quinta-feira, julho 09, 2009

Nova Iorque-Parte 3 (O Turista Cultural)


Ser Turista Cultural é complicado. Quando um Turista Cultural se aproxima de uma coisa como o Metropolitan Museum of Art tem de cerrar os dentes e avançar com coragem e determinação. É quase como pegar um touro desembolado ou ler de uma assentada a imortal obra de Proust "À Procura do Tempo Perdido" (coisa que eu nunca fiz, mas conheço quem tenha feito e tenha sobrevivido).

Um gajo pode perder-se, ficar confuso, nauseado, sem saber muito bem para que lado se haverá de voltar. O melhor é centrar a atenção em algo específico e tentar desfrutar apenas uma parte do monstro já que pretender abarcá-lo todo numa visita seria trabalho digno de Hércules.

Foi o que fiz. Dirigi-me ao piso dedicado à pintura europeia e por ali me perdi mais uma vez. Para finalizar visitei a retrospectiva de Bacon e já me dava por satisfeito. Mas... não podia abandonar um local pejado de tantos tesouros. Resolvi deambular sem grande sentido nem destino pelas salas e diferentes pisos do Museu. Gregos, romanos e egipcios, povos daqui, dali e dacoli, tudo misturado por uma enorme e invisível varinha mágica. Fiquei fascinado com as espectaculares peças oriundas do Pacífico, principalmente as da Nova Guiné. Caminhei, caminhei, olhei para todos os lados e senti-me perdido. Tinha sido apanhado pela terrível síndrome do turista cultural. Resolvi sair dali, afastar-me daquele antro de perdição intelectual. A custo lá consegui dirigir-me para a saída. Uma vez cá fora fui encontrar-me com a família que já descansava calmamente na relva do Central Park. Sentei-me, descalcei as sandálias e o contacto dos pés com a frescura verde da relva trouxe-me de volta a mim próprio e à realidade do mundo real.

Rai's partam aquele maldito lugar! Agora, tentando recordar o que vi, sinto um aperto no coração. Tenho a sensação de que não vi nada. Estou cheio de dúvidas em relação ao que perdi tal como tenho dúvidas de ter ganho alguma coisa. Já me tinha acontecido algo de semelhante no Louvre que visitei duas vezes no espaço de uma semana. Prometo a mim mesmo não voltar a vestir a pele do Turista Cultural. É uma pele muito apertada. Incomoda-me.

6 comentários:

Beto Canales disse...

Cada vez me convenço mais que viagem é a única coisa que nos faz aprender sem que ninguém consiga tomar.

Anónimo disse...

Já me senti exatamente assim.

Silvares disse...

Beto, diz-se que o mais importante na vida é o que nos acontece quando viajamos e que é aí (no espaço entre lugares) que aprendemos mais sobre nós próprios. Acredito nisso.

Eduardo, Turista Cultural sofre.
:-)

the dear Zé disse...

Olha o regressado. Bem vindo.
Diz-me uma coisa, um turista cultural também tem tempo para umas bejecas ou só emborca cóltura?
É só para ver se dá para aderir a essa coisa ou não...

peri s.c. disse...

Tenho sempre essa sensação.

Silvares disse...

Caçador, não há turismo sem bujecas! Então, que raio de pergunta era essa?

Peri, começo a ficar cansado de tanta cultura...