quarta-feira, dezembro 16, 2009

Saber coisas


Na sequência dos comentários ao post anterior surgiu uma questão que me parece importante colocar sem receio de obter respostas antipáticas.

Até que ponto é importante o conhecimento da História numa sociedade que baseia o seu modo de vida no consumo sistemático do presente?

Já decretaram a morte da História (tal como já houve quem passasse certidão de óbito a Deus), as novas gerações tendem a menosprezar a herança das gerações anteriores, numa tentativa de afirmação do presente pela negação do passado. Indiferente a estas ideias e declarações bombásticas, a nossa sociedade entrega-se ao consumo desenfreado como um cão que tenta morder o próprio rabo (ou um homem que tenta lamber o próprio cotovelo). Com História ou sem ela, com Deus ou na Sua ausência, nada parece abalar a inexorável autofagia do mundo em que vivemos.

O que interessa a um técnico de informática brasileiro saber quem foram os colonizadores do território onde ele tenta sobreviver no seu quotidiano? É isso que lhe põe comida no prato? E o que poderá significar para a sua fekicidade esse eventual desconhecimento?

Eu sei que a pergunta é falaciosa, mas não é a nossa sociedade global uma falácia?

14 comentários:

Anónimo disse...

Concordo! Hoje é mais importante "saber" qual, e por que preço, poderemos comprar um novo telemóvel, do que quem descobriu o Brasil! E já que esta descoberto, essa informação serve para que? srsrs
Triste mas é a realidade!

Jorge Pinheiro disse...

Na verdade é uma falsa questão. Tudo interessa. É uma questão de prioridades e de cultura. Valorizar em excesso aspectos da "portugalidade", apenas pode servir para agudizar contradições que todas as colinizações; esquecer totalmente isso e pensar somente no preço das bananas, leva-nos a perguntar em que língua pensa esse cidadão. É o bastante, em termos de mínimo denominador comum.

Rui Sousa disse...

É verdade que o conhecimento, como tudo na vida está subordinado a uma lógica de prioridades, podemos ficar aqui a discutir eternamente o que deve ser conhecimento obrigatório para todos que se calhar não chegaremos a nenhuma conclusão ( nem temos que chegar, acho eu ), cada um é motivado pelas suas próprias curiosidades e isso é o que me parece importante. Mas em relação à história aí já acho que é um denominador comum nesta nossa sociedade ocidental. A história é a marca da nossa civilização,para o bem e para o mal, mesmo quando vivemos a 300 km por hora, na vertigem do dinheiro, do poder e do consumo, na hora decisiva o que mais queremos é deixar a marca para a história. Ficar na história é a “doença” da nossa sociedade. Senão porque razão somos tão paranóicos com os museus, as heranças, com a imagem que queremos deixar para os que hão-de vir, nem que sejam só os nossos filhos ou amigos? A frase “ do fracos não reza a história” parece-me que diz muito acerca de nós. A história é a nossa droga e a nossa cruz. Resta saber se estamos a ressacar ou a caminho do calvário.

Jorge Pinheiro disse...

Mas o gajo das "bananas" não vai aos museus. Introdução de um elemento elitista...

Selena Sartorelo disse...

Olá Silvares,

Respostas que atenuem existem tantas quantas as que sentenciam essas questões, situações que as ilustram tão bem, mas quem ler o que o Jorge disse sobre em que idioma nós pensamos já terá o inicio dessa resposta. Tanto para quem fala de um povo culto e para quem fala para um povo inteligente. Há quem possua ambas virtudes, mas esse povo não tem uma nacionalidade, como também não tem, o que não pensa.
Um povo que decorou meia dúzia de palavras, mas não sabe o que elas querem dizer, pois quem sabia não os ensinou como se fazia para querer aprender. Não temos memória e ainda somos capazes de nos ofender quando somos lembrados.
Um país onde a educação e os valores humano foi posto de lado em troca do carros mais bacana. Quando conceito literário e artistico envergonha as com suas Acadêmias de letras com seus critéios de escolha.
Onde estão os pensadores?
Onde estão os professores?
Os arquitetos da mente humana.
Uma falácia também.

A nossa base é oca. Foi corroída pelo emprego garantido e o financiamento da casa própria.

Beijos,

the dear Zé disse...

É pá eu na digo nada que eu é mais caça e isso. E de qualquer maneira o conhecimento serve para conhecer o quê?
Mas essa coisa de lamber o cotovelo, vou já experimentar.

Anónimo disse...

Caçador,

vou tentar também! Será que é bom????

Lord Broken Pottery disse...

Silvares, meu amigo,
Estava mesmo necessitando passar por cá, encontrar inteligência na blogosfera. A pergunta é oportuna e inquietante. A nossa sociedade é com certeza uma falácia. A cultura é cada vez mais negligenciada por ela. Particularmente aqui no Brasil, onde temos um presidente com mais de 80% de aceitação, respeitadíssimo no mundo (talvez por não falarem português), e que costuma declarar que não gosta de ler. Cada vez mais a erudição virou motivo de escárnio. História para quê?
Grande abraço

Silvares disse...

Eduardo, Caçador, então, conseguiram lamber o cotovelo? Complicado, não? Fazer essa tentativa é adicionar mais conhecimento...
:-)

Jorge, a verdade (penso) é que há uma espécie de prazo de validade para o conhecimento que, com o pasar do tempo, tende a afundar-se no esquecimento. A Atlântida existiu mesmo ou é uma coisa assim, tipo Paraíso?

Rui, imagens curiosas. Penso que ainda estamos a levantar a cruz.

Selena, no dia em que TODO o povo for inteligente e culto deixaremos de ter problemas de organização. Acabam as guerras e as intrigas. Deus renasce e a História arranca de novo em direcção a m futuro radioso... como sonho não está mau. A realidade é que é dura como os cornos do Diabo.

Lord, long time no see!
:-D
Parece-me que a cultura também se vai transformando lentamente. Sendo produto da sociedade, a cultura é, ao mesmo tempo, forma e reflexo do povo. Se acoisa é feia, então o povão não deve ser muito bonito!

Lina Faria disse...

Sim, Silvares.
Se cultura é caldo temporal,
talvez caminhemos mesmo rumo a um sopão cada vez mais amargo.
Com condimentos e ingredientes que se oxidam e detereoram-se.
Perecíveis, estamos com o prazo de validade mesmo vencido, com odor cada vez mais fétido.
Em pleno século XXI vimos no perimetro urbano do Brasil, humanos espetando e introduzindo quase 50 agulhas em um frágil corpo de uma criança de menos de 2 anos, visto que uma das agulhas já atingiu o coração.
É a desconstrução moral.
O retorno à barbarie. Horror!

Sim, ando pessimista, caro Silvares...

peri s.c. disse...

Vivemos uma estranha época de diluição . Nunca tivemos tantos meios de comunicação que curiosamente servem esplendorosamente para potencializar as banalidades.
Serve talvez para nos mostrar que a humanidade é profundamente banal.

Rui Sousa disse...

Bem….grande depressão que para aí vai….também não é caso para tanto. Afinal de contas continuamos a ser o mesmo de sempre. E porque razão deixaríamos de ser? Por obra e graça do Espírito Santo? .....

Jorge Pinheiro disse...

O MEU PONTO É: A HISTÓRIA É PARA AS ELITES.

Silvares disse...

Bem, uma falácia é o mais motivador dos pontos de partida precisamente por ser falaciosa.
:-)

Lina, o sopao sabe mal por misturar tantos tempêros diferentes. A globalização permite-nos misturas e receitas culturais até há algum tempo inimagináveis. Picasso, por exemplo, lembrou-se de pintar as cabeças das Meninas de Avinhão depois de ver máscaras africanas. Olha no que deu! É mestiçagem cultural... uma bomba de possibilidades!

Peri, vai ser necessário garimpar a coisa até a banalidade ficar no fundo do rio e a coisa bonita no fundo da peneira.

Rui, precisamente! O Espírito Santo bem poderia desempenhar um papel importante no meio desta confusão. Se aparecesse...

Jorge, eu seria um pouco mais elitista: A CULTURA SÓ INTERESSA ÁS ELITES. Ve-se bem.