A existência de Deus manifesta-se das mais variadas formas. A construção de uma imagem laboriosamente conseguida ao longo de séculos e séculos, desde as profundezas escuras dos úteros cavernosos da terra pré-histórica à luz brilhante do génio escultórico do pensamento grego, a energia indizível da divindade tomou as mais diversas formas, de acordo com visões, revelações e premonições mais ou menos inspiradas de artistas e poetas.
Entre nós, herdeiros da tradição greco-latina, o cristianismo foi gerando um rosto para Cristo adaptado ao sabor das circunstâncias. Muito por acção dessa campanha mediática cristã, vivemos actualmente uma civilização da imagem onde tudo o que é verdade tem um rosto e o que o não tem, ou custa a crer que existe, prefere manobrar na sombra do anonimato.
Esse imenso trabalho de revelar a face de Deus fez com que entrássemos no domínio do ícone e, tal como temiam algumas facções entre os primeiros cristãos, esquecemos frequentemente o Homem, o Profeta, e ficamos ofuscados pela imponência espectacular da imagem que Dele foi criada. Ignoramos a transcendência maravilhosa da Sua poética existência e não nos damos ao trabalho de tentar compreender a profundidade espiritual da Sua mensagem. Só temos olhos para o brilho dourado das obras imponentes que Lhe foram oferecidas por homens pouco modestos. Papas, Imperadores ou Faraós.
A Igreja católica apostólica romana exige fé. Para ela basta uma fé simples para entrar no caminho da salvação da alma. Basta ser crédulo. Aos católicos não é exigida a utilização da razão para ser aceite na igreja, antes pelo contrário. Daí que a lição do Professor Ratzinger tenha sido tão mal compreendida (ou terá sido simplesmente mal preparada pelo Mestre?), a audiência, fora da sala onde proferiu o seu discurso em Ratisbona, está longe de poder compreender na totalidade as tortuosas razões teológicas por ele equacionadas. Á igreja católica interessa manter o status quo, conservar a tradição. A igreja é conservadora, não se reforma nunca por vontade própria, apenas se reforma quando acossada por alguma ímpia e insuportável pressão.
Por outro lado, uma vez que o Papa é infalível, não adianta ao Professor Ratzinger vir agora pedir desculpas na pele de Bento XVI. Cada palavra foi decerto cuidadosamente ponderada antes de ser proferida. Não é credível que o Papa tenha sido vítima de si próprio pois poucos como ele saberão tão bem o que dizem, quando o dizem e onde o dizem.
O problema é que Cristo foi um Profeta que acabou usurpado e abusado por igrejas camaleónicas que o utilizam sempre conforme as circunstâncias. Tal como fazem actualmente os fanáticos do Islão, também os cristãos das mais variadas igrejas utilizaram em vão o nome do seu Deus para justificarem crimes hediondos nas mais variadas situações.
A utilização abusiva da Sua mensagem continua não tanto para matar mas mais para roubar os pobres de espírito. Os exemplos abundam e proliferam principalmente nos subúrbios das grandes cidades entre uma população maioritariamente ignorante e completamente alheia às subtilezas teológicas necessárias para encetar com um mínimo de credibilidade o diálogo inter religioso que se afigura imprescindível aos olhos de todos os que não são fundamentalistas.
Deus poderá existir mas não tem decerto a forma que os poetas lhe deram nem os desígnios que as igrejas Lhe atribuem. Deus não pode proteger uns e amaldiçoar outros porque isso, simplesmente, não faz qualquer sentido. Acreditar nisso é reduzi-Lo à nossa insignificância e implicá-Lo nas guerras que travamos uns contra os outros, vestindo-Lhe uma farda de general de mil estrelas. A Razão impede a possibilidade de existência a uma divindade tão prosaica e tão reles que fosse capaz de condenar a vida que ela própria cria.
Como escreve Frei Bento Domingues no fecho da sua crónica de 1 de Outubro no Público, “Deus não é propriedade privada”, (texto extraordinário que mereceria maior divulgação) “Não adianta dizer que há um só Deus se esquecemos, cristãos e muçulmanos, que há uma só humanidade a respeitar e a servir por todos.”
Não adianta cuidar da alma se pretendermos ignorar o corpo que ela habita.
Entre nós, herdeiros da tradição greco-latina, o cristianismo foi gerando um rosto para Cristo adaptado ao sabor das circunstâncias. Muito por acção dessa campanha mediática cristã, vivemos actualmente uma civilização da imagem onde tudo o que é verdade tem um rosto e o que o não tem, ou custa a crer que existe, prefere manobrar na sombra do anonimato.
Esse imenso trabalho de revelar a face de Deus fez com que entrássemos no domínio do ícone e, tal como temiam algumas facções entre os primeiros cristãos, esquecemos frequentemente o Homem, o Profeta, e ficamos ofuscados pela imponência espectacular da imagem que Dele foi criada. Ignoramos a transcendência maravilhosa da Sua poética existência e não nos damos ao trabalho de tentar compreender a profundidade espiritual da Sua mensagem. Só temos olhos para o brilho dourado das obras imponentes que Lhe foram oferecidas por homens pouco modestos. Papas, Imperadores ou Faraós.
A Igreja católica apostólica romana exige fé. Para ela basta uma fé simples para entrar no caminho da salvação da alma. Basta ser crédulo. Aos católicos não é exigida a utilização da razão para ser aceite na igreja, antes pelo contrário. Daí que a lição do Professor Ratzinger tenha sido tão mal compreendida (ou terá sido simplesmente mal preparada pelo Mestre?), a audiência, fora da sala onde proferiu o seu discurso em Ratisbona, está longe de poder compreender na totalidade as tortuosas razões teológicas por ele equacionadas. Á igreja católica interessa manter o status quo, conservar a tradição. A igreja é conservadora, não se reforma nunca por vontade própria, apenas se reforma quando acossada por alguma ímpia e insuportável pressão.
Por outro lado, uma vez que o Papa é infalível, não adianta ao Professor Ratzinger vir agora pedir desculpas na pele de Bento XVI. Cada palavra foi decerto cuidadosamente ponderada antes de ser proferida. Não é credível que o Papa tenha sido vítima de si próprio pois poucos como ele saberão tão bem o que dizem, quando o dizem e onde o dizem.
O problema é que Cristo foi um Profeta que acabou usurpado e abusado por igrejas camaleónicas que o utilizam sempre conforme as circunstâncias. Tal como fazem actualmente os fanáticos do Islão, também os cristãos das mais variadas igrejas utilizaram em vão o nome do seu Deus para justificarem crimes hediondos nas mais variadas situações.
A utilização abusiva da Sua mensagem continua não tanto para matar mas mais para roubar os pobres de espírito. Os exemplos abundam e proliferam principalmente nos subúrbios das grandes cidades entre uma população maioritariamente ignorante e completamente alheia às subtilezas teológicas necessárias para encetar com um mínimo de credibilidade o diálogo inter religioso que se afigura imprescindível aos olhos de todos os que não são fundamentalistas.
Deus poderá existir mas não tem decerto a forma que os poetas lhe deram nem os desígnios que as igrejas Lhe atribuem. Deus não pode proteger uns e amaldiçoar outros porque isso, simplesmente, não faz qualquer sentido. Acreditar nisso é reduzi-Lo à nossa insignificância e implicá-Lo nas guerras que travamos uns contra os outros, vestindo-Lhe uma farda de general de mil estrelas. A Razão impede a possibilidade de existência a uma divindade tão prosaica e tão reles que fosse capaz de condenar a vida que ela própria cria.
Como escreve Frei Bento Domingues no fecho da sua crónica de 1 de Outubro no Público, “Deus não é propriedade privada”, (texto extraordinário que mereceria maior divulgação) “Não adianta dizer que há um só Deus se esquecemos, cristãos e muçulmanos, que há uma só humanidade a respeitar e a servir por todos.”
Não adianta cuidar da alma se pretendermos ignorar o corpo que ela habita.
2 comentários:
esse Frei deve ser uma espécie rara ....
sobre os crimes do islão, liberdade e democracia sugiro-te o "bem vindo ao deserto do real", do brilhante slavoj zizek, à venda numa fnac perto de ti.
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