A Natureza não é para brincadeiras. Os últimos dias têm feito muitos corações bater mais depressa do que o esperado e outros parar definitivamente. É a chuva que cai com a força de mil demónios e bate no chão como um baterista maluco a desfazer os tambores. Cada vez que o céu se fecha e desaba sobre nós nas mais variadas formas; água, granizo, neve, dispara a imaginação dos mortais, a tentarem perceber onde pretendem os deuses chegar com tal loucura e exagero.
A Madeira está destroçada. A ilha parece feita de plástico barato e os desmandos urbanísticos das últimas décadas têm a sua quota parte de responsabilidade na tragédia que sobre ela se abateu. As pessoas estão desorientadas. Os crentes dividem-se entre os que se agarram ainda mais à sua fé e aqueles que começam a questionar a bondade dos que habitam para lá do chumbo cinzento das nuvens.
As imagens que nos chegam da ilha põem à prova a nossa capacidade de sequenciação da realidade. A terra faz-se mar e não há mar que se faça terra. A ilha parece coisa de um episódio de Perdidos. Morreu muita gente, há dezenas de mortos que são desaparecidos. Cá no "contenente" as pessoas andam com medo da chuva. Lá na ilha não posso sequer imaginar.
10 comentários:
Silvares,
Acompanhando daqui o dilúvio pós-moderno, fico a pensar a quanto estamos do pós-tudo.
Não querendo ser apocaliptca, já sendo, a terra mostra sua exaustão com sintomas de vária hemorragias pontuais, pulverizadas em seu colossal corpo.
Varizes que se rompem, convulsões por neurônios que se deslocam.
Regurgítos fétidos que inundam e retomam seu lugares.
Cancros que aos poucos vão se transformar em metástase que abrem um buraco profundo e acabou-se o mundo...
Vixe! exagerei.
Mas aqui vivemos várias cidades varridas, liquidificadas.
São Luiz de Paranatinga, pequena e bucólica cidade paulista, viu sua igreja matriz centenária se desintegrando e arrastando consigo outras casas coloniais que ainda haviam.
Mortos, muitos mortos, em lugares onde sentiam-se seguros, corretos com seu quintal imediato, mas esquecendo-se de sua (nossa) pequenez em relação ao cosmos, ao todo, ao infinito, até onde não o conhecemos.
De tanto encomodarmos com pruídos, resolveram jogar uma água nas pobres pulginhas, como diz você.
Vários pontos sucumbindo, derretendo..
Bem, dormir com um aguaceiro desses, nem de bóia!.
Será que os Deuses estão loucos ou apenas zangados?
Que tragédia! Estou chocada, foi tudo tão rápido e destrutivo. Aqui andamos mesmo com medo da chuva, mal dá uma trovoada e chove um pouco mais as pessoas olham umas para as outras sem dizer uma única palavras...o olhar diz tudo!
Não são os deuses que estão loucos, somos nós que a tudo destruímos...
Texto fantástico.Comentário da Lina a merecer um post autónomo. Para mim, apenas chuva...
é inimaginável o que as pessoas passam, o que sentiram, a angústia, a impotência...a natureza é assim, forte e implacável às vezes! A natureza precisa de liberdade e andamos a amordaçá-la...força Madeira
Lina, nós somos apenas inquilinos neste planeta, não somos proprietários...
Moi, há dias em que os deuses parecem loucos furiosos!
Doll, e com o fenómeno dos mini tornados nos últimos dias, ao medo da chuva soma-se a desconfiança em relação ao vento.
Beto, se formos filhos de Deus (ou dos deuses) só posso dizer que quem sai aos seus não degenera.
Jorge, e nós nada mais do que humanos.
Hellag, na verdade nunca conseguimos concluir a construção do nosso mundo. A vida é mais reconstrução constante...
Face a tamanha tragédia o cinismo parece mal, descabido e arrogante, eu sei. Mas também sei que se construiu em leito de cheia e se atulhou as enormes encostas que são quase toda a Madeira de casas e barracas e túneis e estradas de traçado duvidoso. Depois é isso, como se a ilha se quisesse lavar...
(e depois, lá está o cínico, mea culpa, já reparaste que, nas notícias, o nº de mortos vai diminuindo à medida que mais corpos são encontrados? dos 48 anunciados à dias, passou para 43, depois 42 e agora ao almoço eram já 38...)
Abraço
Silvares,
desculpe ocupar tanto espaço em meu comentário.
Hoje no Não Lugar, fiz uma menção a esse post. Veja.
abc, lina
Caçador, isto faz-me lembrar o moral da história da cigarra e da formiga. A flutuação do número de mortos tem algo de místico... será fruto de alguma esperança profunda?
Lina, não há problema, os visitantes são livres de utilizarem o espaço que entenderem ser necessário.
Quanto ao post, caramba, que vaidade senti!
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