Os recentes motins populares em Moçambique motivados pelos aumentos de preços de bens essenciais deixaram-me a pensar em coisas feias que, de vez em quando, me assaltam o espírito. Por aqui, alguns meios de comunicação social, referem-se a esses motins como "A Revolta do Pão".
A resposta das forças policiais foi violenta, resultando um número de mortos e feridos difícil de quantificar (10 mortos, 13 mortos, quantos mortos?). Foram disparadas balas reais e de borracha contra os manifestantes, entre os quais se contavam muitas crianças. Esta situação é uma imagem cruel de desespero.
Desespero dos que se manifestam e desespero dos que matam. É como se a sociedade estivesse ferida, rasgada por um golpe tremendo, uma chaga aberta, impossível de cicatrizar. A chaga que resulta do abismo entre pobres e ricos.
Quando a miséria ganha contornos de ser insuportável os pobres deitam-se à rua em protesto. Mas há uma normalidade social que não se compadece por aí além com a sua pobreza e que é necessário manter. Vai daí, lançam-se sobre os pobres as forças de segurança que varrem das ruas aquela miséria em forma humana. Mas que segurança defendem essas forças policiais? A segurança de quem ou de quê?
Também o tecido social português tem feridas sanguinolentas que não cicatrizam e não param de deitar pus e que cheiram mal. Mas os miseráveis vão sendo mantidos numa situação controlada. Enquanto não forem uma maioria terão dificuldades em provocar distúrbios como os que se verificaram em Moçambique.
Há em Portugal situações de desigualdade e de impunidade dos poderosos que são inaceitáveis num estado democrático mas, doa a quem doer, a Democracia parece ser assim mesmo. Há uma Democracia ideal, que nos ensinam na escola, e uma Democracia real que não se parece nada com a ideal, a caricatura de Democracia que vivemos no nosso quotidiano.
A resposta das forças policiais foi violenta, resultando um número de mortos e feridos difícil de quantificar (10 mortos, 13 mortos, quantos mortos?). Foram disparadas balas reais e de borracha contra os manifestantes, entre os quais se contavam muitas crianças. Esta situação é uma imagem cruel de desespero.
Desespero dos que se manifestam e desespero dos que matam. É como se a sociedade estivesse ferida, rasgada por um golpe tremendo, uma chaga aberta, impossível de cicatrizar. A chaga que resulta do abismo entre pobres e ricos.
Quando a miséria ganha contornos de ser insuportável os pobres deitam-se à rua em protesto. Mas há uma normalidade social que não se compadece por aí além com a sua pobreza e que é necessário manter. Vai daí, lançam-se sobre os pobres as forças de segurança que varrem das ruas aquela miséria em forma humana. Mas que segurança defendem essas forças policiais? A segurança de quem ou de quê?
Também o tecido social português tem feridas sanguinolentas que não cicatrizam e não param de deitar pus e que cheiram mal. Mas os miseráveis vão sendo mantidos numa situação controlada. Enquanto não forem uma maioria terão dificuldades em provocar distúrbios como os que se verificaram em Moçambique.
Há em Portugal situações de desigualdade e de impunidade dos poderosos que são inaceitáveis num estado democrático mas, doa a quem doer, a Democracia parece ser assim mesmo. Há uma Democracia ideal, que nos ensinam na escola, e uma Democracia real que não se parece nada com a ideal, a caricatura de Democracia que vivemos no nosso quotidiano.
O caso de Moçambique mostra como o poder central eleito democraticamente, quando é incapaz de promover a coesão social, se socorre das forças policiais para meter as coisas na ordem. É assim em Moçambique e é assim em qualquer parte do mundo. Vivemos naquilo que poderíamos chamar de Democracias Policiais, onde a polícia está sempre do lado dos socialmente mais fortes.
A injustiça social é um dos traços mais evidentes deste nosso modo de vida. Do lado de cá, do lado onde vivo, não faltam bens de consumo nem capacidade deles usufruir. Enquanto andarmos direitinhos sabemos que a Força nos protege. E do lado de lá?
Fico a pensar: quanto tempo vai durar este equilíbrio precário? Enquanto continuarmos a gerar hordas de miseráveis e de excluídos estamos a pôr em risco a paz social. Cada vez mais. Poderá algum dia existir uma distribuição de riqueza tal que nos permita dizer que vivemos numa democracia como aquela que gostamos de imaginar? E, se esse tempo nunca chegar, irá explodir uma bomba atómica social que derrube este arranha-céus democrático com fundações de barraca precária?
6 comentários:
Essa imagem, que usei a semana passada, num dos meus blogs ( ? ), é de uma força que não poderia haver outra, para ilustrar este seu texto!
Uma grande foto!!!
Por vezes acho que, venha ela porra. Depois logo se vê...
Rui,
vou comentar aqui, apesar de não se referir ao post, mas foi aqui que me convenceu a ler e conhecer o Ian Mac Ewan. Acabo de ler NA PRAIA, um dos três únicos editados no Brasil.
Realmente um baita escritor! O assunto por ele tratado, confesso não me atrair muito, mas é inegavel que cada frase, cada parágrafo, cada página é melhor construida que as outras! Um grande escritor!
Agradeço a dica! Sempre que voltar a le-lo, lembrarei de você!
Exelente texto e foto. É amigo, realmente ja não é surpresa pra mais ninguém dizer que a democracia tal qual conhecemos não está funcionando. O jeito é torcer para que os preocessos sociais desencadeados por essa democracia indesejada traga uma outra democracia. Mas fica apergunta, a re-organização da Democracia pode resolver alguma coisa. A mim parece que este modelo de governo é tão ruim quanto os passados. Talvez a Democracia para funcionar tenha que se tornar outra coisa.
Blog legal. Acompanharei
Abraços
Caçador, que venha...
Eduardo, um bom livro mas talvez Sábado seja a obra mais interessante de McEwan. Em Portugal estão editados 13 livros dele (se não estou em erro). Já li 8 e tenho outro à espera, na mesinha de cabeceira.
:-)
Colectiva-mente, concordo consigo, ou há uma evolução ou então o caminho da Democracia dá uma curva e volta para trás.
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