terça-feira, agosto 29, 2006

Peacemakers

Peacemakers; RSXXI, acrílico e tinta-da-china sobre papel, 2005
Anda Kofi Annan a esfalfar-se lá pelas bandas do Líbano a tentar deitar água numa fervura que derrete o tacho antes de evaporar o líquido. Bem pode o Secretário Geral da ONU mostrar cara triste e botar discurso constrangido que, para aqueles lados, ninguém se compadece das suas aparentes óptimas intenções.

E porque parecem todos estes tipos apostados em matar, destruir, trucidar e arriscar a existência de populações inteiras quando atiram sobre o vizinho todo o tipo de merdas que têm à mão? Estarão malucos ou somos nós que nunca conseguiremos entender nem um átomo daquilo que lhes apoquenta as meninges?

Há quem fale em choque de civilizações, outros apostam nas questões religiosas, ninguém parece capaz de diagnosticar com rigor a natureza do pântano em que se afunda a humanidade por aquelas latitudes. Os tipos parecem feitos de outro material, diferente do nosso. No entanto quando os vemos estendidos e desfeitos numa papa de ossos e sangue da mesma côr percebemos que não será tanto assim.

Os promotores da paz fazem figura de estilo e ninguém parece levá-los muito a sério. Vão lá choramingar porque é suposto que o façam, vão lá prometer milhões para a reconstrução porque o negócio não conhece desgraças e saem a suar debaixo da camisa perfeita e da gravata impecável pensando mas é no conforto do lar, lá longe, mais do lado de cá, que é onde se está bem.
Quanto vale uma paz em equilíbrio na ponta de uma espingarda? O que se pode prometer a um guerrilheiro que desde a mais tenra infância nunca foi capaz de imaginar outro sentido para a sua vida que não fosse o de rebentar consigo próprio e quantos "inimigos" pudesse para entrar no Paraíso e ser recebido por uma catrefada de virgens? (Já agora, o que poderão imaginar os púdicos muhllas que os heróis santos sonham fazer às ditas virgens?)
Perguntas, perguntas, perguntas. Respostas zero. Mortes violentas às mão-cheias.

Por estas bandas aproveita-se para apertar nas designadas "medidas de segurança" com a nobre finalidade de garantir o bem estar das populações autóctones e fazer as delícias dos pastores que apascentam o rebanho que nós somos. Não consigo evitar flashes do "1984" de Orwell. Um mundo sempre em guerra, com a guerra lá longe numa fronteira invisível e as suas "horas do ódio" que são os nossos telejornais e o Big Brother que nos observa a cada canto e a todo o passo. Um Big Brother que nos descalça nos aeroportos e nos enfia critérios de avaliação duvidosos olhos adentro e cérebro abaixo. Que nos põe a vigiar a galinha da vizinha com o mesmo zelo que desconfiamos de nós próprios e duvidamos da justeza de pensarmos pelas nossas cabeças. Afinal de contas quem não gosta de Bush é anti-americano e ser anti-americano é um novo pecado mortal que nos empurra até à beira do precipício sobre as chamas do inferno. Vivemos no limiar do bondoso esplendor de um estado policial à escala dos nossos medos mais profundos.

Ainda veremos o dia em que Bush vai ser canonizado e prantado nos lugares mais elevados dos altares da religião Neoconservadora por esse mundo fora? São George Bush, santo padroeiro dos filhos da puta e dos intelectuais que engoliram um pau-de-vassoura? Nós talvez não, mas os nossos netos... é que o tempo é o verdadeiro responsável pela fabricação da santidade.
Abrenúncio!

Sem comentários: