Estamos todos a tentar ver a mesma coisa mas parece que somos cegos. Olhamos para o que nos mostram e o que vemos? Aquilo que nos dizem que estamos a ver. Mesmo que o nosso olhar sugira algo diferente. Quanto mais olhamos mais nos deixamos invadir pela estranha sensação de que o que vemos não corresponde exactamente àquilo que sabemos. De tanto focarmos o olhar ali, naquele ponto exacto, estamos a perder a noção do resto, do que está em volta. A realidade serve de camuflagem a si própria. Mistura-se tudo. A forma mistura-se no fundo, o contorno dilui-se na mensagem. Vamos ter de fazer um esforço para olhar em sentido contrário. Mas teremos de nos capacitar que "ver" não é o mesmo que "saber". Quando muito "ver" poderá ajudar-nos a suspeitar. As nossas convicções constroem-se de suspeitas. Suspeitemos.
9 comentários:
Suspeito que acabas de criar uma nova forma de ver! Espero não ficar em suspeição se postar este´magnífico texto no Varal! Bom trabalho, no dia do mesmo!
Olá Silvares,
Olhar o olhar do outro naquilo que não sabes entender.
Pensar sobre o teu pensamento somando uma suposta compreensão.
Ter coragem de pensar só, mesmo sob outros olhares.
Uma intenção... um fato, ou enxergar a infinidade do preto e branco no branco e no preto, com suas sombras, luzes e tons.
"As nossas convicções constroem-se de suspeitas." Nunca tive tanta certeza de algo como tenho disso... Absolutamente perfeito o texto, veio na hora certa...
Eduardo, este texto vem na sequência da última aula que dei na escola, sobre o Cubismo. Estou a preparar as próximas sobre Futurismo e Abstraccionismo. Todos os anos, quando chego a este ponto do programa de História da Cultura e das Artes, sou levado a reflectir muito longamente sobre os limites da percepção e o consequente alargamento que a arte dita abstracta proporciona. Este texto resulta do cruzamento dessa reflexão com os acontecimentos do quotidiano.
:-)
Selena, a diversidade dos olhares sobre os objectos e a incapacidade de perceber exactamente o que o outro vê é uma coisa que me fascina. Andamos todos a tentar mostrar aos outros o que criamos no interior dos nossos cérebros. Um trabalho infinito!
:-D
Alice, mesmo essa certeza, bem vistas as coisas, será uma suspeita...
Um fascínio facinante eu supeito.
Absolutamente verdadeiro em seu entendimento...porém não constante e muito menos igual...uma melhora...um aperfeiçoamento...um inferimento nos sentidos sabidos...minhas supeistas nesse momento.
beijos,
Sem ter a ver com o tema do seu post, queria sujerir-lhe um filme. Shawshank Redemption.
Cada vez mais, temos de ver a realidade por um canudo.
Selena, vou continuar suspeitando...
Marina, agradeço a sugestão.
Chapa, dependendo do canudo suspeito que poderei concordar contigo.
Bom, mas ninguém falou na fotografia.
No fim de contas foi ela que despoletou o texto/tema e os comentários. É como o autor do texto diz: "Estamos todos a tentar ver a mesma coisa mas parece que somos cegos". Ela sugere-nos todos esses comentários (e os que vierem) porque é uma foto extremamente rigorosa no enquadramento, na luz, no ritmo,no jogo dos olhares, na definição dos planos e mais que agora não digo, para dar espaço a mais gente. Quanto melhor for a imagem, mais a imaginação é estimulada a construir a sua própria ficção.
Mas isto interessa verdadeiramente a quem? Hoje em dia tenho dificuldade em perceber...
Se calhar estou morto e ainda não dei por isso...
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