quarta-feira, agosto 30, 2006

O debate


Um debate televisivo entre Bush e Ahmadinejad? Caramba, que grande ideia!

Estaríamos decerto perante o maior espectáculo do mundo (sem querer estar a desmerecer o circo). De um lado o líder do mundo livre (estou a rir-me). Do outro um tipo equivalente que quer, cada vez mais, surgir como líder do... mundo não-livre? Do eixo do mal? Bom, Presidente da República Islâmica do Irão (designar-se-à assim?) ele é, de resto não sei.

Seja como for um frente-a-frente televisivo entre duas pintas deste calibre haveria de bater recordes de audiência em todas as partes do mundo com lucros astronómicos para as estações que garantissem a emissão. Nos intervalos a publicidade apareceria aos interessados a preços de roer as unhas na hesitação de investir as somas exigidas pelas estações de TV. Seria curioso ver quais seriam as empresas e os produtos a preencher esses espaços publicitários nas diferentes partes do mundo. "Compre mísseis Patriot e defenda-se da fúria islâmica!".

Repare-se que tem sido Ahmadinejad a tentar estabelecer o contacto com os americanos a desviarem-se constantemente. Na hierarquização habitual do nosso raciocínio político se Bush aceitasse responder uma vez que fosse ao iraniano isso equivaleria a reconhecê-lo enquanto interlocutor válido, coisa que nem passa pela cabeça do américas (se é que passa alguma coisa). Assim assistimos a uma coisa parva que é Ahmadinejad dirigir-se a Bush e a resposta vir na boca de algum assessor de imprensa. Para Bush é como se o outro não existisse.

O Irão tem alguma razão em temer os EUA. Por um lado estão no eixo-do-mal juntamente com a Coreia do Norte. Mas como Il-Sung tem armamento atómico os américas lá o vão deixando em paz mesmo quando caem míseis experimentais a algumas centenas de quilómetros do Japão, como foi caso recente. O Iraque foi invadido com as consequências que (ainda não) se vêem. As tropas do grande satã americano estão demasiado próximas e ameaçadoras para que o louco de Teerão possa ignorá-las. Daí que seja perfeitamente compreensível o desejo iraniano de possuir armamento que ponha em sentido tão imprevisíveis adversários como os EUA e Israel.

Para mim os iranianos bem podem ir dar uma curva e dormirei (ainda) mais descansado se eles não possuirem armas nucleares. Mas, se estivesse no lugar deles, também andaria a suar as estopinhas na tentativa de conseguir essas armas, quanto mais não fosse para espantar as ratazanas.

Por estas e por outras, o debate entre os dois tolos de serviço na condução dos destinos do planeta seria um momento para a História e uma oportunidade para todo o mundo perceber os fanáticos religiosos que pretendem orientar-nos nos caminhos da salvação.

terça-feira, agosto 29, 2006

Peacemakers

Peacemakers; RSXXI, acrílico e tinta-da-china sobre papel, 2005
Anda Kofi Annan a esfalfar-se lá pelas bandas do Líbano a tentar deitar água numa fervura que derrete o tacho antes de evaporar o líquido. Bem pode o Secretário Geral da ONU mostrar cara triste e botar discurso constrangido que, para aqueles lados, ninguém se compadece das suas aparentes óptimas intenções.

E porque parecem todos estes tipos apostados em matar, destruir, trucidar e arriscar a existência de populações inteiras quando atiram sobre o vizinho todo o tipo de merdas que têm à mão? Estarão malucos ou somos nós que nunca conseguiremos entender nem um átomo daquilo que lhes apoquenta as meninges?

Há quem fale em choque de civilizações, outros apostam nas questões religiosas, ninguém parece capaz de diagnosticar com rigor a natureza do pântano em que se afunda a humanidade por aquelas latitudes. Os tipos parecem feitos de outro material, diferente do nosso. No entanto quando os vemos estendidos e desfeitos numa papa de ossos e sangue da mesma côr percebemos que não será tanto assim.

Os promotores da paz fazem figura de estilo e ninguém parece levá-los muito a sério. Vão lá choramingar porque é suposto que o façam, vão lá prometer milhões para a reconstrução porque o negócio não conhece desgraças e saem a suar debaixo da camisa perfeita e da gravata impecável pensando mas é no conforto do lar, lá longe, mais do lado de cá, que é onde se está bem.
Quanto vale uma paz em equilíbrio na ponta de uma espingarda? O que se pode prometer a um guerrilheiro que desde a mais tenra infância nunca foi capaz de imaginar outro sentido para a sua vida que não fosse o de rebentar consigo próprio e quantos "inimigos" pudesse para entrar no Paraíso e ser recebido por uma catrefada de virgens? (Já agora, o que poderão imaginar os púdicos muhllas que os heróis santos sonham fazer às ditas virgens?)
Perguntas, perguntas, perguntas. Respostas zero. Mortes violentas às mão-cheias.

Por estas bandas aproveita-se para apertar nas designadas "medidas de segurança" com a nobre finalidade de garantir o bem estar das populações autóctones e fazer as delícias dos pastores que apascentam o rebanho que nós somos. Não consigo evitar flashes do "1984" de Orwell. Um mundo sempre em guerra, com a guerra lá longe numa fronteira invisível e as suas "horas do ódio" que são os nossos telejornais e o Big Brother que nos observa a cada canto e a todo o passo. Um Big Brother que nos descalça nos aeroportos e nos enfia critérios de avaliação duvidosos olhos adentro e cérebro abaixo. Que nos põe a vigiar a galinha da vizinha com o mesmo zelo que desconfiamos de nós próprios e duvidamos da justeza de pensarmos pelas nossas cabeças. Afinal de contas quem não gosta de Bush é anti-americano e ser anti-americano é um novo pecado mortal que nos empurra até à beira do precipício sobre as chamas do inferno. Vivemos no limiar do bondoso esplendor de um estado policial à escala dos nossos medos mais profundos.

Ainda veremos o dia em que Bush vai ser canonizado e prantado nos lugares mais elevados dos altares da religião Neoconservadora por esse mundo fora? São George Bush, santo padroeiro dos filhos da puta e dos intelectuais que engoliram um pau-de-vassoura? Nós talvez não, mas os nossos netos... é que o tempo é o verdadeiro responsável pela fabricação da santidade.
Abrenúncio!

segunda-feira, agosto 28, 2006

O meu Tio

Uma ida a Londres não dispensa a visita. É como se visitasse um velho tio. Lá está ele, na sua sala, mudo e quedo, a olhar sempre na mesma direcção com um ar de quem não deve nada a ninguém. Digno e eterno.
25,5X19 cm. Uma pinturinha inesquecível. Uma coisa assim, tão perfeita, devia ser objecto de veneração, devia rodar por todos os lares deste mundo e do outro. Um dia em cada lar para que todas as pessoas pudessem sentir a profundidade do que são. Para que todos nos pudessemos sentir um pouco mais humanos nem que por apenas uns minutos.
O Homem do Turbante é um milagre de técnica e arte, um ícone do Ser Humano.

Pronto, agora que já me entreguei à lamechice posso dizer o que quero.
Os museus de Londres, pelo menos aqueles que reunem as maiores obras de arte, são gratuitos. Bem têm à entrada uns grandes paralelepípedos em acrílico com o pedido de 3£ para ajudar a manter a coisa mas, em boa verdade, poucos serão os que fazem a vontade à gerência a avaliar pelos trocos que enfeitam o fundo da caixa ao fim do dia.
Um passeio até Trafalgar Square, sempre cheia de gente, turistas na maior parte dos casos, leva-nos defronte à National Gallery. Depois é só entrar e avançar decididamente até à saleta onde se encontra o Homem do Turbante, mesmo ao lado do Casal Arnolfini, outro milagre saído das mãos de Van Eyck.
Viver ali perto é um privilégio.

Estou certo que não foi a última visita que fiz aquele meu tio. Vou lá voltar. E ele há-de lá estar, impávido e sereno, à minha espera.

Very british

O British Museum (na foto uma imagem do espectacular foyer) é tudo menos british.
Reune uma extraordinária colecção de objectos rapinados nas cinco partes do mundo para espanto dos visitantes que ali chegam vindos de todo o lado. Não me recordo de ter visto nenhuma obra de produção british nas infinitas salas de exposição. Será british por mostrar objectos reunidos pelo Império e não por expor realizações do génio ilhéu. Desde os frisos do Partenon às múmias egípcias, tudo ali recorda a expansão colonial europeia na sua faceta britânica. Os visitantes são, também eles, uma extensa colecção de cromos das diferentes etnias e resultados civilizacionais da nossa espécie. Um espectáculo diversificado e completo.

Nos tempos que correm uma tal exibição de riqueza e diversidade cultural não é nada políticamente correcta. Antes pelo contrário. O que sentirá um cidadão da União que tenha nascido grego ao encontrar ali tantas e tão significativas obras de arte produzidas no seu país de origem, levadas sem pedir licença nem pagar resgate? E o valor que agora lhes damos seria igual caso não estivessem ali? E se a Europa não tivesse triunfado na sua expansão global aquilo a que chamamos Cultura teria a importância e o impacto que actualmente lhe atribuímos? Teriam aquelas pedras esculpidas o valor incalculável que agora têm? Penso que não.

Penso que o chamado turismo cultural é um produto de marketing saído directamente da globalização e que se vê agora ligeiramente ameaçado pela tal guerra contra o terrorismo que, ao que parece, campeia pelo mundo fora de forma aparentemente surda e semi anónima. Uma cidade como Londres tem incontáveis locais onde se mostram esses troféus imperiais para espanto dos visitantes e é daí que lhe vem algum do muito encanto que tem para atrair como atrai tantos milhares (milhões) de turistas e outras aves de arribação que ali afluem como rios de gente que desaguam naquele mar.
Neste campeonato Lisboa ocupa uma classificação bem modesta.

sábado, agosto 26, 2006

Voar

O que teria pintado Friedrich se alguma vez tivesse voado a 10.000 metros de altitude, pairando acima das nuvens com o sol a põr-se infinitamente, mesmo defronte dos olhos? E que monstros poderiam ter sido sonhados por Bosch se alguma vez tivesse atirado os olhos para dentro de um microscópio? As coisas andam todas alinhadinhas na recta do tempo, como patinhos a passearem nas penas da cauda da mãe. Mas imaginar o hiper-romântico Friedrich a voar num avião das British Airways após um controlo anti-terrorista no aeroporto de Heathrow, descalço e sem o cinto nas calças, não deixa de ser um pequeno exercício aliciante. E as duas horas e meia de vôo passam a meia-dúzia de minutos e os patinhos perdem-se da mãe e há outras tragédias e outros alegrias no mundo e no resto.
Voar é uma coisa do caraças e eu nunca me canso de o fazer.
Pelo menos por enquanto (com terroristas e tudo).

quinta-feira, agosto 24, 2006

Nossa Senhora!

Nunca me tinha imaginado numa cena destas. Durante a minha estadia londrina fui com a família assistir live a um concerto da Madonna na Wembley Arena, uma sala de espectáculos assim tipo Pavilhão Atlântico. Menos espectacular mas mais vivaça.
Confesso que o espectáculo foi... espectacular sob o ponto de vista das encenações, dos truques e luzes, som etc., etc., mas, musicalmente, deu para a seca.
Uma das coisas mais surpreendentes foi a Madonna guitarrista (na foto) em bom estilo Ramone. Quer isto dizer que não lhe vi mais que duas (talvez 3) posições diferentes nos dedinhos da mão esquerda mas lá que a Diva leva a guitarra a sério disso ninguém pode ter dúvidas. Ela canta, ela dança, ela guitarreia, ela seduz, faz ginástica e os bailarinos patinam, assombram... eu sei lá que mais. É um espectáculo total com milhares de pessoas aos gritos numa euforia bonita de viver. Estar lá acaba por ser agradável. O pior ainda é ter de gramar a Madonna, mas isso, no meio de tudo aquilo, acaba por ser o menos!

quarta-feira, agosto 23, 2006

Never Ending Story!


Depois de Londres uma semana na Serra do Gerês. Nada melhor para fugir a ataques terroristas e outras modernices do género. Hoje já estou em Viseu a fazer uma visitinha aos meus pais e pouco mais. Quase me tinha esquecido do que é um computador!
Quando regressar a casa estarei apto a contar histórias e trocar impressões sobre os contrastes entre London Town e a Serra do Gerês. Isto de andar em Cyber Cafés ou lá como se chamam estas casas é um bocado secante.
Por exemplo: o gajo que está sentado ao meu lado talvez pudesse ter tomado uma banhoca. Não se perdia nada. Ainda por cima sua abundantemente e mal chega com o peito ao tampo da mesa onde repousa o teclado. Um espécime perfeito do Homem Das Beiras, um género de troglodita que constitui o elo perdido da humanidade. Não desfazendo, uma vez que também eu faço parte desta espécie maravilhosa.
Nesta foto (que fui buscar a um Blog qualquer) vê-se uma escultura que está na "fronteira" da Portela do Homem, num topo do Parque Natural da Peneda Gerês, no local que marca a passagem do Minho para a Galiza por aquelas bandas. Nas placas, que agora não fazem qualquer sentido, há coisas curiosas. Vindos do lado do Minho, onde diz "Espanha" alguém escreveu a spray negro "Galiza do Norte". Do lado de lá, perto da tal estátua, na placa que diz "Portugal" escreveu-se "Galiza Livre". Curioso não? É Galiza dali ao Algarve, numa faixa que se estica preguiçosamente ao lado de Espanha de norte a sul da península.
Um mimo dos muitos mimos que pude observar ao longo destes dias sem fim.
Sinceramente já me sinto um pouco fatigado.
As férias acabam por ser mais cansativas que os dias de trabalho.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Stockwell


Esta imagem mostra a entrada da estacao de metro de Stockwell. Foi aqui que a policia inglesa abateu Jean Charles de Menezes por ele levar uma mochila as costas e correr apressado para nao perder o comboio. "Quanto mais depressa mais devagar" diz o ditado, neste caso transformado em humor mais duvidoso que negro. O Cyber cafe onde estou a escrever este post fica exactamente do outro lado da rua. Olhando pela montra posso ver o altar improvisado que esta na imagem. Agora tem um aspecto ligeiramente diferente, tem uma bandeira brasileira, outras imagens... mas o espirito da coisa mantem-se.
Jean Charles foi abatido no meio de uma onda de paranoia anti terrorista, vagamente semelhante a que atravessamos agora. Hoje vou voar de regresso a Lisboa. As coisas parecem normalizadas nos aeroportos. Ja fiz o check-in on line, o voo esta confirmado. Confesso que e com algum alivio que deixo Londres apesar de nao ter sentido nada desta paranoia no meu quotidiano citadino. Apenas os jornais acentuavam o panico em cada edicao, principalmente os vespertinos. Passada a ameaca dos planes de imediato surgiu uma suposta ameaca no tube! estes gajos fazem tudo o que podem para vender jornais. Os nossos diarios nao passam de aprendizes nesta materia.
Stockwell e uma zona com muitos portugueses. Fiquei hospedado em casa de uma velhota algarvia simpatica, daquelas que falam pelos cotovelos. Ainda agora fui tomar um "bica" ao restaurante o Conquistador. Deu ate para comer um pastel de nata! Os portugas parecem criar uma comunidade a parte com os seus cafes, as suas lojas, os seus pequenos mercados. A integracao nao parece ser o principal objectivo desta malta.
Bom, o meu tempo esta a expirar.
Ate mais logo, ja com acentos e num portugues mais escorreito!

terça-feira, agosto 15, 2006

Perigo!!??

Estou retido temporariamente em Londres devido as ameacas de atentados bombistas (nota-se a falta de acentos, nao?) que deixaram a British Airways de pantanas. Por aqui corre a conviccao de que tudo isto tem o objectivo de tentar recuperar os indices de popularidade de Mr.Blair. Esse palhaco continua de ferias nas Bahamas enquanto por aqui se vao amontoando turistas mais ou menos desesperados e ingleses que veem as suas ferias a fugirem ao controle.

Se tudo correr bem conseguirei viajar amanha, mas a sensacao de estar a ser enganado por uma grande maquinacao nao me abandona e deixa um gajo bastante irritado.

`A parte isso a estadia at`e tem sido interesante. Mais tarde tentarei actualizar o 100 Cabecas. Olhar o Mundo de outro pais `e uma experiencia curiosa. Ler a imprensa inglesa tem sido muito revelador. Para estes gajos al`em da Inglaterra s`o existe a Esc`ocia e pouco mais.

Bom, vou ter de desligar. At`e amanha... ou depois!

segunda-feira, agosto 07, 2006

Idiotas: úteis e inúteis

Do Público on line:

Também hoje, no Iraque, um grupo de homens armados distribuídos por duas viaturas disparou contra uma barbearia de Bagdad, matando cinco pessoas, enquanto dois polícias morreram num ataque semelhante em Mossul, no norte do país. Em Bagdad as autoridades encontraram ainda dois corpos algemados e baleados na cabeça.

Duas viaturas armadilhadas explodiram com um intervalo de um minuto numa das principais áreas comerciais de Bagdad, na rua Palestina, provocando oito feridos entre civis e dois entre as forças policiais, segundo avançou o tenente da polícia Ahmed Mohammed Ali. O responsável indicou que o alvo deste atentado seria uma patrulha da polícia.

Três soldados norte-americanos morreram ontem na explosão de uma bomba na região de Bagdad, anunciou hoje o Exército dos EUA. Num outro ataque, ontem à noite, em Baaquba, morreram seis soldados iraquianos e um dos atacantes.
A notícia da morte dos três militares norte-americanos surge um dia depois da chegada ao Iraque de um reforço de 3700 soldados com a missão declarada de restabelecer a segurança em Bagdad. Desde a invasão norte-americana do Iraque, em Março de 2003, já morreram 2590 soldados dos EUA, segundo um balanço do Pentágono.


A coisa não abranda, antes acelera em descontrolo absoluto levando tudo na frente. Um desastre completo. Fala-se em guerra civil mas aquilo parece outra coisa só que como não se percebe o que é chama-se-lhe "guerra civil".

Não tenho qualquer prazer especial em confirmar o delírio neoconservador que sonhou com um anedótico "efeito de dominó", que o enxerto de uma democracia de tipo ocidental iria provocar em toda a zona, a partir do Iraque. Não me lembro de um erro de cálculo tão grosseiro e, ao mesmo tempo, tão previsível. Só mesmo saído da cabeça de algum vaqueiro transformado em chefe de estado!

Como seria possível que um povo com um legado como o do passado histórico da Mesopotâmia fosse abrir os braços em gesto de boas vindas a uns estranhos estrangeiros, ainda por cima aparentados com os franj das cruzadas?

Não sei se me impressiona mais a imbecilidade da ideia se a incapacidade de grande parte dos que a defenderam em reconhecerem a dimensão das suas orelhas de burro. O Iraque estará melhor agora do que sob o jugo de Saddam? O que poderá nascer das cinzas desta espécie de guerra civil a que assistimos? Um super-Saddam ou outra monstruosidade do género?

Não sei não. O que sei é que, onde metemos o nariz sem sermos chamados, acabamos por fazer merda da grossa mesmo que tenhamos a melhor das intenções. É que, quando as coisas começam a descambar e a correrem mesmo mal, nem os nossos amigos têm sempre a capacidade para nos perdoar a merda que fizermos. Nem mesmo os nossos amigos...

domingo, agosto 06, 2006

M



Há filmes assim. Filmes que podemos ver e rever sem nunca nos cansarmos. A cada novo visionamento redescobrimos as qualidades que nos levaram uma e outra vez a procurá-los. M, de Fritz Lang, passou aqui há dois dias no canal Arte. Versão recuperada, mais próxima da original segundo a introdução, com cenas perdidas noutras versões. Falado em alemão e legendado em francês, a sessão do Arte foi um momento especialmente empolgante para mim pois assisti a ela com a minha filha.

Eu sei que ela tem apenas 12 anos, que um filme como M deveria, à partida, ser uma espécie de seca tremenda para a criança. Mas a verdade é que um filme quando é excelente não seca os miolos de ninguém que goste de cinema ou ande a descobrir que gosta. Ficou provado.

Além disso ainda pude exibir-me um pouco fazendo algumas traduções do francês, lígua que aprendi na escola secundária (tive apenas um ano de inglês) e debatendo aspectos cinematográficos ali, "em directo" e "ao vivo".

Hoje revi com a minha filha Dead Man de Jim Jarmusch numa gravação feita também do Arte, por coincidência. A Eva é fã de Johnny Depp que protagoniza (ou será mais apropriado dizer "que agoniza"?) esta espécie de western anti-canónico. Já fizemos outras experiências do género com igual sucesso (estou a lembrar-me de A Noite do Caçador, de Chales Laughton).

É um prazer misturar estes filmes com os da Pixar ou os chamados clássicos da Disney, ou os filmes de Tim Burton e de Shyamalan, para citar apenas os preferidos da minha família e ir (re)construindo um imaginário cinematográfico que tem um dos seus pontos altos em O Feiticeiro de Oz de Victor Fleming.

Não há que temer a variedade nem a mistura de géneros e de épocas diferentes. Afinal é aí que reside a essência da cultura Pop: síntese e reinvenção! É não é? A erudição fica bem num jarra de flores, a enfeitar o púlpito do discursante. Não há que ter medo de se gostar daquilo que verdadeiramente se gosta.

Voltando a M, o que mais me impressiona é a narrativa e a quase ausência de personagens individualizadas. Não há uma personagem principal. As personagens são pessoas colectivas que se diluem na sequência narrativa e dão um carácter épico a uma história de uma simplicidade quase absurda.

Tenho algures uma cópia em cassete de vídeo legendada em português... vou procurá-la.

sábado, agosto 05, 2006

Carros


No mínimo surpreendente!!!
A Pixar é a mais extraordinária das produtoras de filmes de animação. Isso já todos sabemos (pelo menos quem vê este género cinematográfico). Toy Story ou Finding Nemo, para citar apenas dois exemplos, são filmes inesquecíveis. Não apenas pela assombrosa técnica de animação desenvolvida pelos criativos da Pixar mas, sobretudo, pelos argumentos e pelas personagens que inventam.

Confesso que quando vi as primeiras imagens deste Cars fiquei céptico. Um filme cujas personagens são carros... pareceu-me uma grande treta. No entanto acabei por conceder o benefício da dúvida à Pixar. Afinal de contas nunca me tinham deixado desiludido e a curiosidade acabou por vencer o cepticismo.

Lá convenci (com extrema facilidade, reconheço) a minha filha a ir ao cinema.
Fomos ver a versão dobrada em português, o que vai um pouco contra os princípios familiares, mas o risco de perdermos o filme numa sala de cinema levou-nos a avançar corajosamente. Além disso temos ainda bem presente a inultrapassável performance de Rita Blanco em Finding Nemo (À Procura de Nemo, para ser mais exacto) a melhor dobragem jamais feita em português e dificilmente destronável.

Cars acabou por ultrapassar as expectativas. Eu já devia saber que da Pixar só podemos esperar espectáculo e divertimento em doses generosas e que a mestria das suas equipas é simplesmente genial seja em que aspecto fôr.
Depois disto posso garantir que nunca mais duvidarei de produtos PIxar por muitos (ou poucos) anos que viva e assistirei no cinema a todos os seus filmes (o próximo Ratatouille promete novos feitos supreendentes). Quem consegue humanizar daquela forma os Carros deste filme, consegue o que quer que seja em cinema de animação.

A não perder, dê lá por onde der.

Já agora uma visitinha ao site da Pixar não fará mal a ninguém, bem antes pelo contrário!
http://www.pixar.com/theater/trailers/rat/index.html

sexta-feira, agosto 04, 2006

Isto aqui não é uma pintura!


Pois não. Sendo uma imagem virtual de uma foto tirada a uma pintura, nunca poderia sê-lo. O homenzinho do chapéu de côco, vestido de preto, encasacado, é um ícone. Não se percebe bem de quê. Tanto pode ser um corrector da bolsa como um gato-pingado. Aquela indumentária é algo misteriosa.
Este aqui, cá para mim, é a morte. Versão burocrata.
A morte tipo cobrador de impostos que não deixa ninguém escapar, que vai cobrar tudo até ao mais ínfimo cêntimozinho. Os olhos dele são duas fendas pretas. Acho que não tem olhos.
Seja lá o que for, uma pintura não é de certeza.
As coisas nem sempre são o que parecem. Eu diria mesmo que nunca são o que parecem, mas isso iria parecer exagerado e a ideia perderia impacto. Convém ir de largo, dar a sensação ao outro que está a participar da construção da ideia, manipulá-lo.
Há pessoas para quem isso é fácil. Tão fácil que até parecem estar sempre a ser sinceras e amigas, incapazes de atraiçoar um passarinho.
O que irá lá debaixo, no interior da cúpula do chapéu de côco? Quem irá pagar a dívida?

quinta-feira, agosto 03, 2006

Flutuante



Não tenho a certeza. Tenho demasiadas dúvidas. Talvez sejam dúvidas suficientes. Admito mesmo mesmo que haja quem se afogue nelas. Ainda consigo flutuar, enfiado num raciocínio colorido que é a minha bóia.

Os que têm certezas gozam com a minha bóia. Esses nadam. Melhor, esses navegam um cruzador de certezas, um porta-aviões de segurança blindado em opiniões que não constroem, antes surgem por geração espontânea, brilhantes, vindas de trás do sol-posto.

Eu arrisco-me a ir ao fundo, pois a bóia das minhas dúvidas não dá garantias de grande sucesso. Numa perspectiva darwinista os capitães do porta-aviões da verdade e da certeza têm muito mais possibilidades de sobrevivência. Olhando os cascos brilhantes destas naves maravilhosas sinto mais receio que respeito mas reconheço que do lado de lá das montanhas virão outros como estes, montados em mísseis voadores, carregados com ogivas de outras verdades e outras certezas.

Estou no meio de um combate que me ultrapassa e tende a aniquilar-me. A mim e a outros como eu, agarrados às nossas dúvidas. Estaremos a viver o declínio de um Império? Será esta guerra o princípio do fim? Quanto tempo dura o fim de um Império?

quarta-feira, agosto 02, 2006

Uma Pequena História do Mundo

A edição portuguesa é da Tinta da China e pode adquirir-se por 25€ numa loja FNAC. A escrita clara e escorreita de Gombrich proporciona uma experiência de leitura, no mínimo, curiosa.

Escrito em 1935, este livro mostra como se pode falar de História a um público jovem de uma forma interessante e viva. Após a sua leitura fica-se a pensar porque hão-de as nossas criancinhas ter de aturar manuais de História que são uma valente seca, pretensiosos e cheios de "actividades" com a informação servida às colherzinhas, como se fosse um xarope intragável. Além do mais só um manual para o 7º ano de escolaridade é mais dispendioso do que "toda" a História contada por Gombrich.

É claro que este livro não tem imagens coloridas, nem quadros cronológicos, nem nada dessas coisas que fazem a glória dos manuais escolares. Essa parte deveria ser incumbência do mestre. Uns acetatos ou um computador portátil permitem pequenas maravilhas de comunicação visual.

Enfim, penso que seria uma medida inteligente substituir os manuais de História no ensino básico por esta Uma Pequena História do Mundo. Ficaríamos a ganhar sob o ponto de vista monetário por ser mais económico, sob o ponto de vista pedagógico por ser mais eficaz na exposição dos temas históricos, sob o ponto de vista ecológico pelo que se poupava em papel e tinta e, finalmente, sob o ponto de vista da formação individual dos putos.

Caramba, este Gombrich merece que não o esqueçamos nunca!