quinta-feira, maio 14, 2020

Paradisíaca pasmaceira

Reflectindo um pouco sobre a imagem canónica do Paraíso, o Jardim de Éden ou das Delícias Terrenas, verificamos que é um lugar pouco apetecível para os potenciais novos crentes, habitantes do século XXI.

A Árvore da Vida, a nascente dos 4 rios, o sossego total (uma inesperada muralha de fogo em toda a volta) não são grandes cartões de visita. Já a espectacular polícia angelical, constituída por querubins armados com espadas flamejantes e uma divindade que topa tudo e não deixa escapar um pintelho (como foi possível o Pecado Original com este Big Brother divino?) não incomodará por aí além quem está habituado a publicar notícia constante de cada peidinho que dá nas redes sociais.

O paraíso do futuro terá, obrigatoriamente, acesso livre e ilimitado a uma qualquer rede que ligue os bem-aventurados. Caso contrário, a promessa de eterna pasmaceira que tanto fascinou gerações antepassadas, não será o suficiente para encaminhar renovados rebanhos em direcção à porta da igreja, redil das almas.

Pasmaceira? Sim. Mas pasmaceira em rede. Para isolamento bem basta o confinamento pandémico.

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