quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Ricochete

Caretos de Podence (ainda vai havendo alguns)



Lembro-me bem quando chegaram as telenovelas brasileiras. Tudo começou com "Gabriela cravo e canela". Era eu um rapazito e aquilo foi uma benção caída do céu aos trambolhões. Todos os dias úteis da semana, lá por volta da hora do jantar, a cidade parava para assistir enfeitiçada às tropelias da boa da Gabriela mais do Seu Nacib e do Sinhôzinho Não-Sei-Das-Quantas. Para mim e para os meus amigos era uma oportunidade dourada, já que as mães quase não davam por nós, a esgueirarmo-nos para a rua sem ter de inventar nenhuma desculpa especial. Na rua ouvia-se o som da novela que deslizava pelas janelas, todas as janelas, mas a aventura era outra.

Depois foi o que se sabe. Novelas e mais novelas, umas atrás e em cima das outras, initerruptamente, até à náusea. Nos dias que correm já são mais as novelas portuguesas que as brasileiras mas a coisa veio lá do outro Portugal, o Portugal grande que dança e canta e não quer saber de misérias.

Com o Carnaval dá-se um fenómeno vagamente semelhante. Aqui, deste lado do Atlântico, fazemos de conta que somos um Brasil pequenino e vamos esquecendo as tradições seculares do Entrudo. Desaparecem os caretos e aparecem as escolas de samba. Cada ano que passa são mais escolas a desfilar um pouco por todo o lado.
Mas há um pormenor que me deixa espantado. É o clima. Em Fevereiro Portugal passa um frio de congelador tresloucado (este ano então nem se fala!) enquanto que no Brasil está um calor "senegalesco" como li no blogue do Peri. É a diferença entre o Inverno e o Verão. Mete dó ver as sambistas em terra lusitana, com mais carne que roupa em cima do corpo, tentando manter o sorriso afivelado. Cá para mim aquilo são dentes cerrados para morder o frio, não são sorrisos.

A pergunta difícil é: Porquê?

Porque será que os portugas tentam copiar as "modas" dos brazucas? Estarão ensandecidos? Bom, parece-me justo. Afinal de contas nós mandámos lá para o Brasil carradas de portugueses. É justo agora levarmos com este ricochete cultural. Não é grave e só dói a quem anda de tanga numa rua chuvosa com temperaturas a rondarem os 0º (zero graus). Tá-se bem.

5 comentários:

Beto Canales disse...

Acredite, somos mais que novelas, carnavais e futebol.
Pouco mais, é verdade, mas somos.

Selena Sartorelo disse...

Olá Rui,

Minha mãe gostava muito de novelas, mas infelizmente não largava do meu pé, por isso restava-me pouco além das novelas. E por quase vinte anos trabalhei como produtora de algumas também
Isso evidentemente não reprime a opinião que tenho sobre elas.
O carnaval eu não gosto mais do que gosto. Então apenas espero que os portugueses o copie melhor do que as cópias que fazemos aqui.

Silvares disse...

Beto, de Portugal antes da Revolução de 1974 dizia-se que era o país dos 3 "F": Fado, Futebol e Fátima. O mesmo que dizer: música triste como a noite, pontapé na bola e crendice religiosa. E Portugal é muito mais do que isso,~são os portugueses que definem o país. Claro que o Brasil tem muito mais que carnaval, futebol e novelas. Só pode! Com tantos brasileiros...
;-)

Selena, nos dias que correm até posso ver novelas (sou louco por futebol), conheço muita gente que as faz e gosto de ver as pessoas no écrã. Neste post quis realçar a importância da memória colonial portuguesa na actualidade do país. Repare que em Espanha as novelas são mexicanas e venezuelanas... cada um tem a "cruz" que merece.
:-D

MUMIA disse...

estes são cá dos nossos e muito mais bonitos!!! Carago!!!

peri s.c. disse...

Silvares
Na verdade, os portugueses é que são os "culpados" pelo nosso carnaval. Foram os imigrantes que truxeram pai-e-mãe da festa, em meados do sec. XVI, com o nome de entrudo.

Como você lembrou, somos muitos, portanto temos vários carnavais !

São diferentes ( exceto por parte do povo na rua ) as festas no Rio, São Paulo, Salvador, Recife, Olinda, etc, etc.
Aí em Portugal estão tentando copiar o carnaval "televisivo", que é no que se transformaram ( para pior, quanto música e participação popular ) os desfiles de Escolas de Samba do Rio e São Paulo.
Espetáculos únicos e impressionantes, mas hoje deturpados de suas origens. Evolução nem sempre é para melhor.