Não sei se também te acontece, não sei se, por vezes, tens aquela incómoda sensação de que pouco mais és que o teu número de contribuinte (o célebre NIF), que a tua identidade é mais fiscal do que humana. Sabes bem que, mesmo depois de morto e enterrado, os que por cá ficarem e sejam ecos do que foste, vão continuar a debitar aquele número que te identifica, como se o tivesses tatuado na alma e ele continue por aí, a pairar como se fosse um fantasma, o que resta de ti.
Não sei se também te acontece tremer um bocadinho quando pensas que além do NIF tens o número da Segurança Social, o do Sistema de Saúde, o da Carta de Condução, o do telefone, o da porta de casa e do Código Postal... e o teu nome? A tua pessoa? Há alguém dentro de ti?
Não sei se também te acontece mas eu, tem dias que penso que sou uma ficção na cabeça de alguém que tem a paranóia dos números e por vezes sonho um pesadelo em que esse alguém muda de registo (transforma-se em poeta) e eu fico reduzido a quase nada. Ás vezes sonho este pesadelo em que não sou nada apesar de saber que sou alguém. E transpiro como se tivesse rios inteiros dentro das veias.
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