Hoje é Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas. Ok, fixe! É dia de comemorações e medalhas espetadas em fatinhos perfumados. Muito giro. Normalmente não se passa nada de assinalável. Desfilam as forças armadas perante os governantes e botam-se discursos mais chatos que piolho agarrado na virilha. Tudo com uma cara-de-pau que mete medo e convidados com ar de quem comeu mosca tsé-tsé ao pequeno-almoço.
Desta vez, porém, houve um discurso que me prendeu a atenção quando zarpava na TV, de canal em canal, à procura de coisa nenhuma. Foi o discurso de António Barreto que este ano presidiu às ditas comemorações (ver notícia aqui). Pela primeira vez ouvi um discurso objectivo, desassombrado e interventivo, sem medo de chamar as coisas pelos nomes que merecem ser chamadas, mesmo que sejam nomes feios ou pouco bonitos. Já tinha Barreto em alta consideração, a partir de hoje tenho-o na mais alta consideração (esta coisa das escalas de consideração é engraçada), não só porque o homem gosta de jacarandás ou escreve crónicas interessantes no jornal de Domingo.
António Barreto terminou o seu excelente discurso e sentou-se, dando a vez a Cavaco Silva, Presidente da República. Cavaco disse três frases e o encanto do discurso anterior já se tinha transformado na mais banal das pimpineiras. Mudei de canal. Desliguei a TV. Fui pintar.
O discurso está acessível na sua totalidade. Clicar aqui.
7 comentários:
Estamos inteiramente de acordo quanto ao Barreto. Quanto ao PR... tambem.
Também gosto muito de jacarandás. Fizeste bem em ir pintar. Bjos Isabel
Jorge, o PR tem um jeito especial para não dizer nada que se compreenda. Repara como hoje todos dizem que ele falou para fulano e fulano garante que não foi com ele que o presidente falou, foi com sicrano. Sicrano, por sua vez garante que o presidente não se dirigia a ele... e por aí fora. É demasiado fraco em termos discursivos. Não admira, se recordarmos que um dia Cavaco afirmou que andava a ler a Utopia de Thomas... Mann!
Isabel, essa tenho de agradecer ao Cavaco.
:-)
E ainda deve andar a ler... Não dizer nada é uma arte que ele aperfeiçoou desde os míticos "tempos do bolo-rei".
Essa é que é essa! Não diz nada, não diz nada mas fez-se eleger Presidente da República. Um feito assinalável.
Sicrano, por sua vez garante que o presidente não se dirigia a ele... e por aí fora...
Isso é verdade, Rui! Ou, como o arte de nada dizer conduz uma pessoa à presidência de um país. Ai, ai, ai...
Em relação aos discursos, não podia estar mais de acordo, o de António Barreto é excelente mesmo, certeiro quando tem de ser, tocando em algumas coisas meio incómodoas para certos ouvidos, mas lindo na forma e no conteúdo. Mas o do presidente... Deus, mais eficaz que triticum ;) Não fui pintar porque enfim lolol
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