"Do que tenho medo é do teu medo." terá escrito William Shakespeare. Olhando as notícias que nos chegam de Teerão não é possível evitar um apertozinho no coração. Não conheço nenhum iraniano mas isso não me faz falta para compreender a frase do velho Will.
Viver num regime orientado por religiosos obedientes à palavra de um deus que ninguém vê (um deus que "enlivrou" ao contrário do outro que "encarnou") não pode ser saudável para a alma de quem preze a Liberdade. Deus é deus e não compreende a banalidade absoluta que é ser homem. Ainda por cima, quando são homens a interpretar a sua suposta vontade, então está o caldo entornado!
Já não me lembro muito bem como era a vida em Portugal quando tinhamos os bispos sentados ao lado dos ditadores que nos orientavam vontades e necessidades. Recordo a pobreza das pessoas vestidas de negro, num luto permanente, imagino que em luto pela vida, mesmo que disso não tivessem consciência. A Revolução, quando aconteceu, foi como um presente de Natal que as pessoas não tinham pedido. Uma surpresa magnífica que, passados tantos anos, ainda não foi totalmente desembrulhada.
O que se passa nestes dias em Teerão? Será uma nova Revolução, esta sem deus na encomenda? O que querem os iranianos? O que se passou realmente nas eleições agora contestadas? Não sei. Não sabemos nem podemos saber. A única comparação que posso estabelecer é a da minha vaga recordação da angústia que era viver sob o olhar reprovador de um poder semi-divino, capaz de reparar até nas cuecas que um gajo vestia ou no comprimento dos cabelos e na cor dos olhos da nossa paixão. Um pavor.
Posto isto só posso desejar uma coisa, que os iranianos descubram o caminho que os conduz à Liberdade. Um caminho decerto completamente diferente do nosso. O caminho deles para a sua Liberdade.
Oxalá o encontrem e deixem de ter medo.
9 comentários:
Pior do que alguns fanáticos políticos loucos, são os loucos fanáticos religiosos!
Religião e Estado só no Vaticano. Fora daí é loucura...
Penso que nada se vai alterar enquanto o exército mantiver apoio aos ayatholas.
Eduardo, separar o estado da igreja é um choque necessário em direcçao à Liberdade.
Jorge, lembra-te que por cá foram os militares quem deu o golpe. Tivemos sorte.
inchála
Que inche!
:-)
Oxalá a coisa não termine num banho de sangue. Os persas são um povo fantástico, já mereciam outra sorte...
Excelente reflexão.
Concordo, o negro dos ditadores e o Vermelho dos cardeais - são cores que não combinam.
Esperemos que a árvore da Liberdade dos Iranianos não seja regada com o sangue de Patriotas com fome das cores brilhantes da Liberdade civil e religiosa.
Imelda, a cor dos contestatários iranianos é o verde... dizem que é a cor da esperança.
Nossa...
Que encontrem essa Liberdade tão única e tão necessária.
Enviar um comentário