Mais um caso de título impossível. Little Miss Sunshine no original dá, em português, "Uma família à beira de um ataque de nervos". Admito que não desse para fazer uma tradução literal. Miss Little Sunshine é, tanto quanto percebi, a designação de um concurso de beleza infantil, daqueles que são promovidos nos States o que por aquelas bandas terá outro impacto nos espectadores. Mas colar o título deste filme a uma expressão que se vulgarizou entre nós graças a um outro, de Pedro Almodóvar, é, no mínimo, lamentável até porque os filmes não têm nada comum.
Este Miss Little Sunshine vê-se com interesse do primeiro ao último plano. É um daqueles filmes americanos que nem parecem sê-lo (estou a lembrar-me do recente "A lula e a baleia", um título decente e literal). Poucos meios de produção, um conjunto de actores perfeito para os papéis, um argumento bem recortado e uma realização esmerada, onde mesmo os planos mais inocentes parecem ter sido estudados com a minúcia de uma pintura neoclássica. A montagem refina a qualidade potencial das filmagens e o resultado, apesar de um ou outro momento mais redundante, acaba por ser mais do que satisfatório.
O tema da viagem, tão recorrente desde, pelo menos,a Odisseia(:-), é mais uma vez revisitado. Não será aquilo que se chama ou road-movie (tanto quanto me parece) mas a ideia de que as viagens nos modificam, que interessa mais aquilo que nos acontece entre o ponto de partida e o de chegada mais do que outra coisa qualquer, fica claramente expressa na redenção final das personagens sobreviventes.
Para o espectador europeu fica também aquele travozinho adocicado de compreender que uma certa visão dos EUA e dos seus habitantes não é sinónimo de anti-americanismo primário mas apenas uma visão possível, colocando o cérebro numa determinada perspectiva. As cenas finais, rodadas durante o tal concurso, são bem significativas.
Um filme a ver sem sombra para qualquer dúvida.
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