Por vezes há notícias que me enchem de orgulho por ser português. Pelo menos num primeiro momento. Durante os instantes em que não penso demasiado sobre o assunto, o título de uma notícia pode lavar-me a alma e deixá-la perfumada como um bébé saído do banhinho.
Repare-se no título desta notícia : Portugal é o mais "generoso" em políticas de integração. Caramba, digam lá se não soa bem!?
Lembro-me de ser miúdo e viver numa aldeia lá para a Beira Alta, entre a serra do Caramulo e a da Estrela. Não havia água corrente, as pessoas passavam fome de cão, os carros de bois cirandavam pelas ruas em tarefas de transporte e os bichos largavam bosta pelo empedrado. O padre era uma figura importante e a minha avó tinha um retrato do Salazar na parede do corredor, logo à entrada da casa.
As pessoas não viajavam. Saíam da aldeia. Os rapazes para a guerra em África e muitos outros emigravam. Uns para França, outros para a Alemanha mas, se bem me lembro, a maioria dos que saíam dali rumavam ao Luxemburgo. Eram tempos de grande miséria e maior ignorância, de mulheres fechadas em roupas negras como a noite, fruto de muitos lutos e uma tristeza arrasadora.
Mas a vida mudou, oh sim, como mudou! Hoje já não há soldaditos a marchar para África e muitos emigrantes regressaram. Construíram casas, montaram negócios, refizeram o tecido social e económico daquelas bandas. Portugal passou a ser também destino de emigração. No mundo actual, os emigrantes vêm de todo o lado, de países que, imagino, passam agora as dificuldades que o nosso passou nos anos 60 e 70. As pessoas procuram melhores dias onde quer que eles possam amanhecer. E Portugal é um país com muito sol e, sobretudo, repleto de portugueses que são gente com o coração ao pé da boca.
A leitura da notícia que acima refiro mostra como, no campo das intenções, não há quem nos bata. Quando se trata de declarar o que nos vai na alma somos campeões mundiais! Temos legislação generosa e um sorriso pronto quando se trata de receber estrangeiros. Estou em crer que também não nos custa aceitá-los como portugueses quando a isso eles se dispõem, embora isso seja apenas um pormenor.
Um povo que se espalhou pelo mundo como o fez o povo português, num laborioso trabalho de séculos de emigração, só pode, agora, abrir os braços e as fronteiras aos que procuram no nosso país aquilo que nós procurámos noutros países: paz, pão e uma vida melhor.
Apesar de haver muitos com um discurso xenófobo e racista, quero acreditar que a esmagadora maioria do povo português está de bem com o mundo e com a restante humanidade. Que se lixem as fronteiras. Venham daí que serão benvindos!
6 comentários:
Um post lindinho! Cheio de bons fluidos e intenções humanitárias.E contado assim, até parecer que foi fácil, ou cointinua a ser!!!!
Diz bem Eduardo, um post lindinho. Mas o que hei-de fazer, há dias assim em que o mundo parece estar um pouco menos horripilante do que o costume.
:-)
Posso parecer romântica,mas sou por um mundo sem fronteiras.
Lina, isso é romantismo mesmo. E qual é o problema?
adorei seu texto e comentário dos seus leitores, lindinhos.
Sério mesmo? dá até vontade de conferir e passar temporada aí então, ou até mesmo dar uma esticada aí, antes de voltar ao Brasil. E é bem isso que vc fala, todos nós queremos: paz, pão e uma vida melhor.
Tem uma banda de rock brasileira que canta bem essa idéia: ´ a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte...´´
adorei.
madoka
Madoka, Portugal não é muito grande (nadinha mesmo) mas cabe muuuuuita gente!
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