domingo, outubro 04, 2009

Um homem como outros


Van Gogh é um caso extraordinário de popularidade. Não sei dizer qual a percentagem de pessoas em todo o mundo contemporâeo que o "conhecem" ou, pelo menos, sabem o que ele fez. Van Gogh é "o" artista que habita o nosso imaginário. O génio meio louco, trabalhador incansável, o pintor capaz de meter na tela a força do mundo e da vida com um vigor nunca antes visto e, depois dele, poucas vezes alcançado.

É do domínio público que, no tempo em que viveu, poucos repararam naquela força nova que emanava das suas telas e desenhos. Foi preciso que a roda do tempo rolasse uns anos largos até que Vincent chegasse até nós e se tornasse íntimo do nosso olhar e do nosso coração sensível. Ele é um artista que conhecemos com uma profundidade rara. Esse conhecimento deve-se, em grande parte, às cartas que escreveu e enviou a Theo, o irmão dedicado, a outra parte de Van Gogh.

Anuncia-se agora a edição de um livro que só pode ser extraordinário, Vincent Van Gogh, The Letters, que será lançado na próxima 5º feira, resultado do trabalho desenvolvido ao longo de 15 anos (!!!) por uma equipa ao serviço do Museu Van Gogh, de Amesterdão. Um acontecimento notável.

Van Gogh terá um dia desejado que a sua pintura fosse para toda a gente, que gostaria que cada família tivesse uma obra sua, pendurada na parede de casa. Sabemos bem como isso é impossível mas sabemos também os milhões e milhões de pessoas que terão reproduções e livros com imagens das obras de Vincent. O sonho utópico do artista realizou-se. Agora serão as suas cartas a entrar no circuito mediático com uma força renovada. Tornar-se-ão também um caso de popularidade absoluta? Talvez isso venha a acontecer alimentando o mito do artista genial e genuíno que Van Gogh representa. Ele, suicida hesitante, que um dia disparou um tiro de revólver no próprio estômago ficando a agonizar durante alguns dias até sucumbir ao ferimento. Van Gogh, o génio absoluto.

4 comentários:

jugioli disse...

Concordo, é de admirar neste artista sua entrega absoluta de amor à arte, o resto foi entremeios. E, talvez seja isso que o tenha marcado, esse amor com devoção.
Vou ficar atenta ao livro que você indicou.

bjs.

Anónimo disse...

Justa homenagem, seu post presta, e muito oportuna a informação do lançamento do livro! Como disse, talvez poucos artistas, dessa magnitude, tiveram seus desejos alcançados, postumamente, como ele!

Silvares disse...

Ju, se há algo que distinga Vincent Van Gogh é esse amor e essa devoção à arte e às pessoas que você refere.

Eduardo, ele mereceu! Só não foi muito feliz quando decidiu disparar aquele tiro maluco. Mas, cada um sabe de si e Deus sabe de todos...

Selena Sartorelo disse...

Olá Silvares,

Quem lê a correspondência trocada entre Theodoro e Vincent Van gogh percebe claramente como esses relatos completam suas telas, mas não creio que essas cartas terão o mesmo destaque que sua arte alcançou. Pois as palavras que as descreve já foram proferida por alguns e é constatada e repetida quando essas telas são observadas, enquanto as cartas revelam o porque de cada cor e simultaneamente apresenta o homem e o artista conflitando com o ver e o olhar, o homem e o artista, o amor em sua totalidade e a incompreensão do que somos .
Infelizmente a leitura é um exercício bem mais difícil do que a apreciação de uma tela.
Como Van Gogh, muitos outros alcançaram essa popularidade, vemos nos lugares mais inusitados, cópias e gravuras das obras dos grandes artistas, o que não saberia dizer é se isso significa alguma coisa. Já estive em lugares onde encontrei muitas gravuras dependuradas. E, quando também, na minha ignorância pergunto de quem é ou qual é a tela? Poucos sabem dizer. Tornaram-se souvenires ou apenas imagens de artistas que “alguns dizem ser bons”.Tenho a impressão que conhecer as obras de Van Gogh está longe de significar entendê-las.
Quando lemos Van Gogh entendemos a dimensão do que ele pretendia e sentia e de fato o que ele pintou.

Beijos,