quarta-feira, julho 22, 2009

A merda e arte (ou a arte e a merda)


Pronto, finalmente cheguei a uma conclusão: a arte ou veicula um discurso que se compreenda ou não vale a pena.

Leio a frase anteriror e percebo que não disse o que queria dizer. Então eu repito: a arte ou é para o povão compreender ou então, se for coisa para masturbaçao intelectual e para fazer prova de superioridade cultural, mais vale que se cubra de merda.

Não está bem, não estou a ser capaz de exprimir aquilo que a minha mente está a formular com uma clareza ofuscante e que, escrito e dito assim, nestas letrinhas no écrã luminoso, não ganha sentido nem a contundência pretendida.

Reformulo uma última vez: a arte é para narrar a história colectiva, para fazer pensar os mais distraídos e pôr a chorar os mais atentos, se for abstracta ao ponto de apenas reflectir sobre si própria e os seus limites é como o cão que tenta morder o próprio rabo ou o parvo que pretende lamber o cotovelo.

Caramba, a linguagem escrita é mesmo uma tanga. A falar talvez pudesse exprimir-me um pouco melhor. As caretas, os gestos das mãos, o jogo de ombros, a entoação dramática da voz cavernosa ou patética, com a estridência de um passarito, sempre dão outro colorido à coisa.

Talvez pudesse ilustrar a dita coisa com uma imagem (isso é que era!) mas também não estou para aí virado.

Resumindo e concluindo, quero que a arte seja expressiva ou, então, não é. Nem expressiva, nem arte. Fica assim a meio caminho, uma epécie de aborto espontâneo, um ser fadado para a tristeza, uma coisa pedante que até pode ser bela mas cuja beleza reside, precisamente, no vazio.

Não temos de temer o amor dos estúpidos nem dos patetas nem dos feios nem dos mal-educados e simples como beterrabas. Não temos de temer o desprezo dos lindinhos nem dos enfatuados nem dos intelectuais nem dos mais altos nem dos mais magros e bonitos. Se queremos fazer arte temos de meter as mãos na merda e esfregá-las na cabeça e mostrar o que esse acto desesperado produziu dentro de nós.

Eheheheh, já estou a imaginar a cena, uma chusma de gajos e de gajas cobertos de merda a berrar no meio da rua... artistas!

7 comentários:

Anónimo disse...

Silvares, dá para explicar melhor?

Silvares disse...

Por enquanto não.
Está complicado.
:-)

Ví Leardi disse...

...reavaliando a arte em geral...inclusive a tua?...ou sobretudo a tua?
:-(

Lina Faria disse...

Silvares, Chronos, cruz, credo!
Radical.

Selena Sartorelo disse...

Olá Silvares... Veio ilustrado por Goya que mostrava sua arte densa, tensa pintanda dita e expressiva, que agredia levando a sua arte a todos que tivessem vontade de nela pensar. Não escolhia uma classe, nem um sexo, era a arte para ser vista com seriedade e deboche...numa época onde se entendia o signficado das palavras e das intenções...Hoje não sei, acho que tens razão, mas acho que também não tens. Vejo coisas que para muitos são a verdadeira arte e no entanto lhufas entendi...vejo outras que fico irritada em ver que ninguém viu...mas sou uma pessoa comum, por isso não conto, mas pergunto e quem não é. Que arte é essa que rotula e impõe regras...que arte é essa que não deseduca as ordens e não perturba? Que arte é essa que aliena e absolve?...quantas artes tem além?
Não censuro-me. Não, deveria é certo? responda-me e eu o farei?
Já ví chuva de sapo...ms se puxar pela memória a de merda não deve ser inédita.

beijos,

Silvares disse...

Ví, a minha preocupa-me mais que as outras. Não pretendo estabelecer uma lei universal, procuro apenas um caminho mais nítido para caminhar.

Lina, esse Chronos comiaos filhos apenas por temer que algum deles lhe roubasse o protagonismo. Significativo não?

Selena, mas é isso mesmo. Quero fazer uma arte que seja compreendida pelas pessoas vulgares (isso existe?). A arte para pessoas especiais trouxe-nos até um lugar bem estanho e pouco perceptível.

the dear Zé disse...

E mel, gajas cobertas de mel, na pode ser? Sempre cheira menos mal e...