sábado, junho 13, 2009

Onde está a Democracia?


As eleições iranianas para a presidência da República registaram uma taxa de participação de 82%, segundo as notícias. As eleições para o Parlamento Europeu tiveram uma taxa de abstenção que deixa o pessoal a lamentar-se. Mais uma vez. Como de costume. Em Portugal a abstenção situou-se nos 63% (se não estou em erro). Votaram 37% dos eleitores.

Independentemente da taxa de participação, lá, na antiquíssima Pérsia, como cá, na muito velhota Europa, os candidatos conservadores venceram. Esta é a única semelhança. Importa reflectir sobre as taxas de participação popular.

O que fará com que os iranianos passem horas a fio em filas quilométricas "só" para depositarem o papelinho mágico na urna de voto? Talvez lhes faltem distracções apelativas e não tenham nada melhor para fazer. Talvez acreditem que muitos votos fazem a diferença e que têm de ser eles a escolher e não os vizinhos do lado, que se dão ao trabalho de votar. E por cá, o que faz com que a maioria esmagadora dos eleitores não ponha os pés nas assembleias de voto? Talvez estejamos a ficar demasiado preguiçosos, gordos e indiferentes. Ou será que acreditamos que a democracia é um dado adquirido como são a Pepsi-Cola e o hamburger do palhaço. Pensaremos que nada de esquisito nos poderá acontecer, seja de que maneira for? Que o nosso modo de vida se eternizará por qualquer razão pouco evidente?

É verdade que, no Irão, a democraticidade destas eleições é posta em causa, que as coisas não se terão passado com toda a lisura. Mas não consigo esquecer a forma descarada como a União Europeia tratou os eleitores irlandeses que recusaram em referendo democrático o Tratado de Lisboa. Por cá, quando os resultados não estão de acordo com as expectativas das instituições que controlam a União, repete-se a votação. Tantas vezes quantas as necessárias para que o resultado seja aquele que interessa aos governantes? Convém não esquecer a forma como George W. Bush chegou a presidente dos EUA.
Pobre Democracia. Onde anda ela? Começo a pensar que não passa de um fantasma. Um Dom Sabastião velho e perdido para sempre numa tempestade de areia.

8 comentários:

osquieroatodos disse...

Hola amigo. Te escribo desde Madrid. Me ha gustado mucho tu blog y me gustaría que intercambiaramos nuestros enlaces. Yo tengo un pagerank de 3. Obrigado.

Paulo Queiroz disse...

Não pode haver democracia onde a religião é tirana. Gostei do texto!

Beto Canales disse...

ótimo texto

Jorge Pinheiro disse...

A democracia é um estado de espírito. Nunca existiu formalmente. O que temos é uma maqueação de um regime utópico que nem sequer é o melhor, visto que a conquista do poder distorce a representatividade dos cidadãos.

Anónimo disse...

A vontade dos DEUSES faz o ESTADO! O povo (coitado) referenda!
Democracia? srsrs

Silvares disse...

Osquieroatodos, talvez estejas a ser demasiado ambicioso. Olha o pecado...

Paulo Queiroz, as duas coisas só podem coexistir se estabelecerem relações pacíficas uma com a outra. Mas, entre nós, europeus, a religião deixou de ter influência na esfera política e as coisas estão a regredir. A menos que consideremos o capitalismo como uma religião e o dólar uma divindade em decadência.
:-)

Beto, agradeço.

Jorge, talvez tenhas razão e a democracia seja um estado de espírito. Mas será um estado de espírito colectivo, com fortíssimas probabilidades de ganhar forma e corpo no mundo real, através de realizações que satisfaçam as necessidades dos que estão nesse estado de espírito e, coisa absolutamente excepcional (cristã, mesmo!) os que não estão nesse estado de espírito também poderão beneficiar delas! O espírito democrático é muito lindo!

Eduardo, pelos vistos e a fazer fé na crença da maioria dos habitantes deste planeta (pelo menos) Deus não sócriou o estado, terá criado o Universo! Caramba, podia ter sido um pouquinho menos megalómano e ter feito um mundozinho mais equlibrado!

Jorge Pinheiro disse...

Só mais um detalhe: eles teriam razão para votar (queriam mudar ou manter o Presidente); nós por cá é escolher entre alhos ou bugalhos!

Silvares disse...

Jorge, isso é verdade, mas, pessoalmente, prefiro alhos.