sábado, março 30, 2019

Dignidade republicana


Andamos todos a olhar para o dedo que nos aponta a lua. O problema dos laços familiares entre membros do actual governo será o da diminuição da capacidade de decisão independente e ponderada que um cargo governativo deveria implicar. 

Imagina-se o pai a dizer à filha: “faz assim”, e ela a fazer; o marido a dizer à mulher (afinal de contas vivemos numa sociedade patriarcal): “quero assim”, e ela a obedecer. Como já alguém sugeriu por aí, as coisas resolver-se-ão à mesa durante um jantar de família e isto não é maneira digna de se gerir a República! 

Pessoalmente, há muito que me incomoda a forma como funcionam os grupos parlamentares na Assembleia da República. Ali, apesar de não existir essa promiscuidade familiar, os deputados obedecem com grande naturalidade à direcção da bancada a que pertencem. Não é tanto a relação pai-filha ou marido-mulher que orienta as decisões, é mais um tipo de relação senhor-vassalo ou dono-escravo: "faz assim" e o deputado faz; "quero assado", e o deputado obedece. 

Se não obedece é penalizado, muitas das vezes, se insiste em ter opinião diversa, é simplesmente corrido. 

Neste universo as coisas resolver-se-ão durante um jantar entre líderes. Os deputados menores sentam-se em redor de outra mesa, como se faz com os putos nos tais jantares de família. Esta sim, é a forma digna de se gerir a República. 

A quem poderá interessar que o poder seja entregue a pessoas que pensem pela sua própria cabeça, pessoas que tenham sido eleitas pelo povo de acordo com o credo democrático?

Carta enviada ao director do Público

2 comentários:

João Menéres disse...

Votámos em carneiros ?

Silvares disse...

Temo que assim seja. Talvez possamos pensar no assunto...