sexta-feira, fevereiro 04, 2022

Ocupação selvagem

     Hoje acordei com outra pessoa a habitar o meu corpo. O espaço revelou-se suficiente para os dois mas senti-me deveras incomodado. Tentei expulsar o meu novo locatário mas ele mostrou-se bem mais sólido do que esperava.Ficou. 

    Agora não tenho bem a certeza de que estas palavras sejam minhas ou de que o copo de água tenha matado a minha sede. Não tenho a certeza de nada; ainda menos certezas tenho do que antes de ter sido ocupado por uma personagem que não conheço, nem imagino quem seja.

    Não sei se me resigne, se me mate ou se deva procurar um psiquiatra ou um feiticeiro ou um bruxo ou um mestre africano, um doutor qualquer. Olhar o espelho não ajuda grande coisa. Entrar numa igreja e rezar também se revelou um estratagema pouco eficaz. Não sei o que mais possa fazer.

    Sinto-me como se estivesse na inauguração de uma exposição onde só conhecesse o artista que está demasiado ocupado para poder dar-me atenção. Só que, neste caso, ir embora não é possível. Apesar de tudo sempre posso ficar calado, encostado a um canto de mim próprio. E esperar.

2 comentários:

redonda disse...

E quem escreve, poderá ser o outro?

Silvares disse...

Não tinha pensado nisso mas, agora que falas nisso, percebo que sim, pode ser o outro o autor daquele texto... e deste?
:)