sexta-feira, dezembro 25, 2009

O Sexo, o Natal e a economia



Hoje é dia de Natal. Em muitos lares por este Portugal adentro a televisão substitui a lareira e é para ela que se dirigem todos os olhares das famílias reunidas em seu torno. Mais logo a TVI irá transmitir o filme O Sexo e a Cidade. Não há Pai Natal naquele filme, nem Reis Magos nem Presépio, nem nada que se relacione com a quadra festiva que aquece os nossos corações. Este (in)significante fait-divers faz pensar nas distantes origens desse canal televisivo, originalmente atribuído à igreja católica, num processo mais milagroso que transparente. Lembram-se? Eram os primórdios dos canais independentes do poder político que prometiam um mundo novo no panorama televisivo. Com 4 canais, afiançavam-nos então, teríamos diversidade, variedade e competição, benesses do mercado livre. Volvidos todos estes anos o que podemos constatar? Que os canais, na sua luta insana para captarem investimento publicitário, se acotovelam com novelas, concursos imbecis e telejornais infindáveis, numa amálgama fedorenta, uma papa indistinta e massificadora. Fomos enganados?

Esta constatação pode alargar-se a outros domínios. O poder político, por exemplo. Também aqui ficamos com a sensação de que entre os chamados “partidos do arco do poder”, o PS e o PSD, há uma sobreposição absoluta de objectivos, comportamentos e discursos. A falência das ideologias tornou-os tão semelhantes que ninguém vê grande diferença entre um e outro quando ascendem ao cadeirão do poder. Uma vez aí sentados, os líderes destes partidos abrem os dossiês da roubalheira e ficam deslumbrados, como miúdos num hipermercado em vésperas de Natal. É a economia, dizem-nos, a economia obriga a fazer isto e a esquecer aquilo, garantem-nos. Estaremos a ser ludibriados?

Afinal de contas em que ficamos? A democracia sobrepõe-se à economia? O poder político pode orientar-se por princípios humanistas ou a frieza dos números tudo justifica? Fica a sensação de que a massificação boçal é o único caminho possível para a nossa sociedade. Sejamos boçais, se não nos resta outra opção. Pode ser que O Sexo e a Cidade não seja tão mau filme quanto isso e sempre constitui uma alternativa ao velho James Stewart franzindo a testa em Do Céu Caiu Uma Estrela.

9 comentários:

Jorge Pinheiro disse...

Com mais ou menos sexo, um bom natal também para ti.

Anónimo disse...

Rui, Bom Natal, atrasado! Mas desejo de 2010 ainda com Humor se possível!!!!
Quanto ao seu post noto uma coerência absoluta no canal ( católico originalmente, mas a evolução é válida !!!) que na noite de Natal oferece aos seus telespectadores uma alternativa, além aborrecidos programas natalinos, com missas do galo e etc... Coerência total. Eu estaria sintonizado nesse canal, apesar de acreditar que esse filminho não pagasse a conta!!!
Mas vamos deixar pra lá essas diferenças e desejar um ótimo 2010!

Lina Faria disse...

É, por um lado, muito bom vivermos em um Estado laico. Por outro, a diversidade nos faz mesmo engolir um monte de bobagens.
Que a televisão virou lavagem cerebral da classe mais ingênua ou carenta, é fato.

Agora, visto que o descanço de fim de ciclo, a solidariedade em saber se desfazer de bens material no ato de presentear, é anterior à Era Cristã, volto a dizer: festejem e comemorem, quer de forma cristã, quer dionisíaca.
Mas sejam FELIZES.
Só vale ser Feliz!

Obrigada, Silvares, por nos brindar com suas opiniões tão pertinentes.
Vigor e alegria para toda a familia.
lina faria

Silvares disse...

Jorge, diz a canção que "Natal é quando um homem quiser"...

Eduardo, humor não vai faltando e haverá de manter-se em 2010. Quanto ao filme, você tinha razão, não se aguenta por mais de 10 minutos. É mesmo chato!
Bom ano para si também.

Lina, aqui em Portugal havia apenas a televisão do estado até há uns 20 anos atrás. Quando abriu a canais privados prometeram um mundo novo. O mundo é novo, de facto, mas não é nada interessante. A lavagem cerebral pode ser adequada quando há cérebros sujos!
:-)
Bom ano.

the dear Zé disse...

Porque é que duas coisas tão fantásticas como o sexo e a(s) cidade(s) deram um filme tão absolutamente merdoso é que eu não entendo.

Quanto ao post, pois, é aquela coisa da clonagem, todos em bicha pirilau para pagar o dízimo...

Lord Broken Pottery disse...

Silvares,
No caso, pensamos igual. Venho desejar-lhe um feliz 2010, cheio de bons filmes.
Grande abraço

TROLL disse...

O Troll deixou-te uma mensagem de bom ano.
http://blogue-do-ogre.blogspot.com/2009/12/monsenhor-matos.html

Beto Canales disse...

Legal.

Abração e bom ano novo.

Chegou?

Silvares disse...

Caçador, as boas ideias não resultam sempre em objectos interessantes...

Lord, bom ano para si também, grato pelas visitas.

Troll, vou lá passar daqui a nada.

Beto, chegou pois! Como estive fora de Portugal só na 2ª feira vou levantar a encomenda na estação de correios. É para ler de imediato pois terminei o livro anterior no dia 31 de Dezembro. Agora estou a ler uma História de Portugal e o seu livro não tem que esperar ( essa História é muito comprida...)

Bom ano.