sábado, março 08, 2008

100 mil cabeças

Contas feitas, diz quem as fez, estiveram hoje entre 80 mil (contas da polícia) e 100 mil (contas dos organizadores) a descer as avenidas lisboetas até ao Terreiro do Paço. Poderemos então ficar pelas 90 mil cabeças, tentando não exagerar por excesso nem defeito.
Seja como for, assistiu-se a uma manifestação como não há memória em Portugal. Se, a fazer fé nos números oficiais, há 136 mil professores no activo, então, esta tarde, estiveram aproximadamente 2/3 do total a marchar avenida abaixo. Viemos de todo o lado. Do Minho ao Algarve, de autocarro, de automóvel, de barco, a pé, de comboio, todos os meios de transporte foram bons para nos levar até ao local de concentração.
A manifestação surpreendeu pela dimensão, ultrapassando os números mais arrojados que os organizadores pudessem ter sonhado. Foi uma prova de que a ministra não tem razão em insistir que os professores descontentes não devem compreender a bondade das medidas que ela vai impondo sem diálogo nem sombra de tino. Eram demasiados professores. Ou as propostas são muito complicadas de perceber (quase impossíveis de perceber) ou então, na verdade, não têm qualidade para ganhar a simpatia da classe docente.
Na minha perspectiva, as medidas impostas pela actual equipa ministerial têm um único objectivo que é o de conter gastos com a Educação ao nível dos ordenados dos professores. Nada mais interessa a esta corja de nabos que nem sequer é capaz de organizar de forma coerente um conjunto de acções que sirva de maquilhagem aos seus propósitos. São maus a governar, péssimos a comunicar e verdadeiros palhaços na hora do debate.
Hoje estiveram por ali perto de 100 mil cabeças destapadas, sem receio nem ódio. Foi a marcha da indignação.
Temo apenas que as personagens no poder não compreendam nada daquilo a que assistiram. Elas já provaram que é muito limitada a sua capacidade de compreensão. Mais do que seria aceitável.

6 comentários:

ana disse...

E a INDIGNAÇÃO pela falta de qualidade do ensino ??

Silvares disse...

Uma coisa leva a outra.

Luiz Santilli Jr disse...

Silvares

Essa dicotomia professores versus administradores do ensino, deve ser milenar!
Fui professor por mais de 40 anos, e vivi de dentro essas lutas!
Primeiro ponto: os administradores não estão dentro das salas de aulas, portanto têm uma visão teórica apenas do estado da educação.
Segundo ponto: os professores se sentem dimuidos em seu status, e vão pouco a pouco perdendo o estímulo, caminho mais rápido para a degradação do ensino.
Terceiro ponto: os alunos, em geral alienados dos processos educacionais, isolam-se dos movimentos, pois não se consideram parte ineteressada, quando na realidade tudo é feito em função da qualidade do ensino cujo beneficiário é o próprio aluno.
Colocado esse tripé, e as coisas ocorrendo por muito tempo, há um deterioração, que acaba sendo quase insuperável, passado certo tempo:
1 - os administradores se desgastam e perdem credibilidade, mas seus chefes políticos os mantém nos cargos. Então formam comissões mistas para estudar as questões e apresentar soluções. O perigo é o aparecimanto dos pelegos, que procuram seus benenficios e deixam de lado sua categoria. Comissões são feitas para não resolver nada!
2 - a sitação vai se arrastando, com grade desgaste dos profesores, que acabam sendo vistos como mercenários pela população, dada a exposição à mídia, com um marketing negativo à parte mais fraca!
3 - os alunos, aliendados e de visão política nula, aproveitam a situação para fazer pressão sobre os professores mais exigentes. Os movimentos pela depuração dos professores é o único que atrai os alunos. No fim não dá em nada essa participação dos discentes.
Resumo: passado muito tempo, a crise se perde, não se vê mais saída, e as coisas vão se acomodando aos interesses do governo: gastar o menos possível na educação, pois viadutos dão votos, mas qualidade de ensino é só encrenca!
E cá entre nós: aumentar salários dos docentes nem sempre significa melhor ensino!

Santilli

Anónimo disse...

Nesse debate de MESTRES não vou por minha colher!!! O que sei é que sempre que manifestações como essa acontecem, coisas precisam serem feitas, caso contrário a coisa fica preta!
Parabéns aos que participaram. 100mil cabeças pensam e pesam mais do que meia duzia!

Silvares disse...

Luiz, A questão, neste caso, é um pouco mais complicada, mas compreendo as suas posições pois elas são realistas e fazem todo o sentido. Seja como for, aquilo a que assistimos nesta manifestação foi algo de extraordinário pelo número de professores envolvidos (quase 2/3 do total!) numa prova de cidadania que Portugal já tinha esquecido. Aqui a forma vale tanto como o conteúdo. A imagem foi poderosa e as suas consquências serão mais em termos de recuperação da capacidade reivindicativa. Não só para a classe dos professores, em particular, mas da população portuguesa, no geral.

Eduardo, mais uma colher nunca é colher a mais!
:-)
100 mil cabeças, neste caso, foram uma coisa impressionante. Lembre-se que Portugal cabe dentro de qualquer estado brasileiro. Só a cidade de São Paulo tem mais habitantes que este país na totalidade (não tenho números presentes mas tenho essa impressão). Assim dá para perceber a dimensão do protesto!

Jo-zéi F. disse...

A política do corte. O nosso primeiro quer cortar nos gastos do Estado, então todas as políticas são para aí dirigidas,
como é o caso dos professores e do corte nas progressões das carreiras.