domingo, maio 28, 2023

Pequenas mentiras dominicais

     Tenho, por vezes, a sensação de que a presunção me poderia matar, tão forte a sinto no meu peito. Logo de seguida penso: "não é presunção tua mas do outro, tomas por presunção a tua percepção da mania de grandeza que emana daquele que discursa perante ti". Fico angustiado por não ser capaz de perceber o que realmente se passa comigo e com os outros, que relação posso estabelecer entre o que sinto, o que sei e o que acontece lá fora, ao redor do meu corpo.

    Mas afinal o que quero eu? Aspiro à santidade? Alguém consegue ser (absolutamente) imparcial na avaliação que faz de si próprio e do mundo circundante? Apercebo-me do modo como a ignorância me tem atrapalhado a existência, o modo como distorce, amplia e reduz as minhas ambições até esfrangalhar por completo a mais ténue possibilidade de percepção que possa ter de mim, do outro, do mundo.

    Poderá este texto assemelhar-se a um confuso lamento. Não creio que o seja. Faz-me lembrar vagamente os tempos em que ia à missa e, não tendo tomates para me confessar ao padre, aproveitava a homilia para imaginar conversas íntimas com Nosso Senhor. A coisa proporcionava-me momentos de imensa paz, dava-me conforto. Não é que tenha saudades desse tempo... talvez minta.

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