domingo, maio 24, 2020

Desenho e pintura

Muita reflexão também não faz bem a ninguém. Ainda menos bem fará se for espicaçada por uma situação de confinamento. Uma gajo metido entre paredes contra vontade deveria evitar muita meditação sobre as questões habituais: "quem sou eu" (ou "o que sou eu"), "o que faço aqui" (pois, lá está, esta pergunta refere-se ao mundo, eventualmente ao universo, não à sala de estar ou ao quarto de banho) e, last but not least, "para onde vou" (vou para o quarto, vou para a cozinha)? Como facilmente se percebe estas questões, nos dias que ainda correm, estão todas armadilhadas, trazem coletes explosivos a envolvê-las e podem rebentar inadvertidamente.

Vivemos tempos propícios ao reforço da saúde dos macaquinhos que normalmente nos habitam o sótão. Da parte que me toca tenho evitado o espelho. Não é que seja pessoa assídua na contemplação da minha própria fachada, não é meu costume mirar a paisagem do corpo que habito, mas tenho tido um receio acrescido de olhar para os meus olhos. Dias há que os sinto mortiços, caídos para dentro e, verdade seja dita, prefiro poupar-me a semelhante espectáculo.

Estranhamente a leitura também não me tem puxado muita atenção. No início desta coisa pensei que iria ler e ler e ler, mas não. Tenho lido pouco.

Resumindo, a vida vai-se arrastando. A única coisa que me vai valendo, para lá da proximidade da família mais chegada (ah, como amo a minha família!) é o desenho e a pintura.  "Desenho e pintura?" dizes tu, "Isso são duas coisas!" Não são. Desenho e pintura, quando vêm juntos,são uma e a mesma coisa. E é essa coisa que me tem valido e ajudado a manter distraídos os macaquinhos e o sótão razoavelmente limpo.

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