sexta-feira, dezembro 06, 2019

Tempo e espaço

Esta manhã apercebi-me que quando estou a ler desapareço no tempo (embora permaneça no espaço). O mesmo acontece quando desenho e pinto, o tempo perde o significado pretensamente exacto que lhe é conferido pelos relógios. Flutuo algures. O meu corpo permanece no espaço (da cozinha, da sala, do sótão) mas eu flutuo algures, flutuo em lugares (poderei designar esses espaços por "lugares"?) aparentemente exteriores.

É como um transe, imagino.

Ler, escrever, pintar, são actividades que normalmente envolvem um mínimo de movimentos. O corpo permanece num espaço muito limitado, não se desloca de forma significativa e o cérebro fervilha processando informação quebrando a película rígida que separa diferentes dimensões e eu sou levado.

Leio as frases escritas acima e nada daquilo merece rótulo de "realidade". Embora constituam uma sequência de ideias e conjecturas a carecer de confirmação, tudo aquilo me faz sentido e quase sou capaz de acreditar que o meu Ser não é uno, que há partes de mim que se separam em determinadas ocasiões e existem momentaneamente em diferentes estratos espaciotemporais.

Há coisas em que acreditamos mas não somos capazes de provar.

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