sábado, outubro 02, 2010

Ritual



Ando a ler 2666, de Roberto Bolaño. A expressão "ando a ler" é quase exacta. É um calhamaço de mais de mil páginas que reúne cinco livros num só. É pesado e volumoso o que não facilita o manuseamento da coisa. Impossível de ler de um fôlego, difícil de ler em qualquer lugar. Na cama torce-me os pulsos, sobre uma mesa exige que pelo menos uma das mãos mantenha as páginas em posição de leitura. Todos os dias leio algumas páginas.

É lendo 2666 que tenho começado os meus dias nos últimos tempos. Ao acordar ponho os óculos, recolho aquele bloco de folhas que mais parece um tijolo e faço um café. Sento-me onde calha e cumpro este ritual passageiro de ler as páginas deslumbrantes de Bolaño.

Quando me perguntam sobre o que é ou de que trata o livro constato, com algum embaraço, que não tenho resposta adequada. Na verdade não sei sobre o que é ou do que trata este livro imenso. Sei apenas que é literatura e descubro com um certo espanto que um livro pode ser "apenas" isso: literatura.

Um dia destes chegarei ao fim da longa viagem através de 2666.  Já tenho outro livro em lista de espera; Expiação do meu muito admirado Ian McEwan mas sei que regressarei a Bolaño. É absolutamente necessário regressar a Bolaño.

7 comentários:

Anónimo disse...

Esse do Bolaño não tive a CORAGEM de carregar e tentar ler....e do Ian, gostei da LITERATURA do seu Praia, embora a história, por mais bem escrita não é das que mais gosto!

Silvares disse...

Eduardo, esse livro (em Portugal "Na Praia de Chesil") é um bom exemplo da profundidade da escrita de McEwan mas estará um pouco longe da mestria de Sábado, na minha modesta opinião, o mais extraordinário dos livros de McEwan. Já este 2666 é uma coisa de outro planeta! Quanto mais se lê mais apetece continuar.

Jorge Pinheiro disse...

Sendo obviamente burro pergunto: o que é literatura? E atrevo-me mesmo a perguntar mais: há um Urinol na Literatura? Há livros pesados, difíceis de engolir, quase imperceptíveis. São esses a tal literatura? A mim o peso dá-me para fazer chi-chi.

Anónimo disse...

Será que terei "físico" para "carregar" o 2666 ????? srsr
Vou ler o Sábado, pois de LITERATURA ele sabe tudo!
Ao Jorge tento responder que a boa LITERATURA é aquela que é leve, sutil, transparente, ritimada, e aparentemente simples e fácil, diz as coisas de forma nunca ditas, e dá vontade de continuar a ler, e pena quando acaba!

Silvares disse...

Jorge, o Eduardo deixa óptimas pistas sobre a "natureza" da Literatura. Eu arrisco juntar mais umas ideias; Literatura acontece quando aquilo que lemos se transforma em algo vivo, é como pôr um cego a ver o mundo, de facto. A questão do peso é um pormenor.
:-)
Eduardo, segundo percebi, Bolaño pretendia que a edição de 2666 se fizesse em 5 livros diferentes mas, após a sua morte, decidiu-se que seria assim, um tijolo de mil páginas.

ovelha.negra disse...

E eu estou n'O Terceiro Reich' e posso adiantar que é bastante fofinho. (não que saiba bem o que significa essa palavra quando aplicada a livros, apenas que é algo bastante positivo.)
Esse 2666 será um próximo passo.

Silvares disse...

Fofinho... essa é nova.