Está feitinho. A Colecção Berardo foi avaliada para cima de um balúrdio pela insuspeita Christie's e no CCB prepara-se a exposição das obras para o grande público.
É um momento de felicidade para a cidade de Lisboa que, assim, verá inscrita nas páginas da sua oferta de turismo cultural uma importante rúbrica, capaz de atrair mais espanhóis nas diferentes celebrações de festas religiosas (Natal e Páscoa, à cabeça).
Berardo tem razões para estar satisfeito pois conseguiu alcançar um dos seus objectivos: criou um merecido espaço de celebração da sua pessoa, uma catedral dedicada aos seus feitos coleccionistas, o que muito o deve orgulhar.
A ministra da cultura lá fez o discurso da ordem afirmando que "Fazer todos os esforços para fixar a colecção em Portugal é um imperativo nacional e um dever patriótico." Isto soa um bocadinho mal. Soa a saloiice bacôca mas, vindo da boca de quem vem, não espanta nada e mostra como, para a senhora, a cultura é um bicho estranho e mal encarado. Recordo, a título de exemplo, que o governo de que a senhora faz parte prometeu elevar até 1% do Orçamento de Estado os gastos com a Cultura e, feitas as contas em nome da Santa Economia, esse investimento, afinal, caíu para 0,1%. Será a senhora que não consegue abrir a boca nos conselhos de ministros ou, mais simplesmente, quando tenta falar é mandada estar calada? Onde irá alguma vez o estado português desencantar, nos próximos 10 anos, os 316 milhões de euros necessários para aquisição da dita colecção? Penso que Berardo procurará apenas prolongar o contrato com o estado e não voltará a fazer figura de ursinho de peluche ameaçando levar os seus brinquedos para outro país caso não o deixem a ele organizar a brincadeira.
O acervo de Berardo contém muitas obras de inegável valor no panorama da história da arte do século XX, principalmente a secção Pop Art, e outras menos estimulantes apesar dos nomes nas assinaturas (recordo um Miró pouco mais que arrepiante e um pequeno mas admirável Picasso que vi em Sintra vai para uma mão cheia de anos, quando Berardo os adquiriu). No conjunto, e com uma gestão que se prevê inteligente e equilibrada, teremos à disposição do povinho um museu de arte contemporânea que, de outra forma, seria simplesmente impossível de lhe oferecer.
A partir daqui os olhares de todos os que se interessam por este tipo de fenómenos culturais vão concentrar-se no CCB e no grande Berardo, o homem que um dia julgou ter adquirido a Mona Lisa mas a quem a esposa fez notar que tinha, apenas, comprado um "print", como diz o Comendador no seu português característico.
Berardo (como podemos ver nas fotos acima) é um homem que ri. Isso é sinal de boa saúde e vontade de viver. Não se lhe exige muito mais do que isso. Portanto, será de bom tom que o Comendador mantenha esse hábito saudável e seja, de facto, um benemérito que reconhece que a ignorância é motivo de tristeza e miséria e que pretende contribuir de forma activa para combater esses flagelo do bem-estar individual e colectivo. Esperemos que Berardo nunca venha a pôr-se em bicos-de-pés. Seria uma visão ridícula e um desastre eminente.
Berardo nunca será uma bailarina.
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