quarta-feira, junho 10, 2009

Portugal discursado



Hoje é Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas. Ok, fixe! É dia de comemorações e medalhas espetadas em fatinhos perfumados. Muito giro. Normalmente não se passa nada de assinalável. Desfilam as forças armadas perante os governantes e botam-se discursos mais chatos que piolho agarrado na virilha. Tudo com uma cara-de-pau que mete medo e convidados com ar de quem comeu mosca tsé-tsé ao pequeno-almoço.

Desta vez, porém, houve um discurso que me prendeu a atenção quando zarpava na TV, de canal em canal, à procura de coisa nenhuma. Foi o discurso de António Barreto que este ano presidiu às ditas comemorações (ver notícia aqui). Pela primeira vez ouvi um discurso objectivo, desassombrado e interventivo, sem medo de chamar as coisas pelos nomes que merecem ser chamadas, mesmo que sejam nomes feios ou pouco bonitos. Já tinha Barreto em alta consideração, a partir de hoje tenho-o na mais alta consideração (esta coisa das escalas de consideração é engraçada), não só porque o homem gosta de jacarandás ou escreve crónicas interessantes no jornal de Domingo.

António Barreto terminou o seu excelente discurso e sentou-se, dando a vez a Cavaco Silva, Presidente da República. Cavaco disse três frases e o encanto do discurso anterior já se tinha transformado na mais banal das pimpineiras. Mudei de canal. Desliguei a TV. Fui pintar.

O discurso está acessível na sua totalidade. Clicar aqui.

7 comentários:

Jorge Pinheiro disse...

Estamos inteiramente de acordo quanto ao Barreto. Quanto ao PR... tambem.

Isabel disse...

Também gosto muito de jacarandás. Fizeste bem em ir pintar. Bjos Isabel

Silvares disse...

Jorge, o PR tem um jeito especial para não dizer nada que se compreenda. Repara como hoje todos dizem que ele falou para fulano e fulano garante que não foi com ele que o presidente falou, foi com sicrano. Sicrano, por sua vez garante que o presidente não se dirigia a ele... e por aí fora. É demasiado fraco em termos discursivos. Não admira, se recordarmos que um dia Cavaco afirmou que andava a ler a Utopia de Thomas... Mann!

Isabel, essa tenho de agradecer ao Cavaco.
:-)

Jorge Pinheiro disse...

E ainda deve andar a ler... Não dizer nada é uma arte que ele aperfeiçoou desde os míticos "tempos do bolo-rei".

Silvares disse...

Essa é que é essa! Não diz nada, não diz nada mas fez-se eleger Presidente da República. Um feito assinalável.

Anónimo disse...

Sicrano, por sua vez garante que o presidente não se dirigia a ele... e por aí fora...

Cristina Loureiro dos Santos disse...

Isso é verdade, Rui! Ou, como o arte de nada dizer conduz uma pessoa à presidência de um país. Ai, ai, ai...

Em relação aos discursos, não podia estar mais de acordo, o de António Barreto é excelente mesmo, certeiro quando tem de ser, tocando em algumas coisas meio incómodoas para certos ouvidos, mas lindo na forma e no conteúdo. Mas o do presidente... Deus, mais eficaz que triticum ;) Não fui pintar porque enfim lolol

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