoções velhas vestidas com novas roupagens mediáticas) e não se cansa de ver e rever a desgraça alheia. Estaremos a ficar insensíveis?

Todos os dias novas imagens assustadoras e situações de uma barbaridade inaudita inundam os nossos cérebros, preenchem-nos cada recanto da memória com coisas que não deveríamos sequer imaginar. Mas a desgraça vende muito mais que a felicidade. A desgraça é o verdadeiro motor da imaginação globalizada. Talvez seja uma forma de nos fazer aceitar mais facilmente o nosso quotidiano delirante e algo bolorento.

É a formatação mediática da dor e do desespero que nos desperta suaves sensações de felicidade mórbida. Nada de especial.

4 comentários:

Jorge Pinheiro disse...

Tipo yoga do riso?

Beto Canales disse...

Rapaz,a imagem causa vergonha. Tenho vergonha do que somos.

Lina Faria disse...

Também sou contra sensacionalismo, mas não podemos ser Polianas e virarmos os rostos às mazelas, se elas existem.
O problema é mesmo a banalização de tudo.
Não consigo olhar essa imagem do post, sem sentir náuseas.

Silvares disse...

Jorge, não há posição confortável!

Beto, não se envergonhe por aquilo que você não é. Não vale a pena.

Lina, não se trata de virar o rosto. Apenas olhar de frente quando isso é necessário.