sábado, novembro 09, 2019

Eternidade

Tudo estava devidamente inerte. Era essa a ordem natural daquelas coisas que, imóveis, absorviam a luz, absorviam os sons, coisas que quase chegavam a respirar, como se estivessem vivas. Olhá-las era arriscar a sanidade. Ignorá-las era como perder a razão de viver. O que fazer, então?

Decidiu não fazer nada. Absolutamente nada. De olhos fechados avançou pela inóspita paisagem. Cada passo carregava um universo de possibilidades. Sabia que avançava (ou recuaria?) mas isso era apenas um detalhe sem a mínima importância.

À medida que caminhava, olhos fechados, coração apertado, apercebeu-se de uma estranha rigidez que lhe ia tolhendo os músculos, uma secura desconhecida na boca, quase sentia terror, mas porquê? Cada novo passo era mais pesado que o anterior, cada momento era mais longo, até que parou por completo, incapaz de avançar. Assim ficou.

A tentação foi mais forte que a razão, a voz que lhe impunha o fechamento das pálpebras hesitou por um momento e ele abriu-as revelando o extenso vale de areia azul. Também ele era, agora, uma daquelas coisas. Estático compreendeu que assim permaneceria até que o tempo lhe dissolvesse a vida.

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