sexta-feira, julho 23, 2021

No fim do dia

Os mais ricos de entre os ricos encontraram uma nova forma de exibirem ao mundo a sua riqueza pornográfica, atiram-se para o alto em busca da ausência de gravidade. Há quem diga que estão a conquistar o espaço e mostram-nos aqueles seres vivos no interior de naves com formas estranhas, aos guinchos, divertidos como peixes-palhaço a boiarem num aquário. Mostram-nos aquilo como se fosse algo extraordinário, coisa digna de serviço noticioso. Não me parece que seja assim tão digno de nota.

Mas, justiça seja feita, no mesmo serviço noticioso podem mostrar-nos os mais pobres e miseráveis, sofrendo das mais variadas maneiras, pairando no vácuo da indigência absoluta. O espectáculo está nos extremos: o branco e o preto, o mau e o bom, o podre de rico e o miserável, o adorável e o desprezível. E nós, agarrados ao garfo e à faca, vamos comendo, comendo, comemos tudo, como bons meninos, cidadãos exemplares, satisfeitos porque, pelo menos, não passamos aquela fome de cão que vemos estampada nos olhares perplexos de crianças-esqueleto, espantadas por ser aquilo que Deus lhes reservou à guisa de vida.

A verdade é que, com maior ou menor dificuldade, no fim do dia acabamos todos a cagar aquilo que comemos.

1 comentário:

Luma Rosa disse...

Oi, Silvares!
Chega a ser pornográfica tamanha extravagância, mesmo que a desculpa seja sempre "salvar a humanidade". E a humanidade continua "evoluindo", na pobreza.
Beijus,