quarta-feira, março 05, 2025

Imprecação matinal

     Havia de chegar um comboio caído do céu que atropelasse aquela cambada de filhos-de-uma-grande-puta que os pariu! Havia de existir um deus verdadeiro, um deus justo que existisse mesmo e lhes atirasse para cima uma doença, uma sarna peganhenta que lhes pusesse o corpo todo numa chaga e os obrigasse a andar pelos cantos a coçarem-se como cães sujos, Titanics de pulgas e carraças, o corpo todo aberto num sanguinolento sofrimento, que é o que eles merecem, grandes cabrões, vigaristas das dúzias! Havia de rebelar-se a Natureza e provocar-lhes mutações que mostrassem ao mundo o verdadeiro aspecto daqueles animais esbaforidos, daquelas bestas hediondas que trazem escondidas dentro: os focinhos, as dentuças, a baba malcheirosa a escorrer-lhes desde as beiças até transformar o chão que pisam em lama e pasto de minhocas.

    Mas não, nada. Continuam vestidinhos nos seus fatinhos caros e gravatinhas de uma cor, penteadinhos (imagino que também perfumadinhos), como se nada de especial se passasse, como se estivessem apenas a cumprir a vontade de deus, do deus deles, um deus mesquinho e pastoso, uma coisa amorfa, pesadona e incómoda que ou se venera ou se é por ele devorado.

domingo, março 02, 2025

Coro dos Cidadãos

 

Curvo a espinha

que a culpa é minha,

limpo do chão

a merda do cão.

 

Subo a avenida

no autocarro

e pago-te a conta

com um escarro.

 

Já não há um comunista

a zelar em cada esquina,

ele é mais muito turista

subindo a pé rua acima.

 

Oh, operário, foste esquecido,

ressoa a sirene no teu ouvido.

 

Oh, operário, foste esquecido,

ressoa a sirene no teu ouvido.

 

Oh, operário, foste esquecido,

ressoa a sirene no teu ouvido.

 (decrescendo de volume até ao silêncio)

sábado, março 01, 2025

O Tempo das Bestas

 
Besta Doméstica

Os Bichos, desenho nº5, Janeiro 2024

    Não se fala de outra coisa: Trump, Vance e Rubio a rodearem Zelensky na Casa Branca e a darem-lhe um enxerto de porrada verbal. O pequenote ucraniano a esbracejar, respondão, mas os rufias, muito maiores e bem mais gordos, mais desbocados, sem pingo de empatia ou de boa educação, não se apiedaram e a coisa foi penosa de assistir.
 
    É a nova Ordem Mundial, a ordem dos labregos maldosos e ressabiados. É o Tempo das  Bestas. E não temos quem nos defenda, estamos entregues aos bichos.

 

terça-feira, fevereiro 25, 2025

Um casal

     Um ser com aspecto de estar vivo repuxava a fenda que lhe abria a pele abaixo do nariz, fazia qualquer coisa semelhante a um sorriso. Trazia um chapéu alto, uma cartola, e um casaco comprido com gola de pele, ao pescoço a memória de uma morte e sequente esfolamento, violências necessárias à satisfação de algum obscuro anseio daquele ser inquietante, com aspecto de estar vivo.

    Do lado esquerdo uma senhora muito elegante num vestido esverdeado e fechado em folhos até ao queixo poderoso como o de um pugilista. Um complexo chapéu, sedas, flores e fingimento, dava a sensação de poder acasalar com a cartola daquele ser, agora parecia estar morto, que a seu lado se mantinha especado como cruz de pau em chão de pedra. A senhora era tão feia como a coisa mais feia que sejas capaz de imaginar. Sorria.

    Mais estranhos seres compunham o ramalhete de personagens que me ocupavam o horizonte imediato mas aquele casal (seriam um casal?) prendeu-me o olhar de tal modo que senti um leve rubor a atravessar-me a face quando o olhar da senhora com o meu se cruzou. Inclinei levemente a cabeça enquanto assentava o peso do meu corpo no calcanhar esquerdo. Rodei sobre mim próprio e saí dali em passada militar tentando não mostrar a inquietação que me atordoava por completo.

    Lá fui. 

(a partir da observação de uma reprodução truncada de A Intriga, pintura de James Ensor datada de 1890)

quinta-feira, fevereiro 20, 2025

Sonhos

    Acabo de me aperceber que os sonhos não morrem, apenas deixam de ser sonhados. Mesmo que abandonados os sonhos lá permanecem, no espaço mágico onde eternamente se desenrolam, independentes daqueles que primeiro os sonharam.

    Há sonhos que são exclusivos do sonhador e outros que são sonhados por mais gente. Uns e outros feitos da mesma substância, prontos a entrar rompendo nossas noites sem aviso. Sonhos furiosos, sonhos lânguidos, fracos ou fortes sonhos, todos podem vir a ser nossos, assim aconteça que nos cruzemos nas imensidões do acaso que é a Existência.

    Os sonhos não morrem, esmorecem se deixados de sonhar. Mas não desaparecem! Os sonhos não se esfumam, pairam eternamente, esperando. Como animais esfomeados, esperam voltar a ser sonhados.

quarta-feira, fevereiro 19, 2025

Memória rafada

     Gaivotas trotam sobre o lajeado, uns tipos das piscinas limpam a superfície da água com uma rede pequenina, azul, tão pequenina que mal daria para pescar um casal de sardinhas.

    O céu descido sobre a praça, o frio a fazer-se sentir, não me apetecia muito ir por aí além.

    Imagino ser o passado presente para melhor acomodar as ideias nos tempos verbais de modo a que talvez possa fazer, quando escrito, mais sentido do que vai fazendo na minha cabeça enquanto escrevo.

terça-feira, fevereiro 18, 2025

A Paz como Comédia

 Descia a avenida depois de umas horas na Biblioteca onde começara por ler e consultar as notas de A Paz de Aristófanes (diverti-me muito com o diálogo dos escravos que alimentam de merda o escaravelho que servirá de montada a Trigeu) e, já de saída, passei os olhos pelos primeiros versos de A Divina Comédia na tradução de Vasco Graça Moura.

Dizia eu que descia a avenida depois destas indolentes leituras quando fui assaltado pelas palavras que a seguir transcrevo:

A vida de cada um não passa de intervalo 
durante o qual o corpo de alma é disfarçado. 

Parei no passeio e registei a coisa no caderno que trazia no bolso esquerdo do casaco.

domingo, fevereiro 16, 2025

Quem é Deus?

    Três mulheres calçadas com sapatos rasos e saiões caídos até aos tornozelos erguem-se com se um muro fossem, plantado em plena calçada portuguesa. Plantadas estão defronte à ampla entrada do interface do Cais do Sodré, entrada que nos engole a todos. As três mulheres, mais hirtas que firmes, são solenes sentinelas de um palácio celestial invisível.

    Completa-as um escaparate móvel com folhetos e revistas piedosas que no topo anuncia uma pergunta: "Quem é Deus?"... quem é Deus? A sério? Que merda de pergunta é aquela? Serão aqueles três saiotes capazes de me dar uma resposta? Sinto a tentação de me abeirar e pedir-lhes que me digam quem é Deus.

    Acabo por ser como todos os outros e passar em silêncio desdenhoso deixando-me engolir pela entrada até ser cuspido e escarrado do lado de lá, em direcção ao cais, em direcção ao barco.

quarta-feira, fevereiro 12, 2025

Eis São Cagão

A forma alucinada como Trump se vê a si próprio e é nisso secundado pela sua corte de pategos é, simplesmente, assustadora. Trump imagina-se um enviado de Deus mas qual é o seu desígnio? Fazer a América grande outra vez? Isso não cheira demasiado à merduncha do tenebroso Deus israelita e à patacoada do Povo Escolhido? 

Quando alguém fala com Deus e conhece o Seu plano está o caldo entornado. Entorna-se o caldo para os que não acreditam nessa treta tanto quanto se entorna para os que nela embarcam. Entra-se numa dimensão paralela, tipo Stranger Things, onde as regras Humanistas se distorcem até serem o seu oposto absoluto. Deus devora tudo, inimigos e devotos, porque ser Deus é ser um monstro.

O Deus destes gajos só ama aqueles que o amam, da mesma forma que um criador de gado ama as suas vacas. É uma personagem perversa, prepotente e vingativa, daí Trump imaginar haver uma ligação especial entre ambos; figuras de opereta.

Vaidoso e estúpido, o presidente norte americano ostenta óbvios sinais de demência. O olhar dele está cada vez mais alucinado, a expressão facial é dura, talhada à machadada até se transformar num focinho. As mãozinhas, a boquinha, o discurso melífluo carregado de veneno, o ódio que lhe escorre das beiças, Trump imagina-se santo.

É o São Cagão.

segunda-feira, fevereiro 10, 2025

Tempos difíceis

Passei a vida toda a tentar ser um gajo fixe. Muitas vezes tive dificuldade em limitar os meus apetites ou contrariar paixões egoístas. Muitas vezes falhei e contribuí para a infelicidade de outras pessoas, fui cabrãozote. Com o passar do tempo consegui ir limando certas arestas da minha personalidade. Não sendo santo pelo menos não sou filho-da-puta. Mas agora começo a pensar se conseguirei manter este "low profile" por muito mais tempo.

Olho para a transformação do modo de estar do cidadão do chamado Mundo Ocidental. A ascensão dos monstros nazis e fascistas fazem-me duvidar da minha postura. Terei necessidade de trabalhar o meu ser no sentido inverso do que tenho vindo a fazer? Temo bem que sim. A guerra aproxima-se,

sexta-feira, fevereiro 07, 2025

Coro dos Desalojados

 

Coro dos Desalojados

A luta continua,

vamos todos para a lua;

para a lua vamos todos

empurrados com bons modos.

 

Uns dias amam-nos muito

outros dias nem por isso;

tudo depende do guito,

guito paga compromisso.

 

Nas ruas desta cidade

já nem os pardais têm asas

e são os filhos da puta

quem nos fica com as casas.

 

Quem manda é gente de bem,

gente suja e perfumada,

uns grandes filhos da mãe

que nos pagam com porrada.

 

Hoje não tenho casa,

não tenho sequer barraca,

trago uns filhos na escola

outros a pedir esmola.

 

A luta continua,

vamos todos para a lua;

para a lua vamos todos

empurrados com bons modos.

 

 

sexta-feira, janeiro 24, 2025

O Jardim das Notícias

 

Em A Traição das Imagens, Magritte explicou com clareza a distância que vai de um cachimbo a uma coisa pintada. As coisas não deviam confundir-se com a sua representação. Ficámos avisados. Picasso terá dito que o desenho “é uma grande mentira que nos ajuda a compreender melhor a verdade” mas, terá acrescentado, na medida em que formos capazes de a compreender. Ficámos a pensar.

Construir uma visão do mundo em que vivemos depende muito da perspectiva a partir da qual tentamos a sua construção. Seja uma visão mais poética ou mais técnica, mais humana ou artificialmente inteligente, a recolha de informação é essencial para que a coisa possa acontecer. Fica a sensação de que a Verdade é um absoluto inalcançável que faz de nós e do ChatGPT amargas anedotas de gosto duvidoso. Na impossibilidade de sucesso vamos semeando o planeta com as nossas tentativas de o compreender, registar e retratar.

Sabemos que o mundo está povoado de monstruosidades ameaçadoras mas temos dificuldade em evitá-las. Chegamos a deixar-nos seduzir pela sua abjecta lengalenga e, como o Flautista levando crianças e ratazanas em direcção ao precipício, arrebanhados marchamos atrás das bestas com o vazio por destino. 

Vindos de Oeste, divisam-se no horizonte os cavaleiros do Apocalipse Chunga. Vêm montados em artefactos tecnológicos, agitam riquezas que seguram nas mãozinhas pequeninas e nas dentuças muito brancas, escorrendo babugem raivosa pelos cantos das fendas que lhes servem de bocas. A Nordeste um aprendiz de feiticeiro imagina-se imortal e tenta afastar a morte bebendo o sangue de povos inteiros. Lá para as bandas do Oriente alinham-se divindades ameaçadores que comandam exércitos de seres muito puros e despidos de pecado. E nós, demónios outrora poderosos, agora velhos e exauridos, aguardamos resignadamente o embate. A guerra não corre de feição mas estamos muito longe de termos sido derrotados.

quarta-feira, janeiro 22, 2025

Súbita interrupção

     Agrada-te o silêncio, a solidão não te incomoda. As coisas quietas e estáveis mantêm-se equilibradas dentro do teu espírito. Sentes-te em paz. A única brusquidão é a das ideias, capazes de saltar e vaguear como cabras numa escarpa pedregosa, a escarpa da tua imaginação. Olhas para baixo, não lhe vês o fundo. Não há limite nem medida seja qual for a direcção do teu olhar.

    Não há mais ninguém na sala. 30 cadeiras vazias, ruídos esparsos vindos de divisões contíguas. Uma ou outra voz disfarçada de eco ressalta nas paredes do corredor. Alguém passa junto à porta. Há um lado de lá, momentaneamente separado de ti, um lado de lá do qual certamente nunca farás parte embora te mistures com ele todos os dias em doses homeopáticas.

    Agrada-te a solidão, não te incomoda o silêncio. A fórmula admite ainda algumas variações mas deixas as coisas como estão neste momento.

terça-feira, janeiro 21, 2025

Uma certeza (quase) absoluta

     O aspirador fazendo o seu trabalho substitui o som áspero que ouvias no Spotify; Jack White e a sua guitarra tão eléctrica. Procuras as ideias que se escondem de cada vez que voltas a cabeça da alma. São esquivas, as filhas-da-puta. Já se te mostraram claramente, à luz do que quer que seja que te ilumina o interior, lá, onde a tua vida paralela se desenrola dia após dia. Contas de outro rosário.

    Lá dentro costuma estar tudo silencioso. Não há aspiradores nem automóveis nem aviões a grunhir ao longe nas alturas. Lá dentro só tu és próximo de qualquer coisa que possas relacionar directamente com a realidade. Tudo o mais são ideias, sensações, coisas ainda não nomeadas. Assim, como aquelas ideias que ainda agora sentiste a deslizar lá ao fundo, sob o que poderia corresponder à entrada de uma gruta, à soleira de uma porta, lugar sombrio capaz de esconder tudo o que possa e o que não possa ser escondido. Ali a sombra é como tinta da China.

    O aspirador continua a trabalhar e tu desistes. Melhor, tu adias a busca das ideias furtivas, pequenos diabretes malvados. A ocasião há-de oferecer-se e tu vais deitar-lhes a mão. Tão certinho como seres quem és!

sábado, janeiro 18, 2025

Paternalismo

     "Cada cabeça, sua sentença", "o mundo de cada um é os olhos que tem", "quem o feio ama, bonito lhe parece", "rebéubéu, pardais ao ninho". A ideia de que cabe a cada um de nós confrontar-se com o mundo utilizando as armas de que dispõe na luta diária pela sobrevivência parece-nos incontroversa. 

    O que será controverso é a ideia de que "cada um é como cada qual" e fica tudo dito, nada a fazer, "sou assim mesmo" e está resolvido. Errado. Acredito piamente que "só os burros não mudam de opinião". Seres assim não significa que vais morrer tal qual és agora. 

    O mundo muda, o teu corpo altera-se, os olhos perdem fulgor, o bonito pode transformar-se em algo feio ou vice-versa. Tu bem desejas que as coisas se passam como imaginas e continuem assim até à extinção do Sol; fechas a cabecinha. Lá dentro está tudo arrumadinho em prateleiras perfeitamente alinhadas e todos os dias limpas o pó de modo a que a luz não surpreenda um grãozinho que seja poisado onde não deve.

    Vivemos num mundo atulhado de estímulos, saturado de estímulos, soterrado em estímulos mas não é isso que o torna estimulante. Tens alguma responsabilidade nisso, na descoberta dos estímulos capazes de transformar a tua experiência de vida em algo mais... estimulante? "É como procurar uma agulha num palheiro", dizes tu. Eu sei. Mas, toma atenção, a propaganda tenta substituir-te nessa tarefa. Não deixes que isso aconteça, não te satisfaças com coisas oferecidas. Luta por ti, abre o teu espaço, sente-te.

quarta-feira, janeiro 15, 2025

Apocalipse Chunga

     É estranho. Os cidadãos do chamado Mundo Ocidental parecem viver num acentuado estado de zombificação. O modo como vêm aceitando e escolhendo líderes medíocres (sendo benevolente na avaliação e contido na escolha da palavra) deixa-me estupefacto. O nivelamento do pensamento pelo zero é uma opção inesperada. Será isto resultado da massificação absoluta da informação?

    Talvez a tendência tenha sido sempre esta, talvez que Musks, Trumps, Zuckerbergs e outras merdas do género tenham estado sempre no subconsciente das massas, adormecidos, à espera que os piores receios de Deus pudessem enfim encarnar, iniciando a sua caminhada sobre a Terra. Eles aí estão.

    São os Cavaleiros do Apocalipse Chunga, com eles assistimos ao início da derradeira etapa desta civilização em direcção ao Abismo. O que aconteceu a grandes civilizações do passado? Como desapareceram da face da Terra quase sem deixar rasto? Tiveram também os seus Musks e Trumps e Putins a conduzi-las como o Flautista levando ratazanas e crianças em direcção ao precipício? Imagino que assim tenha sido.

segunda-feira, janeiro 13, 2025

Ser como a lesma

     Tenho uma ideia nova. Esqueço-a. Não sei bem se a perdi pois que dela guardo apenas uma vaga recordação. Vá-se lá saber! Talvez não tenha perdido grande coisa. Na verdade nem sei bem se não terei ganho algo. Por vezes tenho ideias que me parecem muito boas e, mais tarde, envergonho-me, não sei se de as ter tido se de as ter imaginado como algo que fizesse sentido. É assim que na minha cabeça se define mais ou menos o conceito de embaraço. Perdi uma ideia, não sei se estou embaraçado ou haveria de vir a está-lo. Assim fiquei. Tudo na mesma. Como a lesma.

sábado, janeiro 11, 2025

Fartura

     Suportar o tédio é um exercício complexo. No início podes até sorrir, menear a cabeça com leveza, tamborilar com os dedos o tampo da mesinha mas, à medida que o tempo vai passando, a bonomia transforma-se em aborrecimento doloroso, não tarda vai já em  modo de agressividade eléctrica. E assomam aos teus lábios palavras proibidas.

    Mas que porra!? Esta gente não se enxerga? Terão consciência das enormidades que arrastam atrás das ideias que tentam expor? Procuram manter os pezinhos bem assentes no vazio que os sustenta mas sente-se-lhes a insegurança como se pisassem sala atapetada a pão-de-ló. Na dúvida resolvem preencher o tempo com palavreado sem sentido. Que chatice!

    Estou farto disto.

quinta-feira, janeiro 09, 2025

Os porcos e as vacas

    Sangue, dor e sofrimento, eis a perfeita trilogia da essência da notícia. Notícia que é notícia não prescinde do tom apocalíptico transmitido em directo do local (o diferido também é aceitável mas perde algum impacto) com repórter enquadrado no palco (ou parte dele) onde a ocorrência acontece(u). 

    Guerras, desastres (naturais ou de outra índole), aberrações, conspirações, coisas extraordinariamente estapafúrdias que possam ser servidas em pequenas doses (3 minutos é longa-metragem), constituem a base do sistema informativo que engolimos como porcos e regurgitamos como vacas. Diariamente, 24 sobre 24 horas.

    

terça-feira, janeiro 07, 2025

Ser quadrado

     Vivemos uma vida inteira apontando o nariz a rectângulos de dimensões variadas. Portas, janelas, telas, ecrãs, folhas de papel e páginas de livros; os quatro lados do rectângulo enquadram a informação que recebemos.

    Será por isso que estamos a ficar tendencialmente quadrados individual e, sobretudo, colectivamente? Sim, o quadrado é, como sabes, um rectângulo particular por ter os lados todos iguais. Transformamo-nos naquilo que olhamos?