Ia ter que encontrar uma explicação para justificar a sua atitude. Não seria tarefa fácil. Além de uma história plausível iria ter de encontrar o tom de voz adequado, a pose, o olhar... nada poderia ser deixado ao acaso. O acaso nem sempre resolve as coisas como seria de esperar, muito menos as resolve da melhor maneira. Tem dias!
Por muito que puxasse pela cabeça não lhe ocorreu nenhuma ideia genial. Ali estava, sentado, transpirando como um cavalo. Contorcia os dedos das mãos com tanta força que, diz quem viu, parecia não ser capaz de os desembaraçar assim que pudesse sossegar um pouco. Tornar-se-ia um ser estranho, caso isso acontecesse, os dedos entrelaçados de tal maneira que não conseguisse separá-los nunca mais. No caso de tal desgraça sempre poderia tornar-se curiosidade numa feira de aberrações que algum jovem empresário pudesse, um dia, vir a criar. Uma vida inteira a tentar desfazer-se.
Não conseguiria pedir desculpas se primeiro não fosse capaz de as encontrar. Encontrar, até, as supostas culpas, eis algo que lhe estava a ser penoso. Sentia-se confuso, sentia-se perdido: "já nem sei bem o que sou..." rodopiou os olhos e continuou: "... sei perfeitamente quem sou, até consigo recordar o meu código postal, mas não faço a mínima ideia daquilo que sou." Fez uma pausa e concluiu: "Não tenho a certeza dos meus limites". Fosga-se!
Pensamentos deste calibre não contribuíram nada para a saúde mental do indivíduo.
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