Assistimos à
enésima arremetida ministerial contra as retenções no ensino básico. A redução
espectacular dos chumbos que se verificou desde que Brandão Rodrigues é
ministro não basta, queremos mais, queremos melhor! Enquanto houver uma
retenção que seja, descanso e auto-satisfação não serão opções.
Novos estudos
fornecem velhas conclusões: a retenção é selectiva, é precoce e cumulativa,
levando na enxurrada do insucesso os filhos de famílias mais pobres, menos
estruturadas e com menor capacidade de acesso a bens culturais. Haja esperança,
até ao final desta legislatura o salário mínimo aumentará para 750 euros.
Velhas
conclusões sugerem velhas soluções: acompanhamento individualizado, sistematização
de programas e currículos, envolvimento activo dos diferentes actores
educativos mas, sobretudo, apostar no empenho de professores e directores
escolares reforçando a sua autonomia. Desta vez é que é!
Nas salas de
aula continuarão a reunir-se turmas demasiado numerosas, os programas e
currículos serão, como sempre, extensíssimos e desajustados, a carga
burocrática do trabalho dos professores continuará kafkiana e com tendência a
contribuir para o enlouquecimento de uma classe profissional envelhecida e,
dizem, desmotivada.
Não
obstante, no final da legislatura os resultados serão animadores, verificar-se-á
que as taxas de retenção diminuíram, que o abandono escolar recuou e o ministro
poderá sorrir, confiante de ter realizado um bom trabalho.
No universo
dos números e das percentagens tudo está bem quando acaba bem. Verificar se a
luta contra a ignorância e a estupidez teve sucesso será algo mais difícil de
avaliar e não interessa a (quase) ninguém.
Carta enviada ao Director do jornal Público a 3 de Novembro de 2019
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