quarta-feira, abril 03, 2013

Tabelas, escalas e outras patranhas

Acabo de tentar explicar a um grupo de alunos a ideia de que os objectos não possuem um valor próprio. Uma mala não vale, "na realidade" 25 euros, é um valor que lhe é atribuído. A partir daí poderemos estabelecer uma escala de valores diferentes para diferentes tipos de malas, mas isso não faz com o preço seja uma qualidade do objecto.

Esta complexa teia de reflexões surgiu, como sempre acontece, a propósito do valor de mercado das obras da arte. Quem os estabelece, quais os critérios, porque-é-que-o-Picasso-faz-aquelas-coisas-e-valem-tanto-dinheiro-e-eu... e tu, nada, porque tu não és ninguém embora saibas que isso é mentira.

Após quatro horas nisto, com dois grupos diferentes de adolescentes, estou mais cansado do que se tivesse feito o Santuário de Fátima de gatas e a lamber o chão. Tenho a boca seca e sinto alguma frustração.

Com o 1º grupo penso que fui capaz de estabelecer um clima de debate interessante e teremos chegado a algumas conclusões bastante razoáveis. Já com o 2º a coisa não terá resultado tão bem. Tentei repetir a aula que, na minha óptica, tão bons resultados me havia proporcionado, esquecendo uma verdade verdadeira de tão indesmentível: uma aula é um acto de criatividade. Repetir fórmulas está longe de ser garantia de sucesso.

Cansei-me mais e consegui menos. Ou, pelo menos, é essa a minha impressão. E se, na verdade da realidade, a 2ª aula até foi mais eficaz do que a 1ª? Quem estabelece o valor de uma aula? Qual a escala a partir da qual podemos comparar resultados? Como posso eu tirar conclusões? Fazendo um teste? Estou em crer que, nesta situação, não chegaria a grandes conclusões com um teste. Para poder compreender o alcance das reflexões que fizemos será necessário viver a vida, deixar o tempo correr.

É para viver a vida que serve a educação artística. Na próxima aula vamos recortar, colar e desenhar, o resto... o resto é conversa.

4 comentários:

Anónimo disse...

E sobre conversa eu não comento. srsr

Li Ferreira Nhan disse...

Rui,
sorte, muita sorte dos teus alunos!
Quer saber? Tiro o meu chapéu pra você Professor!
Beijos!



(Também fui professora de Educação Artística)

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Silvares disse...

Eduardo, estas conversas deixam-me à beira do esgotamento. Mas sabem bem.

Li, cara colega, grato pelas palavras de incentivo.