quinta-feira, janeiro 03, 2013

VerTV

Um estudo daqueles estudos que nos põem a olhar para coisas que não nos lembraríamos de ver se não fossem, precisamente, esses estudos, vem revelar que o consumo de televisão em Portugal aumentou brutalmente no ano que expirou aqui há três dias atrás.

Tentando explicar os dados recolhidos, relaciona-se o consumo de TV com a crise económica e a falta de dinheiro para aceder a outros bens culturais (partindo do princípio que a TV pode ser considerada um bem cultural, assim, por atacado).

Os portugueses vão (ainda) menos ao teatro, ao cinema, assistem a menos concertos, viajam menos, fecham-se mais em casa e abrem a janela da TV para olhar o mundo. Já não eram grandes leitores mas, com o dinheiro a desaparecer no pagamento de impostos e de contas mensais, a venda de livros também tem descido vertiginosamente.

Podemos concluir que a crise nos empobrece das mais variadas formas sendo o empobrecimento cultural um facto inquietante. A pobreza do espírito poderá abrir as portas do céu mas isso só importa depois de morrermos, na hora de prestar contas ao Criador. Enquanto por cá andamos, a indigência cultural aproveita, principalmente, a quem pretende aproveitar-se de nós.

Um povo embrutecido, agarrado às telenovelas e aos reality shows, que recolhe informação preferencialmente nos telejornais e que é bombardeado com anúncios publicitários, tende a criar narrativas perigosamente simplistas do mundo que o circunda.

Um povo assim está pronto para a faca, carne fresca para ser retalhada pelos gulosos que, depois, ainda nos roerão os ossos, caso estejam com disposição para isso. A crise é um autêntico tsunami social.

3 comentários:

Anónimo disse...

Tens toda razão, caro Rui. O primeiro passo, para um passo em falso, é o embrutecimento intelectual de um povo. A TV é o melhor e maior instrumento para um rápido embrutecimento. Lastimavelmente.

Silvares disse...

Eduardo, diziam que a religião é o ópio do povo... a TV é a heroína...

the dear Zé disse...

e depois há aquela coisa das bibliotecas públicas, espalhadas pelo país e gratuitas, a crise económica não explica tudo,
quanto resto, por vezes há espectáculos, música, dança, teatro, gratuitos e quase às moscas, e exposições de coisas várias e em vários sítios à borla e às moscas...
há crises que não são só economias, é qualquer coisa mais, ou menos, sei lá

mas lá que um povo embrutecido dá muito jeito´a muita gente pouco recomendável, lá isso dá.